segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

EU RECOMENDO // Cuba, "La Revolucion" gastronômica

Eliane Trindade (*)
Convidada especial do Gastronomix

Cuba costuma ser lembrada mais pelos drinques do que pela comida. Prova disso são as dicas recorrentes aos turistas que visitam a ilha caribenha: provar o mojito da Bodeguita del Medio e o daiquiri do Floridita.

Os dois célebres bares de Havana tiveram Ernest Hemingway (1899-1961) como frequentador assíduo. O escritor americano viveu duas décadas na capital cubana, tempo suficiente para fazer a fama internacional das duas bebidas à base de rum.
Com a suspensão do embargo econômico imposto aos cubanos, os visitantes que se aventuram no território dos irmãos Fidel e Raul Castro agora podem comprovar o fim da penúria também em termos de gastronomia.

Pouco mais de uma década separa as minhas duas visitas a Cuba. Na primeira, a comida era uma nota ruim no rodapé. Apenas começavam a surgir os "paladares", restaurantes autorizados a funcionar em residências e geridos por famílias.

Assim batizados em alusão à rede Paladar, como se chamava o negócio da personagem de Regina Duarte, em “Vale Tudo", prova da paixão cubana pelas novelas brasileiras.
 O mais famoso paladar de então era o La Guarida (Calle Concordia, 318 – Centro Havana), conhecido também por ter sido cenário do filme “Morango e Chocolate".

Ao retornar a Havana em agosto de 2015, desembarquei com várias dicas gastronômicas de amigos recém-retornados da ilha. Uma lista simpática e diversificada que ia muito além dos antigos paladares.
A primeira boa surpresa veio com uma frustração inicial: o restaurante Doña Eutimia (Callejon del Chorro # 60-C, Habana Vieja), localizado em uma charmosa rua sem saída nas cercanias da praça da catedral. 

De cara, eu me deparei com uma negativa peremptória do maître: a casa estava lotada e só atendiam com reserva. Já estavam cheios também para os próximos dias. O jeito foi agendar o retorno para o fim da viagem.E valeu a espera por entradas e pratos bem feitos da cozinha tradicional cubana a preços bem honestos.

Entre eles, o popular Ropa Vieja (a base de carne e molho de tomate) e opções de frutos de mar, como a Mariscada do Chef.Os preços dos pratos variam de US$ 8 a US$ 20, bem mais atraentes do que os valores praticados por restaurantes da mesma categoria e charme em outras paragens.

A viela do Doña Eutimia ainda tem o apelo especial de atrair músicos que passam o chapéu de modo respeitoso e simpático após apresentações na calçada de clássicos da música cubana como os sucessos do Buena Vista Social Club. 
Também em Havana Vieja fica o Los Mercaderes (Calle Mercaderes, 207). Mais caro e em um ambiente mais refinado, oferece um menu rico em pratos da tradição crioula e espanhola da culinária nacional.

Para quem busca sofisticação, uma boa pedida é o Vistamar (Ave. 1a., entre 22 y 24, Miramar). O casarão tem uma linda vista para o mar. O local pratica preços quase paulistanos (uma massa de frutos de mar custa US$ 25, mas de acordo com a relação preço /qualidade, especialmente pela bela apresentação dos pratos saborosos e com ingredientes frescos.
Além de contar com um serviço de primeira, pode-se escolher entre mesas espalhadas pelo terraço ou ao redor da piscina.O programa gastronômico vale também pela incursão por Miramar, o bairro onde se concentram as embaixadas, antigo reduto dos ricos que fugiram para Miami para escapar dos revolucionários que desceram a Sierra Maestra.

É possível ainda ir do luxo à utopia comunista sem escalas. Para tanto, recomendo um dos restaurantes populares frequentados por cubanos, onde um PF (Prato Feito) sai por US$ 1. A comida se parece com a de um bandejão universitário, menos farta e mais saborosa.

E dá sempre para fechar o tour de alta ou baixa gastronomia com um daiquiri no Floridita. O bar virou um típico "pega turista", o drinque não tinha nada de espetacular e os garçons se davam ares de mais famosos do que a bebida servida. 
Tudo isso com direito a boas surpresas no meio do caminho, como o minúsculo restaurante em frente ao Donã Eutímia, que não peguei o cartão, onde comi uma lagosta por meros U$$ 10, saborosa, no ponto. E o melhor: sem fila de espera.

Enfim, bons ventos gastronômicos que vão além do feijão com arroz à cubana e de pratos tradicionais como "Moros y Cristianos", que lembram o nosso baião de dois. 

Bom apetite e viva "la Revolucion" culinária cubana! 

La Guarida
Calle Concordia, 418
Centro Havana

Doña Eutimia
Callejon del Chorro # 60-C
Habana Vieja
Telefone: (+53) 7861 1332

Los Mercaderes
Calle Mercaderes, 207
Telefone: (+53) 7 861 2437

Vistamar
Ave. 1a., entre 22 e 24
Miramar 
Telefone: (+53)7  203 8328

(*) Eliane Trindade é jornalista da Folha de S.Paulo, onde é editora do Prêmio Empreendedor Social. Escreve a coluna Rede Social na Folha.com,  às terças, a cada duas semanas. O espaço mostra personagens e fatos dos dois extremos da pirâmide social.

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