Por Rosualdo Rodrigues
A falta de curiosidade é falha grave em qualquer ser humano. Não a curiosidade em saber da intimidade alheia pelo mero prazer da fofoca (essa matou o gato). Falo da curiosidade em descobrir o que há por trás dos muros imaginários que nos cercam no dia a dia e nos dão a falsa impressão de que o mundo é a cidade em que a gente vive; que a cidade se resume às ruas pelas quais a gente transita diariamente; que tem bom gosto quem gosta do que a gente gosta; que a humanidade é a meia dúzia de amigos com quem tomamos cerveja no boteco pé-sujo ou vinho no restaurante fino; que a verdade está na fala do pastor ou do padre da igreja a que a gente vai aos domingos...
A falta de curiosidade é falha grave em qualquer ser humano. Não a curiosidade em saber da intimidade alheia pelo mero prazer da fofoca (essa matou o gato). Falo da curiosidade em descobrir o que há por trás dos muros imaginários que nos cercam no dia a dia e nos dão a falsa impressão de que o mundo é a cidade em que a gente vive; que a cidade se resume às ruas pelas quais a gente transita diariamente; que tem bom gosto quem gosta do que a gente gosta; que a humanidade é a meia dúzia de amigos com quem tomamos cerveja no boteco pé-sujo ou vinho no restaurante fino; que a verdade está na fala do pastor ou do padre da igreja a que a gente vai aos domingos...
O não curioso deixaria de sê-lo se experimentasse o prazer
que é descobrir e aceitar que existem diversas cidades dentro de uma mesma
cidade; que há pessoas que vivem e pensam de maneiras muito diferentes da nossa
e da dos nossos amigos; que se movem e se comovem por motivos completamente
diversos dos nossos; que há verdades distintas daquela do sermão da igreja (verdadeiras
o bastante para serem respeitadas)...
A conseqüência disso
é a constatação de que o mundo se torna infinitamente maior; de que temos muito
mais opções de escolha na direção a seguir; de que contemplar a floresta do alto
e ver o quanto ela é grande e diversa é bem mais interessante do que viver
encolhido à sombra de nossa pequena árvore (por mais que seja confortável se
recolher a ela quando necessário). E, melhor, que o tédio nunca nos alcançará
se tivermos a humildade de assumir que a graça da vida é tentar desbravar essa
floresta, mesmo sabendo que nunca conseguiremos conhecê-la por completo.
Mas, espere aí, isso aqui não é uma coluna de música?! E o
que é que o Waldick Soriano lá em cima tem a ver com tudo isso? Bom, divaguei...
Eu queria falar mesmo era do preconceito musical antes de comentar dois documentários
disponíveis em DVD imperdíveis. E que tratam de música, mais exatamente de
música popular, não a Música Popular Brasileira, mas a música brasileira
popular, tantas vezes alvo do desprezo de quem nunca teve curiosidade de
conhecê-la mais a fundo... Essa que chamam de brega.
Duas mulheres, Patrícia Pillar e Ana Rieper, tiveram a
curiosidade de que falo no início do texto. Motivadas pela música dita brega, foram
atrás de histórias humanas e as transformaram em filmes profundamente tocantes.
Respectivamente, Waldick – Sempre no meu
coração e Vou rifar meu coração.
No primeiro, Patricia dispensa narrações óbvias e foca a câmera
em Waldick, suas ex-mulheres, seus filhos, suas histórias... Com extrema
sensibilidade, desnuda e expõe a alma do homem por trás dos óculos escuros e
sob o chapéu. O ser humano que, como todo mundo sabe, não é cachorro não, mas
não raro foi tratado pela vida como vira-lata. Waldick – Sempre no meu coração mergulha tão fundo na realidade do
cantor, que às vezes parece até ficção. Das boas.
Vou rifar meu coração,
de Ana Rieper, segue o mesmo caminho, embora se divida entre variados
personagens que parecem ter escolhido (ou foram destinados a) viver o que dizem
as letras de músicas como Eu vou tirar
você desse lugar, de Odair José, ou a própria Eu não sou cachorro não, de Waldick. O marido traído, a outra, o
homem que se apaixonou pela puta e a tomou como esposa... Tipos que a diretora
foi encontrar pelo Brasil adentro, bem longe das ruas por que passamos todos os
dias, muito diferentes da maioria das pessoas com quem convivemos, capazes de
chorar por coisas que nos fazem rir. E ao mesmo tempo tão humanos quanto nós.
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