Um novo ano costuma ser pretexto para mudanças. Fico pensando se alguém
incluiu, nas tradicionais resoluções de ano novo, cortar ou reduzir as carnes.
Aposto que, antes delas, vêm os doces, as massas, as gorduras saturadas. De
qualquer forma, para os poucos e bons que decidiram adotar o vegetarianismo ou
a redução de algum tipo de carne a partir de 2013, aqui vão algumas dicas.
Um passo de cada vez. Muita gente desiste no meio do caminho porque
radicaliza logo no início. Eu mesmo deixei primeiro as carnes vermelhas. Só um
ano depois, abandonei também as de ave. O organismo precisa se acostumar,
inclusive com a menor ingestão de proteína animal. Há quem consiga alterar a
dieta numa tacada só. Em todo caso, aos menos apressados, recomendo ir
reduzindo o consumo de carne aos poucos até interrompê-lo em definitivo. Com
isso, testa-se o organismo, avalia-se o impacto da decisão.
Apoio de especialistas. Quem resolve parar de comer carnes deve se
lembrar de que essa decisão envolve profunda alteração na quantidade e até na
qualidade de substâncias essenciais para o organismo humano, como proteínas e
vitaminas. Daí a importância de se consultar um nutricionista, um nutrólogo ou
mesmo um endocrinologista. De preferência, os dois primeiros. Esses
profissionais poderão dar a segurança de que a nova dieta não comprometerá a
saúde do mais novo vegetariano do pedaço.
Convicção. Adotar o vegetarianismo porque acha essa dieta mais chique
ou antenada com o século 21 é bobagem. Quem deseja realmente ser vegetariano
tem de estar convicto no mínimo de um destes três aspectos: o físico
(relacionado ao corpo, ao bem estar físico, ao processo digestivo), o
ideológico (mais no sentido de visão de mundo, posição política) e o espiritual
(referente a crenças religiosas). Há quem esteja mais (ou exclusivamente)
preocupado com a parte física. Busca apenas uma dieta que considera mais leve e
saudável. Há quem tenha mais em mente questões socioambientais, éticas, de
direitos dos animais e o mercado de produção de alimentos. Nesse caso, a dieta
converte-se em uma espécie de instrumento de pressão social para que não se
matem ou não se torturem tantos bichos.
Procura-se, pelo vegetarianismo ou por sua versão mais radical, o
veganismo, romper com o ciclo de depredação da natureza e da manipulação
capitalista dos hábitos alimentares. Já o religioso vê na dieta à base de
vegetais um meio para a purificação espiritual – além de proteção à vida animal
de forma irrestrita. Para ele, quanto menos denso o corpo, mais leve o
espírito. Evidentemente, há quem combine todos esses aspectos ou dois deles. Em
qualquer dos casos, há uma convicção, um propósito claro, um fundamento. Não se
trata de modismo, de fase, de “onda”, de pressão do meio.
Paciência e bom humor. O “neovegetariano” deve estar preparado tanto
para a curiosidade honesta quanto para as insinuações maldosas. Sugiro
paciência e bom humor para lidar com todos. Haverá perguntas que exigirão
conhecimentos específicos que o recém-adepto do vegetarianismo ainda não
adquiriu. Haverá piadas e até provocações. Que o “neovegetariano” tenha em
mente o seguinte: na maioria das vezes, o engraçadinho tem uma ponta de inveja
(totalmente infundada!) ou de culpa por não conseguir adotar a dieta
vegetariana.
Humildade. Curiosamente, há também muita gente que, ao invés de
censurar, admira e aplaude quem se torna vegetariano. Daí que alguns levem isso
demasiadamente a sério e se envaideçam. Bobagem! Deixar de comer carnes não faz
necessariamente uma pessoa melhor. Ela pode até se achar mais espiritualizada
ou mais política e ecologicamente correta, mas deveria saber que uma dieta por
si só não transforma ninguém em Gandhi. Há vegetarianos mal-feitores por aí,
assim como há carnívoros com um coração imenso. Uma porção de humildade cai muito
bem com um prato de alfaces.
Nenhum comentário:
Postar um comentário