Por Rosualdo Rodrigues
Thiago Pethit e Tulipa Ruiz surgiram em meio a uma certa “nova cena musical paulistana” e tiveram a seu favor o burburinho criado em torno desse possível “movimento”, ao qual estariam agregados nomes como Tiê, Criolo, Leo Cavalcante... Não precisou muito tempo para se perceber que o que acontecia era apenas uma confluência de artistas iniciantes, transitando na mesma cidade, inspirados pelo mesmo caos urbano, mas movidos por ideias muito particulares, que as influências comuns eventualmente faziam se tocarem aqui e ali.
Passado o frisson do “está todo mundo falando”, Thiago e Tulipa lançam seus respectivos segundos discos, deixando claro que não fazem parte de um modismo, de uma onda, de um movimento pontual ou o que quer que se pareça com isso. São artistas em busca do próprio caminho e que desde já dão sinais de que terão trajetória longa na história da estilhaçada música brasileira.
Ambos conseguem ir além do que mostraram nos discos de estreia,
mas mantendo coerência, deixando evidente, entre um trabalho e outro, uma liga
que certamente dará a solidez necessária para prosseguirem. Aproximam-se também
na busca por uma sonoridade menos doce, mais incisiva, áspera até.
Estrela decadente, de Pethit, é o que chama mais atenção
nesse aspecto. O acento rock’n’roll, mais agressivo, contrasta com a relevância
dada ao piano em Berlim, Texas, o anterior. Mas mantém o ar retrô e a introspecção, o
intimismo -- no sentido de ser despudoradamente centrado no
próprio artista, que se expõe desde a capa, em que aparece como um James Dean
com batom borrado.
Faixas como Moon, Devilin me, Perto do fim -- esta em
dueto com Mallu Magalhães -- e o encontro
magistralmente “teatral” com Cida Moreira em SurabayaJohnny (Brecht e Weil), única não autoral do repertório, são os pontos
altos de Estrela decadente. E como o
disco é curto, apenas nove músicas, isso significa que já se foi quase metade. O
bom é que a outra não fica muito atrás. Enfim, é um disco para ser sorvido de um gole
só, como um conhaque.
Tulipa, por sua vez, atrai pela forma muito
peculiar com que retrata nas letras as relações afetivas ou a relação dela própria
com o mundo que a cerca. Ela não escreve canções de amor convencionais, não se
detém em dor de cotovelo, traição ou amores que não se realizam. A dificuldade
de comunicação ou os desencontros típicos de quem vive hoje na grande urbe ponteiam músicas como a pérola pop Quando eu achar e Like this. A cronista surge em Desinibida
e Dois cafés, por exemplo.
Esta última tem participação de Lulu Santos. Não por caso.
Ele é um dos mais afiados criadores de canções pop que o Brasil já teve. Tulipa
tem o mesmo faro. É extremamente pop, no discurso direto, nas músicas com um gancho
que pega o ouvinte de primeira, na forma moderna de cantar (com aquele timbre muito peculiar) seu mundo (e o de
todos nós). E as guitarras acentuadas em Tudo tanto tornam essa característica ainda
mais evidente.
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