quinta-feira, 1 de outubro de 2015

POR AÍ // Nova coluna estreia no Gastronomix

Hoje é dia de estreia no Gastronomix. O chef e publicitário Gustavo Pereira participou duas vezes da seção EU RECOMENDO, em que convidados escrevem sobre experiências interessantes. Na primeira vez, falou sobre um belo restaurante francês em Berlim. Na outra participação, um belo texto sobre um japonês em Amsterdã. E os leitores do Gastronomix pediram mais dicas. Convite feito, convite aceito. Gustavo escreverá a coluna POR AÍ, que será publicada semanalmente, às quintas. Bom para nós!

Gustavo ama viajar e cozinhar. A ordem pouco importa. Mas ele traz um olhar aguçado e uma bela seleção de sabores e curiosidades por onde passa. Sem mais delongas, vamos ao texto inédito e de estreia da coluna. A experiência que teve no Noma, considerado por muitos, o melhor restaurante do mundo.

POR AÍ // 23
Gustavo Pereira
Colunista de Gastronomia do Gastronomix

Um restaurante que durante anos ocupou o posto de melhor restaurante do mundo. E não por acaso, mas com muita dedicação, pesquisa de ingredientes e novas combinações fizeram do restaurante Noma em Copenhagen um disputado restaurante na gastronomia mundial Atualmente, ele ocupa a terceira posição do ranking dos melhores restaurantes do mundo, pela revista Restaurants.
 Para os amantes da gastronomia, ir a Copenhagen e não visitar o Noma é como ir a Paris e não visitar a Torre Eiffel. Digo isso com propriedade de quem teve a melhor experiência gastronômica por lá, porque o Noma não é só uma referência para a gastronomia global, como é um dos restaurantes mais influentes deste século levando a cultura e os ingredientes escandinavos a outro patamar.
Claro que a Escandinávia estava em meus planos de viagem algum dia, porém não imaginava que seria naquele ano. Imaginava conhecê-la quando estivesse mais velho, mas quando surgiu o convite de alguns amigos, decidi que o restaurante Noma tinha de estar presente neste roteiro de qualquer maneira.
Primeira etapa: convencer meus amigos a irem ao Noma, afinal não é um restaurante barato. Prepare o bolso para o almoço ou o jantar mais caro da sua vida. Segunda etapa: conseguir uma reserva no restaurante mais disputado de Copenhagen. A primeira etapa não foi difícil, algumas matérias sobre o Noma e tudo estava acertado. Já a segunda etapa durou uns três meses até próximo do meu embarque. Foram vários telefonemas, tentativas frustradas pelo site do restaurante e alguns emails depois, consegui finalmente uma reserva para 8 pessoas.
Não se esqueçam da diferença de fuso horário, alguns dias tive que acordar as 5 da manhã para conseguir fazer a reserva pelo site. No final das contas o que deu certo foi as tentativas por telefone para o meu último dia de estada em Copenhagen.
Nem preciso dizer que os dias que se antecederam a ida ao restaurante Noma foram de muita expectativa. O ano era 2013, eles tinham acabado de cair para a segunda posição do ranking e provavelmente estavam fazendo de tudo para voltar para a primeira posição porque tudo, realmente tudo, estava perfeito.
Ao chegar lá, fomos recebidos por toda a equipe na porta do restaurante, cumprimentando um a um. Logo na entrada, a cozinha toda de vidro é o que mais chama a atenção no restaurante que mais parece uma taberna. Chão de madeira, vigas cinzas aparente , mobiliário na cor preta, ambiente bem iluminado, sem grandes requintes, porque ali a estrela principal do restaurante é realmente a comida.

O garçom nos levou até nossa mesa e explicou como funcionaria a orgia gastronômica. Ao todo, seriam 23 pratos podendo ser harmonizados ou não com vinhos, e todos os ingredientes são locais, muitos deles sendo cultivados na própria horta do restaurante, e que o menu muda de acordo com a estação do ano. Como estávamos no verão dinamarquês, os pratos servidos a seguir seriam bem mais leves com muitas hortaliças locais. Um dos atendentes perguntou se alguém tinha alguma restrição alimentar, eu que já tinha lido que o prato camarões vivos era comum no Noma tratei logo de falar sobre eles. Com muito humor, ele disse que, naquela estação, não teriam os famosos camarões vivos, mas, em uma das sobremesas, teríamos formigas cultivadas no próprio restaurante.

Seria loucura da minha parte descrever os 23 pratos aqui, mas posso garantir que foi a experiência gastronômica mais fantástica que já passei. Conheci novos ingredientes, experimentei novos sabores, aprendi novas técnicas e, principalmente, descobri uma cultura nova por meio da comida. A cada prato apresentado, os garçons vinham até a mesa e não só descreviam os ingredientes como contava um pouco da técnica. 
Um a um até completar os 23 pratos. O que se aprende ali, que tudo é possível. Que os ingredientes bem feitos podem combinar com tudo. E que tudo pode ser local, cultivado com cuidado. Eles aproveitam todas as partes dos ingredientes, sem perder nada, sem descartar nada. Tudo é muito colorido, vegetais, hortaliças, flores, frutas, tudo junto e misturado podem criar pratos memoráveis. A apresentação dos pratos, isso é uma diversão a parte, nem tudo parece ser o que é. E tudo estava ali perfeitamente pensado para confundir sua visão, fazendo o paladar trabalhar mais para adivinhar o prato que você achava que era. Tudo muito gostoso.
O ápice do almoço foi descobrir que uma das várias sobremesas servidas era uma pasta de formiga criada apenas com frutas vermelhas. E, acredite se puder, a pasta formada apenas por formigas locais ao morder tinha um leve gosto de frutas vermelhas sim.
Vale perder o preconceito e experimentar sabores novos. Vale conhecer a cultura de um lugar também pela gastronomia local e aprender muito com quem faz da comida uma forma de conexão e experiência.
Por isso, recomendo muito o restaurante que mudou a forma de eu me relacionar com os ingredientes. E, claro que no final dessa experiência toda, o próprio Chef Rene vai de mesa em mesa e nos leva para um tour em sua cozinha onde com a maior maestria nos apresenta ao melhor da gastronomia Escandinávia atual.
Noma
Strandgade 93, 1401
København K, Dinamarca
Telefone: +45 32 96 32 97

Site: www.noma.dk

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