Eloína Telho
Colunista de Chá do Gastronomix
No início do século XX, a região do Vale do Ribeira, em São Paulo,
recebeu um grande número de imigrantes japoneses. Inicialmente interessados no
cultivo do arroz, fixaram-se com suas famílias no município de Registro e
descobriram que aquelas terras ácidas, naturalmente encharcadas pelo rio, em
que chovia sempre, ofereciam um enorme potencial agrícola para algo que sabiam
cultivar: o chá.
É verdade que há relatos de outras tentativas de cultivo de chá no
país, no Rio de Janeiro e até mesmo em São Paulo, na capital e no oeste do
Estado. Entretanto, foi em Registro, a partir de 1935, quando Torazo Okamoto,
introduziu em suas terras a variedade assâmica, de origem indiana, que a
cultura do chá se estabeleceu e se manteve, por muito tempo, como principal
atividade econômica da região. A cidade, que já chegou a ter 42 (quarenta e
duas) fábricas de chá de pequeno e grande porte (Chábras, Chá Ribeira, Agrochá,
Amaya e Cotia, por exemplo) até os anos 80, época áurea do chá brasileiro, hoje
conta com apenas 2 (duas) e tenta fazer renascer tal cultura, de um jeito único
e lindo.
Louca para conhecer toda essa história, que se confunde com parte da
história da própria imigração japonesa, embarquei em uma viagem incrível de
final de semana, a “Rota do Chá”, organizada pela Escola de Chá Embahú.
Conduzidos por Yuri, Cláudio e Renata (Infusorina), e, literalmente, pelo
melhor motorista de van do mundo, Seu Renato, passamos um final de semana
vivendo o chá, em meio a muitas emoções que tento, agora, descrever.
Registro respira chá. Em suas calçadas, por toda a cidade, está a marca
do produto que, até os anos 90, garantiu o desenvolvimento econômico da região:
arbustos de Camellia Sinensis (criação do artista Sesary Roberto de Oliveira).
Na bandeira do Município, a flor da Camellia, para lembrar que, ali, há orgulho
do que se planta.
Pezinhos
sujos na calçada porque eu trabalhei no chazal, viu?
Começamos nossa expedição na margem do Rio Ribeira de Iguape. Uma bela
cerimônia do chá contemporânea, cheia de significado e emoção, conduzida com
delicadeza por Vinícius Monfernatti e Erika Kobayashi, intitulada de
“Florescimento”, foi realizada para representar “o esforço das famílias
produtoras que, apesar da crise, resgatam e fortalecem a cultura do chá na
região do Vale do Ribeira”. O chá foi servido a membros das famílias Shimada e
Amaya, produtores de chá da cidade. Simplesmente incrível!
Lembra
do Vinícius, da @asaladecha? Ele já apareceu em outro texto, sobre a cerimônia
japonesa do chá. E só vou dizer que, pessoalmente, ele é ainda mais
maravilhoso!
Em seguida, fomos ao Sítio Shimada, que produz um dos chás mais especiais
da existência, o “Obaatian”, conhecido como o chá da vovó. No chazal da
família, Teresinha Shimada, filha da vovó que dá nome ao chá, e seu marido Leo,
nos ensinaram a colher chá, de forma manual, como fazem, enquanto nos contavam
um pouco sobre a história da família, da produção. Sonho realizado!
O marido, aprendendo a colher chá com Teresinha Shimada. Atento que só
ele!
De lá, fomos para a sede do Sítio, bater um papo com a Rainha do chá
brasileiro, Dona Elizabete Ume Shimada, a própria Obaatian, em carne e osso.
Com um bom humor invejável, contou um pouco de sua história, quando, aos 87
anos de idade, resolveu começar a fabricar o próprio chá, depois que sucessivas
crises fizeram com que as fábricas não comprassem mais a sua produção. Vimos
todo o envolvimento da família na luta pela recuperação dos chazais e, claro,
tomamos muito chazinho, com comidinhas maravilhosas, em um momento cheio de
afeto e emoção.
Uma
Chazeira emocionada conhecendo a Obaatian. Alguém pega meu lencinho aí!
À tarde, conhecemos a Amaya, a maior fábrica de chás brasileiros, que
produz chás verdes e pretos de outra maneira, em escala industrial, e tivemos
uma aula sobre as etapas de processamento. No sítio, visitamos a antiga casa da
família Amaya, hoje tombada pelo patrimônio histórico, visitamos seu chazal e
aprendemos sobre a colheita mecanizada, diferente daquela realizada pela
família Shimada.
Conhecendo
o casarão da família Amaya. Foto: Escola de Chá Embahú.
No domingo, voltamos ao Sítio Shimada, para, sob a orientação de
Teresinha, acompanharmos as etapas de processamento do chá que colhemos.
Depois, conhecemos a plantão de lichia mantida na propriedade, a lojinha da
Obaatian, inaugurada na ocasião, com chazinhos, bordados feitos pela vovó e
biscoitinhos deliciosos feitos por Teresinha. Ao final, almoçamos com a família
Shimada, que é indescritivelmente acolhedora, da vovó aos netos (Yuki e Alice,
muito amor!). Foram dias de emoção, boa companhia, conversa massa e, claro,
muito chá!
Meu
próprio chazinho, que tal? #queroserobaatian
Essa
é a foto da despedida, tirada pela Escola de Chá Embahú.
Para ficar na parede, na memória e, para sempre, no coração.
Para ficar na parede, na memória e, para sempre, no coração.
Se você também gosta de chá, não perca a próxima edição da Rota do Chá,
em 2018.
Acompanhando o site da “Escola de Chá Embahú”, ou suas redes sociais
(instagram @escoladecha), você se informa sobre as novas datas e programação. A
Escola também realiza cursos presenciais maravilhosos, em São Bento do Sapucaí
(logo, logo tô chegando!) e vale a pena conferir o trabalho lindo realizado por
Yuri e Cláudio, os idealizadores dessa aventura.
Nas minhas redes sociais há
algumas outras imagens desse momento, que foi, de fato, um dos mais
emocionantes da minha vida: @chazeira (insta) ou @eloinachazeira (face). Se
quiser saber outros detalhes, precisar de alguma orientação ou compartilhar
alguma dica imperdível, pode mandar e-mail para eloinachazeira@gmail.com, que
respondo. Chá, como já disse, é meu assunto preferido, sempre!
Beijos e bons chazinhos! Até a
próxima quinta!
3 comentários:
Muito lindas a história de vida dessas famílias: Amaya e Shimada e a experiência de vocês, deve ter sido muito gratificante ....👏👏❤😙
Obrigada por compartilhar essas histórias lindas com a gente...
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