Colunista de Alimentação Natural do Gastronomix
Há restaurantes que fazem questão de ter suas cozinhas à mostra. Elas
costumam ficar atrás de paredes de vidro para que os clientes vejam como os chefs
e seus auxiliares preparam os pratos. Outros, ao contrário, mantêm seus fogões
e panelas no subsolo, ao qual somente o dono e os funcionários da casa têm
acesso. Só que pouca gente está realmente preocupada com a qualidade dos
produtos ou com a higiene do lugar onde se alimenta. Mas isso pode estar
prestes a mudar.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou, na última
sexta-feira 2, os resultados do primeiro ciclo da Categorização dos
Estabelecimentos de Alimentação e os selos que bares, restaurantes e
lanchonetes participantes receberão da agência. Dentro de relativamente pouco
tempo, os brasileiros terão, para esses estabelecimentos, referências
semelhantes às estrelas dos hotéis. Ficará mais fácil escolher onde comer, seja
um simples sanduíche, seja um risoto de legumes.
As notas desse primeiro ciclo permitem ter uma ideia da situação geral
das cidades participantes do projeto. Na atual fase, a Anvisa orientará as
correções que os estabelecimentos devem adotar. Após o segundo ciclo de
inspeção, bares, lanchonetes e restaurantes começarão a receber os selos, que
deverão estar afixados em local visível para os clientes.
A expectativa da Anvisa é de que as cidades finalizem o segundo ciclo até
o final deste mês, e os estabelecimentos comecem a fixar os selos com a
classificação – A, B ou C – logo em seguida. Segundo o diretor de Gestão
Institucional da Anvisa, Ivo Bucaresky, a Categorização é um projeto inovador
que permitirá, pela primeira vez no Brasil, que os cidadãos conheçam a situação
sanitária dos estabelecimentos de alimentação de onde moram.
“Um estabelecimento mais luxuoso ou mais caro nem sempre significa uma
situação sanitária melhor. Para o cidadão, é uma questão de transparência poder
conhecer a situação de cada local”, afirma Bucaresky. O projeto também permite
que as cidades possam agir mais estrategicamente, focando suas ações nos
estabelecimentos com maior número de irregularidades. O projeto-piloto é
voltado para a Copa do Mundo 2014 e busca alcançar tantos os moradores das
cidades quanto os turistas.
O projeto inclui 11 cidades-sede da Copa do Mundo FIFA 2014 e mais 13
municípios. Engloba também os aeroportos das cidades-sede da Copa, já que nesses
locais a própria Anvisa faz diretamente a fiscalização. As únicas exceções são
o aeroporto de Manaus, em reforma, e o município de Salvador, que não aderiu ao
projeto. Segundo Bucaresky, a Anvisa avaliará o projeto-piloto no segundo
semestre de 2014 para que se possa ampliá-lo a todo o Brasil.
Esse tipo de classificação já existe em outros países. O resultado
costuma ser a melhora do perfil sanitário dos estabelecimentos e a
conscientização do cidadão e dos serviços de alimentação, que passam a identificar
mais claramente suas principais falhas e o impacto delas. A Anvisa cita como exemplos
de experiências bem-sucedidas os sistemas adotados em cidades como Los Angeles,
Nova York e Londres, bem como em países como Dinamarca e Nova Zelândia.
Os resultados dessa primeira fase do projeto da Anvisa indicam que 20%
dos estabelecimentos entraram na categoria A; 40%, na B; e 24,4%, na C. Nesse
grupo, 15,6% figuram como “pendentes”, ou seja, apresentam quantidade de falhas
superior ao padrão mínimo estabelecido. Para esses, convém fechar a boca e
abrir os olhos!
Mesmo a turma do “se não mata, engorda” tem, a partir de agora, e mais
ainda em futuro próximo, um bom motivo para pensar duas vezes antes de comer
como se tivesse estômago de avestruz. Afinal, o oposto do adágio popular também
vale para algumas lanchonetes, bares e restaurantes: “Se não engorda, mata.”
Os bem-humorados nordestinos anteciparam-se à Anvisa há muito tempo.
Não faltam estabelecimentos de venda de alimentos no Nordeste com uma curiosa inscrição
à porta: “Comeu, morreu.” Esses podem até não receber selo de qualidade da
Anvisa, mas merecem nota máxima em franqueza e bom humor.
2 comentários:
Onde se lê ANVISA leia-se FIFA.
Josuee, a ANVISA promove ações de controle e prevenção o tempo todo. Independentemente disso, ter a Copa como foco não é algo ruim. Ainda que a iniciativa fosse da FIFA, seria louvável. Quanto mais inspeção tivermos em bares e restaurantes, menos gente teremos em hospitais.
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