Luciano Milhomem
Colunista de Alimentação Natural do Gastronomix
Outro dia, publiquei aqui uma crônica sobre as piadas que tem
vegetarianos como tema (ou deveria dizer ‘como alvo’?). Hoje, sigo linha oposta,
a das campanhas por um Natal sem carnes. Elas variam muito, o que só as torna
mais interessantes. Se ainda não há, deveria haver um estudo sério sobre essas
campanhas.
Há as bem-humoradas, as religiosas, as que apelam à consciência e até
as que recorrem à culpa – e mesmo as que fazem uma salada de tudo isso junto. O
cardápio é realmente sortido. Começo pelas que pegam mais pesado.
Um cartaz mostra um peru assado, cravado por quatro facas – três na
região do pescoço e uma no meio da barriga. A foto da ave está sobre um fundo
vermelho. As facas são pretas. Em letras brancas, de tamanhos diferentes, o
apelo: “Natal? O Natal é a solenidade cristã que celebra o nascimento de Jesus
Cristo. Você vai realmente celebrar a vida com um bicho morto? Inove neste
Natal! Não celebre a vida com a morte!” Essa última frase tem, ao lado, um peru
vivo e de pé. O leitor deve ter prestado atenção ao fato de que as cores
empregadas no anúncio são as mesmas da vestimenta de Papai Noel.
“HUMANOS – seres contraditórios. Que paz é essa que as pessoas tanto
pedem no Natal e no Ano Novo se é a época do ano em que mais se mata animais
para consumo?”, acusa outro cartaz. Ao lado dessa mensagem, uma foto de um
leitão assado com uma maçã vermelha na boca e uma azeitona verde no lugar de
cada um dos olhos. O bicho está sobre uma bandeja de salada. Abaixo da imagem,
outro apelo verbal: “Que infeliz Natal para eles!”.
Um dos reclames combina humor e apelo emocional: “Neste Natal, não coma
o presépio.” Esse tem mais de uma versão. Altera-se a imagem, mas a mensagem
não muda. Outro mostra um “homem das cavernas” a segurar um pedaço de madeira.
Acima dele, a inscrição: “Como você, sua ceia de Natal precisa evoluir.” A
autoria é de um grupo vegano, que distribui receitas para um Natal sem carnes.
Entre os bem-humorados, está o cartaz que mostra o desenho de um peru a
dizer: “Neste Natal, o presente que eu quero é continuar VIVO...”. Um anúncio
em inglês também recorre ao humor. Mostra a figura de um prato coberto por uma
tampa de metal. Abaixo dele, em letras garrafais: “We serve vegetarians. Just
tell us how you’d like them prepared.” Assinatura: “J.D Hoyt’s – A restaurant
for carnivores” (algo como “Servimos vegetarianos [em inglês, subentende-se
‘pratos vegetarianos’]. Basta nos dizer como você os prefere. J.D Hoyt’s –
Restaurante para carnívoros”).
Confesso que não faço campanha alguma. Não imponho minha dieta a
ninguém, embora a recomende a quem me peça opinião. Tampouco, tenho algo contra
quem divulga os benefícios de não se comer carne – ou os possíveis malefícios
resultantes de seu consumo. Só acho que os militantes vegetarianos e veganos
conquistariam mais adeptos se optassem pelo bom humor em vez do apelo à culpa
ou do ataque puro e simples.
Relatei aqui a iniciativa dos veganos na Rio+20. Distribuíam sanduíches
à porta do Riocentro, vestidos de vaquinha, sorridentes. Nada impunham. Nada
exigiam. Apenas estimulavam, pelo sabor, uma dieta livre de produtos animais. Onde
está o espírito de Natal em campanhas agressivas, que impingem culpa ou
repulsa? Também já postei, neste blog, crônica sobre o que dizem o Velho e o Novo
Testamento quanto ao consumo de animais na alimentação. Não há palavra sagrada
definitiva sobre o tema. Jesus teria multiplicado peixes...
O Natal deve ser a ocasião por excelência de toda tolerância possível.
É tempo de confraternização. Se todos abrissem mão de perus e leitoas, tanto
melhor. A ceia seria bem mais leve. Só que hábitos alimentares, arraigados em
uma cultura milenar, não se alteram da noite para o dia. Mesmo que essa noite
seja a noite de Natal. Sugestão aos vegetarianos mais radicais: fazer como
alguns de seus pares, que distribuem receitas para ceias sem carne.
O Lótus Azul, restaurante de comida natural em Brasília, por exemplo,
recomenda: “Brincar com as nozes e as castanhas nas receitas natalinas é a
pedida da temporada – destaque para o bife de mandioca com castanha e o
espaguete ao molho sugo com almôndegas de soja e castanha-do-pará, um prato
exclusivo da casa”.
Sugestões são ótimos presentes – simpáticos, fraternos e compatíveis
com o espírito da época. A propósito, segue abaixo minha lembrancinha. E um feliz
Natal!
BOLO-REI VEGETARIANO
Ingredientes
- 100g de farinha de trigo integral
- 200g de farinha de trigo
- 40g de manteiga de soja
- 15g de fermento
- 130 ml de leite de soja
- 2 colheres de sopa de malte de trigo
- 30g de açúcar mascavo
- frutos secos a gosto (miolo de nozes, pinhões, amêndoas peladas e
avelãs)
- 40g de uvas passas
-leite de soja (para pincelar)
Preparo
- Em uma tigela, reúna todos os ingredientes, exceto as passas e os
frutos secos. Amasse-os bem e depois os deixe descansar por cerca de 20
minutos. Em seguida, acrescente os frutos secos e as passas e forme uma bola
com a massa. Deixe descansar por mais alguns minutos.
- Depois, forme com a massa uma coroa (um círculo com um buraco no meio) e coloque-a em um tabuleiro untado e polvilhado com farinha. Pincele o bolo com algumas gotas de leite de soja e decore com mais frutos secos. Leve ao forno por cerca de 30 minutos.
Um comentário:
Adendo: Na piada em ingles, ha uma interpretacao melhor. Quando se diz "We serve vegetarians", pode-se traduzir como "Atendemos vegetarianos". Nesse caso, em portugues, perde-se a piada, baseada no trocadilho, so possivel em ingles: serve = servir ou atender.
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