“Noventa e nove e um pouco mais por cento das músicas que existem são de amor”, diria Caetano Veloso. Provavelmente, ele exagera no percentual, mas, de fato, o amar e o querer bem ganham de longe o primeiro lugar no ranking de temas mais caros dos compositores. Só que o contrário também é inspirador. Quando o rancor, a mágoa e o desamor acontecem, sai da frente...
“Agora que eu já vi o quanto és falsa, vou dizer na tua cara
o que eu penso de ti/ Tu tens a malícia da serpente, eu devia estar doente
quando me apaixonei por ti”... Essa, Sai de mim, do Paulo Sérgio, gravada também por
Reginaldo Rossi, não tem meias palavras.
Vão dizer que é porque é música pro “povão”, mas o Milton Nascimento, em
dueto com Alaíde Costa, não deixa por menos, vai direto ao ponto: “Você arruinou a minha vida, me deixe em paz”. E numa música com o mesmo título da de
Milton, Me deixa em paz, Ivan Lins
também não mede palavras: “Me deixa em paz/ Que eu já não agüento mais (...) Vai pra onde
Deus quiser/ Já é hora de você partir”.
Mas o “vade retro” não inspira somente quando se trata do
fim de um caso amoroso. Há também aquelas canções feitas pra afugentar gente
maledicente, baixo-astral e carregada. Para uma “pessoa nefasta”, de “astral
que se arrasta tão baixo no chão”, que tem a “aura da besta”, “essa cara de cão”,
Gilberto Gil aconselha: “Reza/ Chama
pelo teu guia/ Ganha fé, sai a pé, vai
até a Bahia/ Cai aos pés do Senhor do
Bonfim (...) Faz as pazes com os deuses
(...) Pede/ Que te façam propícia/ Que retirem a cobiça, a preguiça, a malícia/ A polícia de cima de ti”. Credo em cruz!
Outra baiana, a Maria Bethânia, gravou em seu disco mais
recente, Oásis, uma música chamada Carta de amor, em que adverte a esse
tipo de gente de que fala Gil: “Não mexe comigo, eu não ando só”. Em Tem quem reze por mim, o Trio Juazeiro
também tem algo a dizer aos que carregam o mal no coração: “Teu olho de cucuru/
Não vai murchar meu pinhão/ Tenho uma figa de arruda/ Pendurada em meu cordão/ Minha mãe quando partiu/ Me cobriu de oração”.
E o que dizer de quem “nunca ouve os outros e só pensa em se
mostrar, competir”, “fala dos outros sem cuidado/ Quando é julgado, se faz de
coitado” e “tudo o que diz, faz ao contrário”? Frenesi de otário, de Leo Cavalcanti, é uma boa vingança contra
esse tipo, que existe aos montes por aí. Aliás, eles são tantos quantos aqueles
que acham que “o carro do vizinho é muito mais possante”, “quando encontra o colega
de trabalho/ Só pensa em quanto deve ser o seu salário” e para quem “o bem
alheio é o seu desgosto”. Em resumo: Invejoso,
como diz Arnaldo Antunes.
Mas tem aquelas vezes em que a pessoinha vem com cara de
anjo e a faca escondida atrás das costas... Por isso, Chico César, em Deus me proteja, pede ao todo-poderoso
que o livre da “maldade de gente boa e da bondade da pessoa ruim”. Tem toda
razão. Assim como tem razão quando conclui: “Bom mesmo é ter sexto sentido/ Sair distraído, espalhar bem-querer”.
P.S. - Ops, esqueci de Reza, da Rita Lee, como devo ter esquecido de outras tantas. Quem quiser colaborar com a lista de músicas do gênero acrescente aos comentários.
2 comentários:
Embala eu - Clara Nunes. ; )
"Rocks" e "Odeio você", ambas do Caetano!
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