segunda-feira, 4 de julho de 2016

EU RECOMENDO // Aventuras de uma menina gulosa em SP

Jéssica Germano (*) 
Convidada especial do Gastronomix

São Paulo, por si só, é um convite a mil possibilidades. Na gastronomia, felizmente, o quadro parece se ampliar ainda mais, e as únicas barreiras são fazer caber em poucos dias um roteiro de multi temperos, aromas e sabores. Na minha última viagem, fiquei cinco deles na capital e só constatei uma teoria antiga: a boa mesa em São Paulo não tem fim. Graças a isso, sempre há motivos para voltar. Abaixo, um roteiro inesquecível à mesa:

COMEDORIA GONZALES
Localizado no cada vez mais badalado Mercado de Pinheiros, o box de Checho Gonzales é uma surpresa de sabores. Se conseguir, tente provar uma receita de cada categoria: saltenas, ceviches, assados e sobremesa (destaque para a três leches). Se for no dia certo, encontrará também ostras frescas. Provei as com vinagrete de melão e salame e até hoje me lembro da mescla incrível de sabores. Tanto o galeto quanto a costelinha suína fizeram sucesso na mesa de amigos. Não há como errar, especialmente se junto, vierem as batatas-inglesas ao alecrim. Fórmula certa para um almoço despretensioso. Os preços não ultrapassam os R$25 e são, em grande parte, responsáveis por você querer provar o menu inteiro, disponível em um generoso quadro negro.

71 box 85 - R. Pedro Cristi, 31, Pinheiros

TUJU

A casa liderada por Ivan Ralston é uma surpresa desde o início. A cozinha, ampla e aberta, disponível aos olhos dos comensais do salão, permite que a experiência exclusiva em menu degustação seja ainda mais sensorial. Fui no jantar (R$185 na época) e pude provar a sequência de três tira-gostos, uma entrada, um prato principal e uma sobremesa. O cronut de rabada, famoso no endereço, merece toda a redenção do burburinho. De principal, os ingredientes do Norte do país – mais usados do que eu esperava em solo paulista – chamaram a atenção em um bem executado canelone de pato com jambu e tucupi. Como grand finale, o aclamado “Pingado” (biscoito de chocolate com creme de mascarpone e sorvete de café) encerra com chave de ouro a visita ao restaurante.

R. Fradique Coutinho, 1248, Pinheiros

COFFEE LAB
O local, escondido em meio a casas e com uma área externa cercada por plantas, é um refúgio para os amantes de café, liderado pela reconhecida barista Isabela Raposeiras. O cardápio com a bebida em destaque é extenso e permite uma viagem feliz aos muitos tipos de preparos, chegando até criações adocicadas na cozinha, com sabor atenuante do grão. Os microlotes de pequenos produtores também convidam a novas experiências, e junto à equipe bem treinada para explicar cada extração, fazem do endereço uma visita memorável.

Rua Fradique Coutinho, 1340, Pinheiros

JIQUITAIA
Fui altamente recomendada ao restaurante, especializado em cozinha brasiliense, com sugestão especial para os drinques. E expectativas nunca são boas, não é mesmo? Talvez isso tenha prejudicado um pouco a impressão inicial. Mas, de modo geral, a casa liderada pelos irmãos Marcelo e Nina Bastos tem, sim, um dos menus executivos mais saborosos da cidade, inclusive no jantar (a R$69 então). O arroz de pato, com magret, jambu e tucupi (olha o Norte aí de novo!) estava no ponto correto e cumpriu o que prometia. Mas a grande – e simples – surpresa estava na sobremesa. Um brigadeiro clássico, com farofa de pé de moleque que tem o poder de nos levar de volta para a casa da vó, em um fim de tarde da infância. Um endereço premiado mostrando, mais uma vez, que menos é mais, e que esse é o caminho dos próximos anos nas cozinhas deste hemisfério de cá.

Rua Antônio Carlos, 268 - Consolação

ESQUINA MOCOTÓ
O endereço ao lado da clássica casa nordestina, fundada pelo pai de Rodrigo Oliveira, foi, talvez, uma das experiências mais completas de São Paulo. Apesar dos 20 quilômetros de distância do centro, o trajeto até Vila Medeiros vale. Do início ao fim. Os drinques fogem do lugar comum (ainda lembro da caipirinha de caju com limão-cravo e gengibre), as entradas anunciam o que está por vir e, da escolha principal à sobremesa, os sabores são abundantes e brasileiríssimos, como não podiam deixar de ser. Os dadinhos de tapioca continuam um clássico e indispensáveis, assim como a descoberta do arroz de ossobuco, servido com shitake e tutano. No fim, os cerca de R$100 da conta reafirmam a escolha certa também pelo bom custo-benefício. E se der sorte, como eu dei, terá o próprio e cuidadoso chef comandando seus pratos na cozinha aberta.

Avenida Nossa Senhora do Loreto, 1108 - Vila Medeiros

LE VIN PATISSERIE
Apesar da fórmula pouco mutável, a filial já foi premiada como melhor café da terra da garoa e entrou para a lista de visitas. São quatro menus que combinam, em sua maioria, bebida quente, suco de laranja, croissant, brioche e geleia (média de R$30). Como a boulangerie é uma vertente forte da marca, os pães não decepcionam, assim como as receitas doces. Vale ficar em dúvida na vitrine entre macarons, tortas e éclairs e pedir um expresso a mais.

Alameda Tietê, 179, Cerqueira César – São Paulo

12 BURGER

A recomendação ao endereço, que já recebeu o título de “melhor hambúrguer” da cidade, também era alta. E superou o esperado. De início, prove as coxinhas de rabada. Crocantes por fora, suculentas e bem temperadas por dentro, fazem você querer que a receita exista em todas as cidades do Brasil. Entre as muitas combinações de sanduíche, escolha o que lhe encantar mais. Quando fui, provei cerca de quatro, dando mordida nos dos amigos, e todos foram aprovados com louvor, inclusive o meu: blend da casa, bacon, queijo coalho e relish de cebola roxa. Para acompanhar, a casa oferece rótulos interessantes de cervejas artesanais, além de drinques clássicos. Não vá embora sem provar o bolo morno de tâmara. Também por unanimidade do grupo, a melhor sobremesa (e uma das mais simples, de novo!), que provamos na viagem.

R. Simão Álvares, 1018 - Pinheiros

MYK
Para fechar o roteiro, a escolha foi por uma gastronomia pouco explorada em Brasília e bem lembrada na cena paulistana. O restaurante grego ganha pontos, de cara, pela ambientação, que remete à cultura executada na cozinha. Entre as muitas opções mediterrâneas, optei por um linguini negro com lula, lagostim, polvo e camarão e sai bem feliz. Em porção farta, como a maioria dos pratos servidos ali, entrega a culinária ilustrada por frutos do mar e azeites. A refeição, entretanto, sai um pouco mais cara do que na maioria dos outros endereços visitados, com o principal na faixa dos R$75.

Rua Peixoto Gomide, 1972 - Jardim Paulista - São Paulo

(*) Jéssica Germano, repórter e colunista de gastronomia da revista Encontro Brasília

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