quinta-feira, 1 de maio de 2014

30ml // Caetano é quem tem razão

Sando Biondo
Colunista de Café do Gastronomix

Falei sobre o assunto há um bocado de tempo, então não vai parecer implicância, mesmo que seja. E não se trata de acontecimento local porque, em 48 horas, constatei fenômenos semelhantes em duas cidades.

Brasília, Asa Sul, CLS 213. Há ali quatro casas que se intitulam, entre outros predicados, 'cafeterias'. As quatro ostentam suas muito modernas máquinas de café em cápsulas. Servir café, servem. Ser cafeteria é outra coisa.

Em uma delas, o requinte é ter uma máquina a cada mesa. O cliente vai até o balcão, compra a cápsula e ele próprio extrai seu café, na medida em que deseja mais água, menos água, com ou sem leite... a ideia do self-service de café até que é simpática e original. Mas nem o cliente é barista, nem a cápsula consegue oferecer bebida com a qualidade possível de uma cafeteria de verdade.
Eu, por exemplo, tiro café da famosa maquininha todo dia de manhã. Bebo, recebo minha injeção matinal de cafeína e até gosto, mas não julgo ter uma cafeteria dentro de casa.

São Paulo, Jardins, Alameda Franca. Depois de animado jantar com amigos de amigos, é chegada a hora do café. Bom, eu estava num restaurante, não numa cafeteria. Portanto, não poderia esperar que se servisse o espresso perfeito ou mesmo um coado à maneira original. Era cápsula. E custava R$ 7,90 a dose.

Já fiz aqui, no mesmo comentário a que me refiro no início desse texto, um manifesto de que se cobra muito por pouca qualidade, nessa modinha das nespressos e genéricas. Como todo modismo, é chato. E passa. É só o tempo de a classe média encontrar outro brinquedo.

Voltando ao fim do jantar, pedi uma cápsula pagando preço de dose de uísque porque precisava de alguma cafeína para esticar a noite. E comentei que era mais pela química que pelo gosto.
"Sacrilégio" - bradou o rapaz ao meu lado, ao que emendou: "Não existe café melhor do que esse no Brasil. Ainda bem que os suíços inventaram a Nespresso". Citei Caetano enquanto observava o moço afundar dois(!) saquinhos de adoçante no café 'mais maravilhoso do mundo':

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...

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