Por Daniela Paiva (*)
Convidada especial do Gastronomix
Aconteceu há pouco
mais de um mês. Estava triste. Daquelas tristezas que te fazem perder a vontade
de comer. De quando você repensa o sentido das coisas.
Não era dor no
coração. Era dor na alma. Dor aliada ao medo de depender da mão de médico. De
ter a vida de um pedaço seu entregue a um profissional. Meu irmão.
Noites de angústia,
noites sem fome. Se não existe
esperança, não existe apetite.
Chacoalhei a agonia.
Busquei conforto nas memórias gastronômicas e voei até certas tardes acaloradas
na terra da poeira vermelha. Brasília,
20 e mais alguns graus, e a casa do meu incrível amigo, jornalista, escritor,
dramaturgo e cozinheiro de mão “endendêusada”.
Dia de arroz de hauçá
na casa de Sérgio Maggio (foto). Cerveja, boca quente, papo delícia. Gente rodopiando
pelas rodinhas no chão, na varanda, na quina dos orixás. Nem parecia que boa parte ali se encontrava na
redação do Correio Braziliense todo santo e infernal dia.
Não tinha essa de
“dar uma passadinha”. Era ficar, ficar. Comer um prato, dois, roubar um naco de
carne mais tarde ou um camarão seco para salgar a gelada. Formamos uma família,
naquelas e em tantas outras tardes e dias, que é como toda família.
Choramos e sentimos
a saudade de um dos nossos, grudamos aqui, ali despregamos, mais adiante nos
abraçamos como se não houvesse tempo.
E nos amamos.
Sempre. Até o fim.
Essa explosão de
sentimentos, recordações e aconchego me levou à receita abaixo, uma versão “safadenha”
do arroz de hauçá Maggico.
Tem um detalhe que
detonou o momento: eu, por acaso e sorte divina, tinha na geladeira um camarão
seco feito recentemente pelo meu avô quase noventão. Mais um pedaço de
contra-filé desesperado para sair do freezer e um creme de leite pedindo
socorro, e pronto.
Fui modestamente
inventar moda com os principais ingredientes da receita. Coloquei curry no
lugar do dendê e creme de leite se fingindo de leite de coco. Passei o camarão
na frigideira e acompanhei com arroz. Ainda
salpiquei o tempero da esperança com o amor do Sandro Biondo (foto acima), minha cobaia e
ombro da noite.
Sobrou para o dia
seguinte. Emendei um guéri-guéri de novo. Corri para o super e trouxe o leite
de coco para o arroz. Desta vez, finalizei com uma farofa de camarão seco. A
receita está um pouco atrapalhada, mas espero que inspire.
MODESTA VERSÃO THAI DO ARROZ MÁGGICO (2 PESSOAS)
MODESTA VERSÃO THAI DO ARROZ MÁGGICO (2 PESSOAS)
- Carne (500 g de
contra-filé)
- 1 cebola picada
- 1 cenoura bem picadinha
- 2 dentes de alho
- 1 xícara de vinho
branco ou mais se for preciso
- curry em pó ou em
pasta (misturei 3 tipos, uma colher de sobremesa e meia de cada)
- sementes de
coentro maceradas
- 1 a 2 colheres de
creme de leite fresco
- Azeite
- Sal e pimenta do
reino e branca à gosto
- Arroz: ao seu modo
Finalização
- 6 camarões secos,
azeite, 1 dente de alho picado
Dia seguinte:
Dia seguinte:
- Farofa de camarão
seco: usei 1 dente de alho, 1 cebola,
manteiga, farinha de rosca, camarão e passei tudo na frigideira fechando com
salsinha fresca
- Arroz com leite
de coco: apenas acrescentei leite de coco depois de esquentar o arroz
Modo de fazer
- Tempere a carne
com um pouco de cebola, alho, curry e pimenta do reino e branca (só um
pouquinho para não ficar forte). Refogue o restante da cebola e do alho, e
passe a carne rapidamente. Retire a carne quando selada (eu queria a carne mais
tenra para não se distanciar tanto da textura da carne de sol original) e deixe
a cebola e o alho na panela.
- Acrescente mais curry, sementes de coentro, cenoura e vinho branco. Deixe reduzir até a cenoura amolecer, pingando água (se preciso) e vinho até chegar ao ponto. Coloque a carne e adicione creme de leite. Passe o camarão seco no alho com azeite.
Montagem
- Disponha o arroz
no centro, a carne ao redor e 3 camarões em cima do arroz.
- Faça o mesmo
processo, mas deixe espaço para a farofa em um canto do prato.
(*) Daniela Paiva é jornalista, já trabalhou em veículos de imprensa em Brasília e São Paulo. No momento, está fazendo um curso em Londres.
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