sexta-feira, 10 de maio de 2013

ALMANAQUE// Banquete nos bastidores do poder

O filme Os sabores do palácio deveria trazer no cartaz a advertência: “Não assista se estiver com fome”. O diretor Christian Vincent serve um verdadeiro banquete visual por meio de magníficos closes das criações culinárias que a protagonista, Hortense Laborie (Catherine Frot), produz em parceria com seu sous-chef, Nicolas (Arthur Dupont), para saciar o apetite de um fictício presidente francês (Jean d'Ormesson).
Da entrada à sobremesa, descrições minuciosas de cardápios também ajudam a deixar o público salivando, mesmo que desconheça boa parte dos pratos citados por Hortense. Quase todos eles são receitas tradicionais da cozinha regional francesa, afinal, é para reaver o gosto de infância, a simplicidade da cozinha rústica, que o presidente resolve acatar a sugestão de amigos e contratar a conhecida professora de culinária para ser sua chef privada no Palácio do Eliseu.
Pommes-de-terre Julia
As imagens apetitosas, as demonstrações de técnicas e o rigor da chef em conseguir os ingredientes perfeitos podem inspirar os apreciadores da boa mesa, mas Os sabores do palácio pode frustrar cinéfilos que se interessam mais por um roteiro bem desenvolvido e personagens de alma exposta do que por gastronomia. Digamos que o calor do fogão que produz as maravilhas culinárias de Hortense não chega a aquecer a trama.
Le chou farci au saumon braisé aux petits lardons
O filme de Christian Vincent – que estreou no Brasil dentro da programação do Festival Variluz de Cinema Francês e pode entrar em circuito brevemente – se detém nas questões profissionais da chef; no confronto entre ela e o colega que comanda a chamada cozinha central; nas tentativas de Hortense de contornar as pessoas que cercam o chefe de estado e chegar a ele. Mas ignora completamente a personagem fora desse ambiente, e termina por deixá-la opaca (mesmo com o bom desempenho de Catherine Frot).
Bendita trufa!
O filme pode ganhar alguma força se o interpretarmos como uma amostra de como a fria e sólida estrutura do poder não deixa espaço para a criatividade, a leveza, a imaginação e o prazer, mas não é bastante. Falta a Os sabores do palácio elementos que o façam ser lembrado menos pelas belas imagens de comida do que por uma história envolvente ou por personagens realmente marcantes.

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