Convidado especial do Gastronomix
“No livro “Na pior em Paris e
Londres”, o escritor George Orwell indica como saber se um restaurante
merece a visita a partir de uma simples checagem nos seus clientes– uma dica
que eu particularmente considero mais confiável que os onipresentes selos do Trip Advisor colados na porta de
entrada: quanto maior a quantidade de nativos dentro do estabelecimento,
maiores as chances de ele oferecer comida de boa qualidade.
Isso porque turistas têm pouco tempo, caem em armadilhas e fazem suas
refeições em lugares encontrados acidentalmente pelo caminho. Já os moradores
da cidade vivem ali, sabem onde achar o que querem e retornam para comer nos
seus endereços favoritos.
Em Bogotá, acabei descartando de cara uma ida ao André Carne de Res, um
misto de restaurante e casa noturna que, nas palavras de uma colega colombiana,
é “armadilha para gringo”. (Há um post no Gastronomix sobre o André Carne de
Res, mas prefiro não opinar aqui se cometi um erro imperdoável ao ignorá-lo,
até porque não botei os meus pés lá, o que me impede de fazer qualquer
avaliação.)
A partir da recomendação de nativos que conheci ao longo da minha
viagem de 22 dias na terra de García Márquez, Shakira e Botero, comi em três
restaurantes bogotanos – um deles, eleito o melhor da cidade pelo... Trip
Advisor (PAN!) – que fazem mais que valer a visita à capital colombiana. Todos
repletos de nativos, mas com alguns turistas sortudos, como yo.
A campanha oficial do governo da Colômbia voltada para a promoção do
turismo aposta no slogan “El único riesgo es que te quieras quedar”, uma ótima
sacada que evidencia a nova realidade de um país que vem deixando o passado de
guerra, violência e miséria e se acostuma com a paz.
Seguem, portanto, três “riscos” gastronômicos de Bogotá, que agradam o
paladar, aliviam o bolso e despertam aquela sensação de “Hum... por que não
ficar aqui pra todo o sempre?”.
1.RESTAURANTE CASA SANTA CLARA
1.RESTAURANTE CASA SANTA CLARA
Localização: no Cerro de
Montserrate, com uma vista apoteótica de Bogotá. Funciona em uma casa que foi
construída em 1924 no povoado de Usaquén e depois levada a Montserrate no final
da década de 1970. Para chegar lá, é preciso pegar o funicular ou teleférico.
O que comer: De prato principal, um dos mais tradicionais do país: o
fiambre – costela de porco, frango, filé mignon em salsa criolla caseira,
acompanhado de arroz com verduras, batatas e iúca (por 29 mil pesos
colombianos, ou R$ 33,79*). De sobremesa, recomendo a seleção de doces caseiros
(8,5 mil pesos, R$ 9,95). E não deixe de tirar fotos da cidade depois de
pagar a conta.
2. SANT JUST
Localização: Calle 16 A #2, na Candelária, centro de Bogotá, meio que escondido numa rua insuspeita. Eleito o melhor da cidade pelos usuários do Trip Advisor, é especializado em comida francesa. Um ótimo lugar para respirar tranqüilidade em meio ao caos da maior cidade da Colômbia.
O que comer: Escolhi um delicioso cordeiro a la plancha (14 mil, R$ 16,40), sugestão do atencioso garçom, mas tudo no cardápio parecia uma delícia, o que me levou a demorar mais que o habitual ao eleger a refeição. Dizem que o crème brûlée é sensacional, mas quando cheguei para almoçar, perto das 15h, não havia mais (lágrimas).
3. LA PUERTA DE LA CATEDRAL
Localização: Calle 11 #6-26, no
centro histórico de Bogotá, perto do Centro Cultural García Márquez.
O que comer: Ajiaco, uma espécie de sopa com frango e milho, acompanhado de abacate (18 mil pesos colombianos, R$ 21,1). Uma porção muito bem servida, feita com todo o amor do mundo- o exigente Juvenal Urbino, personagem de “O amor nos tempos do cólera”, certamente a aprovaria. Um bom lugar pra jantar depois de passar pelo Museo Botero e o Museo del Oro, que estão próximos dali.
E, por fim, uma dica na hora de escolher as bebidas- fique com as
limonadas. De coco, de cereja, de melancia, de hortelã... na Colômbia, o limão
é o rei do pedaço e merece cada gole em sua saudação”.
[*1.000 pesos colombianos = R$ 1,17, conforme taxa de conversão do
Banco Central no dia 25 de maio de 2014.]
(*) Rafael Moraes é jornalista do
jornal O Estado de S.Paulo.
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