Rosualdo Rodrigues
Colunista de Música do Gastronomix
Colunista de Música do Gastronomix
Três pontos
em comum explicam por que Lulina e Stella Campos dividem este post:
Primeiro, Recife
é passagem importante na formação musical das duas. Lulina é de lá. Stella,
paulistana, foi participar de um Abril pro Rock na Veneza brasileira, em 1993,
e o que era só uma visita acabou se transformando numa estada de sete anos.
Segundo, são
independentes não só na forma de conduzir a carreira e de lançar discos, mas
também no jeito de criar letras e canções. Donas, ambas, de enganosa suavidade,
driblam o óbvio em versos que revelam olhar arguto para o mundo ao redor. Por
isso, têm obras personalíssimas, um tipo de música não facilmente descritível
ou rotulável.
Terceiro, as
duas estão com discos novos. Ótimos discos, por sinal.
Em Pantim, Lulina
aperfeiçoa o estilo apresentado em Cristalina, o álbum de estreia. Se aquele
era mais disperso musical e tematicamente, este é muito mais bem resolvido.
Vale explicar, aliás: palavra usual no Nordeste, pantim quer dizer qualquer
coisa como “dar chilique”.
Ele gravita –
intencionalmente ou não -- em torno de uma ideia: nossa ilusória mania de grandeza
perante o mundo. Isso desde o primeiro verso: “Me toquei de que eu não era nada/
Nem tentei disfarçar com uma piada/ Pra chamar atenção, pra me fazer melhor/ Percebi
que eu valia tanto quanto pó”.
Como é do
feitio de Lulina, o coloquial e as expressões triviais são transformados em inteligentes
e oportunas reflexões poéticas sobre nossa condição. Sem deixar transparecer pretensões
intelectuais. Lulina é daquelas que prova que o pop pode ser consistente, que por
trás do cha-lá-lá tem algo que merece ser ouvido.
Em Dumbo, Stella
Campos, que já vinha incluindo músicas em inglês em discos anteriores, descarta
por completo a língua de Camões para mandar seu recado sobre relacionamentos
conturbados (Unkind, Are you mad at me?) ou personagens deslocados (Dumbo,
She´s leaving town).
Mostra
naturalidade tanto ao escrever quanto ao cantar na outra língua. E daí nos
presenteia com ótimas canções pop, sejam tristes como Unkind ou dançantes como The
red alert. Sem desnível de qualidade no trajeto entre a primeira e a 11ª e
última faixa. Por isso mesmo, Dumbo é o melhor dos cinco lançados por ela até
agora.
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