segunda-feira, 6 de junho de 2011

EU RECOMENDO // Só o super-extraído salva!




Por Deejay Biondo (*)
Convidado especial do Gastronomix

“Pertenço à geração que foi apresentada à gastronomia globalizada por meio das famigeradas garrafas azuis de vinho alemão, daquelas que não convém nem dizer o nome. Várias ondas sucederam essa primeira “invasão”: vinhos-refugo provenientes da Itália, da Califórnia, de Portugal e outros tantos além-fronteira. Tempo e informação aguçaram o paladar dos comensais, e hoje se reconhecem bons e maus vinhos, satisfazendo o gosto e o bolso de cada um, na prateleira do supermercado mais perto da sua casa. Mas para um iletrado em vinhos, é difícil discorrer mais do que cinco ou seis linhas sem perder a propriedade ou resvalar em chavões sobre o tema.

O assunto aqui é outra bebida, não menos instigante e igualmente dotada de notas de sabor, aroma e terroir. Coincidência cósmica, aprendi a tomar café espresso na companhia dos criadores deste blog. Observe-se aqui que, embora muitos comerciantes e apreciadores da bebida teimem em escrever expresso, a grafia correta é mesmo com s, já que não significa café rápido, mas café "espremido", em livre tradução do italiano.

Pois bem. Assim como o gosto pelos vinhos pode catapultar um leigo a sommelier em questão de tempo, a paixão pelo café também suscita criar monstrinhos urbanos como eu, sempre à cata de novo lugar para se provar bom café. Por vezes, é tarefa quixotesca encontrar o precioso líquido tirado na pressão ideal, após a torra perfeita, e na dosagem certa que preserva o creme, os óleos essenciais e, claro, a quantidade correta de cafeína que se deve ingerir sem que se instaure no peito, segundos depois, uma bateria de escola de samba. É sempre alegre a descoberta do equilíbrio nos tons médios entre o doce, a acidez, o amargor e a cremosidade da bebida.

O fato é que sou um viciado convicto no tal café espresso e não mais que sobrevivo, se tiver de passar um dia sem ele. Não têm com que se preocupar os mais próximos: até para o vício há que se ter critério. Não sorvo mais do que duas ou três xícaras por dia, o que já é suficiente para um cotidiano feliz.

Certa vez, ao fim de mais um dos longos almoços que só Brasília permite em dias úteis (defendo que somos a capital nacional do Slow Food, Evoé!), uma amiga me acusou de promover verdadeira peregrinação para tomar o café ideal. Se queixava do fato de eu mobilizar toda a turma para satisfazer meu vício, tendo de sair do restaurante em que estávamos. Eis minha sorte: ela era fumante. Então, vaticinei à queima roupa: “o cigarro é seu vício, certo? Você fuma qualquer cigarro? Então eu tenho o direito de não tomar qualquer café”. Ela assentiu e hoje é uma cafezeira tão enjoada quanto eu...

Toda essa cantilena era para deixar claro que o assunto inspira (ao menos de minha parte e de mais uma meia-dúzia que conheço) paixões, intrigas, romances e, por que não, reconciliações.
E como verdadeiro peregrino em busca do café ideal, descobri alguns recantos onde é possível ser feliz e contemplar a vida à base de cafeína de boa cepa. É certo que São Paulo ainda é a meca do café, e vai continuar assim por abrigar um sem-número de casas onde a excelência do grão é a palavra de ordem.

Ali pelos Jardins, o Santo Grão, na rua Oscar Freire, está entre os favoritos dos entendidos no assunto. Prefiro, no entanto, o ambiente mais descolado e a excelência do café servido no Suplicy (foto acima), na Alameda Lorena, verdadeiro templo do bom café. Lá é possível até levar para casa alguns gramas do grão, cultivado em fazenda própria, com a torra desejada e a moagem feita ali mesmo, na frente do cliente. Sim, pois não se deve olvidar que o café é um fruto e, como tal, também perde qualidade e propriedades aromáticas com o tempo e a exposição à luz, sobretudo após a moagem.

Também no Rio de Janeiro é possível sorver café de qualidade. Em dois anos perambulando pela cidade, descobri no Terzetto, que fica bem em frente à estação do Metrô da praça General Osório, em Ipanema, refúgio de qualidade total na extração de um bom arábica. Ainda que o termômetro da rua esteja marcando 42 graus.

E Brasília, como terceira capital gastronômica do país, também dispõe de alguns oásis em meio a tantos Segafredo, horripilantes máquinas de sachet e espressos absolutamente aguados que se vendem por aí. Não, não falo do Suplicy do Shopping Iguatemi. A filial não conseguiu, nem de longe, alcançar a excelência da matriz paulistana. Você pode encontrar espresso confiável no Grenat, que fica na 202 Sul. A dose não tem o preço dos mais acessíveis. Estava R$ 4 da última vez que estive lá. Mas os baristas são bem capacitados e sabem tirar o máximo do grão disponível.

Outro café a esse preço é o Illy, que pode ser encontrado na sorveteria Saborella (Asa Norte e Casa Park). Na mesma rua da Saborella original, o Café Sincera oferece boa bebida a preço honesto, mesmo caso das lojas da Koppenhagen espalhadas pelos shoppings da cidade. Aí, depende um pouco da sorte de seu caminho cruzar com o de um barista de bom humor e com alguma formação técnica na área. Já tomei cafés estupendos e outros horrorosos na loja de chocolates. No mais das vezes, valeu o preço da empreitada.

Outra aposta é o Grão Contemporâneo na 103 Norte, que só abre a partir das 16hs. Sei que pouca gente conhece, mas vale a pena atravessar a rua a partir do Daniel Briand (104 Norte) e experimentar um dos cafés mais competentes da cidade.

Mas há, na cidade, canto mais do que apropriado para quem realmente aprecia e valoriza o momento-café. Isso porque, além da bebida ser extraída (aliás, super-extraída) da forma correta, o ambiente, embaixo de árvores no fundo de quadra, é mais do que convidativo para boa leitura ou bate-papo com amigos entre uma xícara e outra do doce-amargo. Trata-se da loja do Café Cristina (foto acima) que, aliás, tem marca própria e traz, da região do município mineiro de mesmo nome, o melhor grão que se encontra hoje em Brasília. A lojinha fica na 202 Norte e é um mini-templo.

Mas como na vida nada é perfeito, o Café Cristina comete pecado frente a tanta virtude: dispõe de pouquíssimas mesas. E não há nada mais irritante do que ser obrigado a tomar café em pé e com pressa. Portanto, se algum dia você vir alguém irritado ou rondando o Café Cristina na expectativa de que uma das mesas se desocupe, não se assuste. Há chances de que o louco em questão seja eu, embora nunca tenha utilizado de meios violentos para matar o desejo lancinante pelo grão. No máximo, lanço olhar de profunda inveja do felizardo que chegou primeiro e pegou aquele que poderia ter sido meu lugar por alguns minutos...

Santo Grão
Rua Oscar Freire, 413 - Jardim Paulista
Telefone: (11) 3082-9969
São Paulo - SP

Suplicy
Alameda Lorena 1430 – Jardim Paulista
Telefone: (11) 3061-0195
São Paulo - SP

Terzeto
Rua Jangadeiros 28 - Ipanema
Telefone: (21) 2247 6796
Rio de Janeiro - RJ

Grenat
202 Sul bloco A loja 5
Telefone: (61) 3322-0061
Brasília - DF

Saborella
112 Norte bloco C loja 22
Telefone: (61) 3340-4894
Brasília - DF

Café Sincera
112 norte bloco C loja 2
Telefone: (61) 3033 6474
Brasília - DF

Daniel Briand
104 Norte bloco A loja 62
Telefone: (61) 3326-1135
Brasília - DF

Grão Contemporâneo
103 Norte bloco A
Telefone: (61) 33267482
Brasília - DF

Café Cristina
202 Norte bloco A loja 45
Telefone: (61) 3328 4881
Brasília - DF

(*) Deejay Biondo é jornalista e relações públicas de formação, mas artista por vocação. O palco o arrebatou desde cedo e a música é apenas uma das formas dele mostrar essa sintonia com o mundo. Mineiro de nascimento, brasiliense de coração, Sandro Farias se tornou um dos principais deejays de Brasília entoando seu house fino onde há bons ouvidos e sensibilidade. Começou sua carreira no Rio de Janeiro, emprestou seu talento para festas em SP e hoje é autor e criador da Kinda (às quintas no Espaço Glow) e da festa Mafuá (no La Ursa).

2 comentários:

Rosualdo Rodrigues disse...

Delícia o texto, Sandro. Vou me organizar pra fazer um expresso tour por Brasília seguindo suas dicas. Bj

Ricardo disse...

Eu ia lendo a parte que fala de Brasília e pensando: não acredito que ele não vai falar do Cristina. Realmente está no panteão dos cafés.
Mas parto em defesa da loja da 202: eles nunca pretenderam ser um café de verdade. Nada de "heresias" como capuccinos, afogattos, brownies etc. Estão mais para um show-room, onde vc pode degustar o grão da forma que ele deve ser usado, comprar um bom pacote (eles móem na espessura que você preferir) e levar para casa. O faço sempre e recomendo.