segunda-feira, 28 de setembro de 2015

EU RECOMENDO // Hambúrguer não é só gastronomia – é política e sociologia

Diogo Ramos Coelho
Convidado especial do Gastronomix

“O que você pensa quando escuta falar de hambúrguer? Um esferoide robusto e suculento de carne moída, coberto por uma generosa porção de queijo derretido, prensado por dois pães macios? Ou um isopor redondo produzido com especificações industriais e servido por escravos assalariados para uma população obesa? É cozinha ou mercadoria? É um ícone de liberdade ou a quintessência da conformidade?

Não importa o que você pensa. O hambúrguer não é apenas um sanduíche. É um nexo social. É um símbolo cultural. Ele é maior do que a gastronomia – seu contexto apropriado, penso eu, é na política e na sociologia.
 Houston Original Hamburgers

O hambúrguer, tal como o conhecemos hoje, é um fenômeno dos EUA do pós-guerra. As histórias sobre sua origem, na verdade, variam. Li que a procedência do bife data do fim do século XVII, quando tribos nômades da Ásia Ocidental desenvolveram a técnica de temperar a carne bovina, finamente picada, a fim de evitar seu perecimento. Li também que teria sido levado aos EUA pelas mãos de imigrantes alemães vindos dos arredores de Hamburgo.

Pouco importa. A criação, a popularização e disseminação do hambúrguer são fenômenos americanos – e confunde-se com o desenvolvimento do país na segunda metade do século XX. Confunde-se, igualmente, com o fenômeno recente da globalização, que tantos ferozmente criticam. 
Respeitável Burguer
Em 1961, a revista Time descreveu o produto retirado dos drive ins do McDonald's como "alimentação barata de linha de montagem" (low-priced assembly-line feeding). Naquela época – e até hoje – algumas pessoas enxergam em hambúrgueres apenas conformidade e baixo custo. O hambúrguer, como os EUA, seria símbolo da sociedade de massas e da homogeneização dos gostos. O fast food representaria tudo de ruim sobre a América – sua padronização, sua conformidade, sua banalidade. É a gastronomia sem identidade, plastificada e industrializada, alastrada pelo mundo como uma praga.

Mas eu penso diferente. O hambúrguer pode também representar o melhor do capitalismo contemporâneo. Verdade: ele é produzido e vendido em escala. Entretanto, que outra forma haveria para alimentar, de modo simples, massas e massas de indivíduos? Os maiores beneficiários são pessoas que, em outras circunstâncias, jamais teriam acesso à iguaria. Mas o hambúrguer não se define por sua padronização. Ele é, sobretudo, uma commodity, por meio da qual é possível inventar novos produtos. 
Twelve Bistrô
Onde quer que você vá, um hambúrguer significa uma esfera de carne moída servida em um pão enriquecido branco. O hambúrguer tem um caráter de inevitabilidade – é, nesse sentido, um ponto de referência gastronômico, como o sushi, a pizza ou a batata. Mas sua essência básica pode ser melhorada. Ele pode ser aperfeiçoado, de acordo com as tradições e gostos locais – ou, até, individuais. Cada hambúrguer é, portanto, uma experiência única, apesar de seu formato comum.
Z Deli

Experimente as variações. Em Brasília, vá ao Houston Original Hamburgers e prove uma autêntica versão americana. Ou, quem sabe, vá ao Respeitável Burguer e exerça sua criatividade, combinando ingredientes. Destaque também para a Hamburgueria do Francês e o trailer do Morceguinho. Foi a São Paulo? Não deixe de ir ao Twelve Bistrô, em Pinheiros, e prove – com um pouco mais de aporte financeiro – uma versão com Foie Gras e cebola em balsâmico. Vale também uma ida ao Z Deli, nos Jardins, para versões mais simples e deliciosas, como o famoso Manhattan, que leva cheddar inglês, picles, cebola roxa e tomate. Até as grandes redes possuem variedades: um tradicional Big Mac não é igual a um Shake Shack ou a um Whopper.
 Minetta Tavern
O hambúrguer, afinal, não é apenas a plastificação da gastronomia. Sua essência não está restrita à carne e ao pão. Falar de hambúrguer é falar de reinvenção. O hambúrguer exerce fascínio porque é uma comida entendida universalmente. Sua beleza está na forma como atravessa fronteiras sem perder a essência, porém adquirindo novas identidades. Ele é um veículo, um símbolo e um ícone – de um país, de uma época e de um mundo cada vez mais plano. Essa simbologia, entretanto, é apenas o chiado; a real importância do hambúrger reside na forma como eleajuda a interpretar a história do mundo – igualmente deliciosa”.

Houston Original Hamburgers
412 Norte Bloco C Lojas 56 e 62
Asa Norte, Brasília
Telefone: (61) 3257.5004

Respeitável Burguer 
SHC/S CL 402, Bloco B, Loja 25
Asa Sul, Brasília
Telefone: (61) 3224.8852

Twelve Bistrô
R. Simão Álvares, 1018
Pinheiros, São Paulo
Telefone: (11) 3562-7550

Z Deli
R. Francisco Leitão, 16
Pinheiros, São Paulo
Telefone: (11) 2305.2200

Minetta Tavern
113 Macdougal St
New York, NY
Telefone: +1 212-475-3850

(*) Diogo Ramos Coelho, 28, pernambucano, é diplomata, mora há dez anos em Brasília e é, óbvio, aficionado por hambúrgueres.

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