Por Rosualdo Rodrigues
António Zambujo é, depois de Mariza, o nome da música
portuguesa que mais tem repercutido fora do país. A agenda do cantor vai dos
Estados Unidos à Coreia do Sul, da França à Índia. E inclui Brasil também,
claro. Mas aqui o cantor tem ficado restrito basicamente a shows no Rio de
Janeiro, aonde vai (“no mínimo duas vezes ao ano”) não só para se apresentar.
Lá, Zambujo mantém relações de amizade que influenciam diretamente a música
dele, como Pedro Luís e Rodrigo Maranhão, compositores presentes em discos do
cantor.
Maranhão volta a ser interpretado por António Zambujo em Quinto, o disco que ele acaba de lançar
– e que é o quinto da carreira, como o nome diz. Outro nome brasileiro que
aparece no novo álbum é o de Márcio Faraco, gaúcho que começou a carreira em Brasília
e hoje está radicado em Paris -- e que também já foi gravado pelo artista
alentejano. Os dois assinam Maré e Fortuna, respectivamente.
Esse intercâmbio com artistas brasileiros reforça uma característica do trabalho de Zambujo que é justamente o que o faz se destacar dentro e fora de Portugal: ele canta fado, mas dá uma leveza ao gênero tradicional português, mesclando-o com jazz, bossa nova, samba... Tira um pouco da intensidade emocional típica do fado, dando preferência ao lirismo e até ao senso de humor.
A leveza vem também nos arranjos, nos quais, à guitarra
portuguesa e ao violão, se juntam uma guitarra com notas de jazz (Não vale mais um dia), um clarinete
brejeiro (Flagrante) ou um trombone dissonante (A casa fechada). A influência do choro entra de forma explícita em Milagrário pessoal, a segunda letra que
o escritor angolano José Eduardo Agualusa faz para António Zambujo (a primeira
foi Barroco tropical, feita de
encomenda para o disco anterior).
Tudo isso dá a Quinto
um colorido inesperado para quem espera dele um disco de fado convencional. O
gênero celebrizado por Amália Rodrigues aqui se moderniza com delicadeza e refinamento.
É só colocar Quinto pra tocar e
servir o bacalhau e o vinho. Combinação
perfeita.
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