segunda-feira, 11 de maio de 2015

EU RECOMENDO // O fino chá galês da Patagônia

Rafael Fontana (*)
Convidado Especial do Gastronomix

Dentre as influências do País de Gales na porção Sul da Argentina, o chá é sem dúvida a mais saborosa de todas. Além da bebida, sempre intensa, noir e aromática, os acompanhamentos são simplesmente inesquecíveis, servidos nas aconchegantes casas de chá da Patagônia, mais precisamente na província de Chubut.

As tortas doces, muitas delas releituras das famosas tortas galesas, derretem na boca após servir-se do chá tradicionalmente amargo, criando um equilíbrio perfeito no paladar.

O atendimento nos estabelecimentos se destaca pela simpatia e eficiência. Os bules, protegidos por uma capa de lã feita à mão, mantém a bebida sempre quente, levantando uma fumaça perfumada cada vez que o chá é despejado nas xícaras de porcelana.

A bebida caliente cai perfeitamente após um mergulho no mar, para dar uma voltinha entre leões marinhos, ou depois de um passeio entre os incríveis glaciares da Cordilheira dos Andes, duas maravilhas turísticas da região.

GALESES EM CHUBUT
Os primeiros galeses chegaram à Patagônia na segunda metade do século 19, muitos deles fugindo da conversão religiosa imposta pelos ingleses. Encontraram na afastada província de Chubut um clima parecido com o de sua terra natal e por ali se instalaram. Com o passar das décadas, os hábitos e costumes dos colonos se incorporaram à cultura local.

Os imigrantes trouxeram para a região austral uma nova concepção arquitetônica, além de técnicas de cultivo e, claro, o bom e velho chá das cinco. Na realidade, no caso da Patagônia, o chá começa a ser servido a partir das duas da tarde, e se estende normalmente até as 19h30.
Cai bem como sobremesa após o almoço ou como lanche da tarde. Se o horário estiver mais próximo da noite, quem desfruta dos pães, bolos e tortas servidos com o chá costuma até a dispensar o jantar. As porções são generosas, e há reposição sempre que algum quitute acaba. Em uma comparação calórica, chega perto dos cafés coloniais servidos no Sul do Brasil

TORTA GALESA
Dentre as guloseimas delicadamente distribuídas pela mesa das casas de chá da Patagônia, a mais famosa é a torta negra galesa, um bolo de tons escuros preparado artesanalmente pelos chefs da mesma forma que os antepassados o faziam em seus lares, no País de Gales.

Notam-se algumas pequenas variações nas receitas entre uma região e outra, mas os principais ingredientes estão sempre na mistura, entre eles frutas cristalizadas, passas, nozes, mel e uma pequena dose de licor.

A torta negra galesa rivaliza na mesa com uma grande variedade de pães, geleias e doces, alguns deles mais atrativos ao paladar dos brasileiros, como as tortas de framboesa, de creme e de chocolate.


SUA MAJESTADE, O CHÁ
O chá galês servido na Patagônia mantém o aroma encorpado e o fino sabor da bebida originalmente consumida no País de Gales. É composto por um blend de chás pretos provenientes de renomadas regiões produtoras da erva na China, Índia e Sri Lanka, quase sempre empacotados no Reino Unido.
Além do chá preto, algumas bebidas contêm no mix de ingredientes chá verde, chá vermelho e groselha-preta. De sabor delicadamente amargo, entre frutado e defumado, o sabor preenche toda a boca. É geralmente consumido pelos galeses com um pouco de leite. O açúcar fica disponível nas mesas, para quem deseja adocicar a bebida. No entanto, alguns especialistas recomendam que o chá seja degustado puro, para sentir o seu sabor natural.


SUA MAJESTADE, LADY DI
A província patagônica de Chubut reúne a maior colônia de galeses na Argentina, com forte presença nas cidades de Puerto Madryn, Trelew, Rawson e Gaiman, na Costa do Atlântico, além de Trevelin e Esquel, aos pés da Cordilheira dos Andes, perto da fronteira com o Chile. A concentração de súditos da Coroa Britânica motivou a visita a Chubut de uma das maiores personalidades do País de Gales no século 20, a princesa Diana Spencer.

Durante a viagem, ocorrida em novembro de 1995, a princesa de Gales degustou o chá galês na Patagônia, na pequena e tranquila cidade de Gaiman, cuja população conta apenas 4 mil moradores. A casa de chá escolhida para atender a ilustre visitante até hoje mantém intocado o bule usado para servir a princesa, exposto entre fotos que registraram o momento.
A morte de Lady Di, dois anos depois de sua visita à Patagônia, gerou grande comoção à comunidade galesa de Chubut. Todo dia 31 de agosto, data do acidente trágico que a vitimou em Paris no ano de 1997, os galeses da província patagônica prestam homenagens à princesa. Reúnem-se para tomar o chá apreciado tanto por súditos quanto por altezas reais.

Casas de Chá em Chubut

Casa de Té Nain Maggie
Perito Moreno Perito Moreno 179
Trevelin
Tel.: 02945 48 0232
Site: www.patagoniaexpress.com/nainmaggie.htm

La Mutisia
Av. San Martín 170
Trevelin
Tel.:  02945 15548354 / 480165
Site: www.casadetelamutisia.com.ar

Plas y Coed
M. D. Jones,123
Gaiman
Tel: 0280 4491133/154697069

Casa de Té Gaiman
Av.
Yrigoyen, 738
Gaiman
Tel: 0280-441633

Ty Gwyn
9 de Julio,111
Gaiman
Tel: 0280-4491009
Site: tygwyn@tygwyn.com.ar

Ty Te Caerdydd
Finca, 202
Gaiman
Tel: 0280-4491510 / 4491053

Valor
O valor médio, por adulto, varia de R$ 50 a R$ 60. Crianças de 6 a 12 anos pagam metade. Crianças abaixo de 6 anos não pagam.

Horário
A maioria das casas abre apenas no período da tarde até o início da noite. Algumas servem o chá pela manhã. Recomenda-se confirmar os horários nos sites ou por telefone.

(*) Rafael Imolene Fontana é jornalista

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