O Gastronomix estreia
nesta quarta, 28 de janeiro, a coluna ME BATA UM ABACATE. Quem conhece o
jornalista, autor e diretor de teatro Sérgio Maggio já registrou e deve ter
usado em algum momento o bordão que dá título à coluna, expressão criada por
ele como resposta aos absurdos da vida.
Sempre bem-humorado e sagaz, Maggio tem o dom da ironia, na hora certa. E agora, ele desfilará suas crônicas, causos e histórias no Gastronomix. A cada 15 dias, às quartas, um texto inédito e gostoso vai embalar a conversa à mesa...
Baiano radicado em Brasília desde 2001, Sérgio Maggio é aquariano, pai de Ingrid, filho de dona Ester. Formou-se em comunicação pela UFBA e atuou por muito tempo no jornalismo cultural, no qual se iniciou em 1993. Em Brasília, foi subeditor de Cultura e crítico de teatro do Correio Braziliense. É autor do livro Conversas de Cafetina (Arquipélago Editorial) -- finalista do Prêmio Jabuti, em 2010 -- e das peças teatrais: O Cabaré das Donzelas Inocentes; Eros Impuro e Eu Vou Tirar Você Deste Lugar -- as duas últimas dirigidas por ele próprio.
Sempre bem-humorado e sagaz, Maggio tem o dom da ironia, na hora certa. E agora, ele desfilará suas crônicas, causos e histórias no Gastronomix. A cada 15 dias, às quartas, um texto inédito e gostoso vai embalar a conversa à mesa...
Baiano radicado em Brasília desde 2001, Sérgio Maggio é aquariano, pai de Ingrid, filho de dona Ester. Formou-se em comunicação pela UFBA e atuou por muito tempo no jornalismo cultural, no qual se iniciou em 1993. Em Brasília, foi subeditor de Cultura e crítico de teatro do Correio Braziliense. É autor do livro Conversas de Cafetina (Arquipélago Editorial) -- finalista do Prêmio Jabuti, em 2010 -- e das peças teatrais: O Cabaré das Donzelas Inocentes; Eros Impuro e Eu Vou Tirar Você Deste Lugar -- as duas últimas dirigidas por ele próprio.
Foi-se o tempo em que acordávamos com os jornais em mãos para saber o
que os jornalistas (e eu sou um deles), estes seres que até o finalzinho do século
passado se sentiam como oráculos do Universo, selecionavam o que o cidadão
deveria ou não saber sobre este mundão de tantos deuses. Agora, muito antes de
tocarmos no papel jornal, que ainda solta tinta como antigamente, as “notícias”
pulam aos nossos olhos como crianças na hora do recreio. Duas delas me
inquietam pelo grau de traquinice.
“Mulher de três seios é presa
por dirigir bêbada.”
“Com 190 intervenções estéticas no corpo, Ken Humano dos EUA decide implantar asas.”
Nem é preciso avançar na leitura para imaginar o conteúdo dessas pós-manchetes
contemporâneas. Os títulos trazem em si toda a construção jornalística. Leio as
duas separadamente e fico, como um menino, imaginando coisas. Quem sabe o sonho
de Ícaro do Ken humano fosse ter em seus braços uma enlouquecida Barbie de três
seios? Será que construiriam uma nova família perfeita? Ele com 191 intervenções
cirúrgicas, ela com o terceiro mamilo, que nunca quis extirpar.
E se o Ken convencesse-a a turbinar os três seios? Colocar silicone em cada um transformando-a na Mulher-Uva, àquela em que os mamilos dão em cacho. E o Ken? Depois de passar meio século em bocas de Matildes, suspeito de um namoro-fachada com a Barbie, supera a crise de identidade ao transformar no másculo Homem-Pássaro.
As questões existências são muitas entre esses dois estranhos e poéticos (por
que não) seres. Qualquer chefe de redação vai querer que a reportagem sobre o
casal responda às questões bipolares: Por que será que a mulher de três seios
fica bêbada e saí por aí dirigindo? Felicidade ou depressão? E o Ken? Por que
ele quer ser perfeito como um boneco? Vaidade ou obsessão? Talvez não seja nada disso. Talvez seja tudo
isso.
“Ah o ser humano”, como suspira de tempos em tempos uma amiga querida
jornalista que trabalha num antigo jornal. O ser humano é essa loucura toda,
que nunca coube nas redações senis, cheia de gente que não entende a loucura de
um Ken humano pôr asas nem de uma mulher de três seios em tomar todas (em que
pese a grave infração da direção perigosa). Os jornais tinham a missão de dar
uma sanidade ao homem, bicho doido, filtrando o “bizarro”, “o circo dos
horrores”, sem querer entendê-lo, talvez enfrenta-lo pelos olhos do não
julgamento. Como um bom avô tradicionalista, envelheceu com tremores nas mãos,
visão turva e um ranço de nostalgia.
Agora, essa criança incontrolável, ainda quase indomável, chamada de internet, quer escancarar as janelas do mundo, sem pudor algum. Até ser educada, podada, aculturada e socializada, vai quebrar os canecos (cuidado, alguns cacos são cortantes e mortais). E os internautas, voyeurs de um tempo em transição, que não se assustem se do casamento do Ken de asas com a mulher de três seios nasça um lindo Unicórnio transexual. Será que vamos aceitá-lo? Ou o condenaremos, como velhos leitores de jornais, ao gueto, assim como fizeram, outrora, com outros estranhos?
Agora, essa criança incontrolável, ainda quase indomável, chamada de internet, quer escancarar as janelas do mundo, sem pudor algum. Até ser educada, podada, aculturada e socializada, vai quebrar os canecos (cuidado, alguns cacos são cortantes e mortais). E os internautas, voyeurs de um tempo em transição, que não se assustem se do casamento do Ken de asas com a mulher de três seios nasça um lindo Unicórnio transexual. Será que vamos aceitá-lo? Ou o condenaremos, como velhos leitores de jornais, ao gueto, assim como fizeram, outrora, com outros estranhos?
Enquanto isso, chega a notícia do último segundo: “Anitta e Claudia
Leitte sensualizam juntas em ensaio da Mocidade”...
Ah, que saber. Me bata um abacate!
Um comentário:
Salve o Unicórnio Transexual e todas as diferenças que haverá de existir no mundo.Parabéns pela crônica engraçadíssima. Saulo Sá
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