Por Rosualdo Rodrigues
Mais uma geração da família Caymmi entra em cena. Filha de
Danilo, neta de Dorival, sobrinha de Nana e Dori, Alice Caymmi estreia com um
disco simpático, em que deixa bem expostas as influências familiares, mas também
dá sinais de que busca caminhos próprios.
Como intérprete, o jeito
de cantar, a impostação vocal tem muito a ver com Nana. Como compositora, ela cria
canções que caberiam como luva na voz da tia e que, em alguns momentos, remetem
ao universo do avô – particularmente, nos climas e nas referências a mar,
vento, lua... Tanto é que Sargaço mar, de autoria de Dorival -- uma das duas faixas
do disco não compostas por Alice – se encaixa perfeitamente no clima das
criações próprias.
Mas a segunda faixa
de autoria alheia indica que os ouvidos da jovem cantora e compositora estão
atentos a outras referências musicais além das familiares: um cover de Unravel,
de Bjork. Em entrevistas ela já disse que, depois da família, a cantora
islandesa é sua principal influência. Mas não é a única: no YouTube rola o
vídeo de uma apresentação em que ela canta Rid of me, de P. J. Harvey...
Considerando que
Alice tem apenas 22 anos, o álbum que leva apenas o nome dela (e que sai
pela Kuarup) não deixa espaço para muitas cobranças. É um disco bonito, sincero
e intenso, que desenha uma criadora e intérprete de personalidade forte o
suficiente para se firmar em trabalhos seguintes. É o que se percebe, por
exemplo, na letrista, cujo estilo é reconhecido de saída: letras curtas, mensagem
direta, mas poética.
Outro sinal de que ela sabe aonde quer ir é o fato de ter
tido pulso na produção do disco. "Fiz o disco todo, depois é que veio o
produtor. Na segunda fase de trabalho já estava tudo pronto. Eu palpitei em
tudo, nos arranjos, timbragens e até na estética do CD. Sou chata", falou
ao Diário do Grande ABC. E disse mais: "Vou ver como vai reverberar esse
disco. Mas estou doida para começar a criar. Preciso mudar de foco. Já sei para
qual caminho irei". É esperar pra ver.
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