quarta-feira, 17 de abril de 2013

AO PÉ DO OUVIDO// Harmonização entre audição e paladar

Logo do Bar Depois, de Sorocaba (SP)
Por Rosualdo Rodrigues

Ter uma coluna de música em um blog de gastronomia gera um conflito: posso escrever sobre qualquer tipo de música ou somente sobre aquela mais... digamos, digestiva. E o que seria “música digestiva”? Claro que depende de cada ocasião, e alguns gêneros ou ritmos harmonizam, por tradição, com certa refeição. É o caso de samba e chorinho na feijoada de almoço no sábado; de bossa e jazz em um jantar íntimo; do vanerão em um grande churrasco em um sítio num dia de domingo...

Mas essa ainda é uma ideia a ser desenvolvida, a harmonização de música e comida (leia P.S. abaixo). Não há, que eu saiba, nenhum estudo específico sobre o assunto, embora já existam vários sobre os efeitos da música no cérebro. É um assunto multidisciplinar, pelo visto. Encontrei textos da área médica (é ótimo o livro Alucinações musicais, de Oliver Sacks), da área de engenharia eletrônica e até fragmentos em livros de administração, sobre o uso da música para influenciar comportamentos no consumidor.
Procurarei me inteirar mais sobre o assunto. Por enquanto, estava aqui exercitando, pensando no que seria mais adequado para tocar em um jantar para seis a oito pessoas, numa noite de quarta-feira, pleno meio de semana. Sem considerar o que será o cardápio, mas somente a ocasião e o clima pretendido, fiz um menu de entrada, prato principal e sobremesa musicais. Veja se funciona e depois me conte.


Entrada
I fall in love too easily – Chet Baker
Que reste-t-il de nos amours – Stacey Kent
Sem resposta - Celso Fonseca
O que será – Vanessa da Mata
Everybody loves the sunshine – Seu Jorge & Almaz
Driving – Everything but the girl
Fly me to the moon – Djavan
High night – Medoly Gardot
Pom ion pom pom – Hebe Camargo
Prato principal
Mais um na multidão – Erasmo Carlos e Marisa Monte
Eu não sabia que você existia – Zé Renato e Nina Becker
Telhados de Paris – Zélia Duncan
Ne me demande rien – Dorval
Baby – Alice Smith e Aloe Blacc
Billie Jean – Jamie Lancaster e Karen Souza
Faz parte do meu show – Cazuza
Pra machucar meu coração – Elizeth Cardoso
Love me please love me - Michel Polnareff
I saw the light – Lari Carson
Sobremesa
Tell him – Dionne Broomfield
Glitter and gold - Rebecca Ferguson
One evening – Feist
Fly me to the moon - Hayashibara Megumi
L’arc em ciel – Arthur H e Claire Farah
Don’t worry be happy – Mart’nália
Quatro paredes – Marisa Monte
Samba passarinho – Péri
Tempo de pipa – Cícero
Pedido de casamento – Arnaldo Antunes
P.S. - Concluído este post, achei notícia publicada em 2011 pela revista Superinteresante. Vejam só:


Um estudo lá dos EUA colocou grupos de estudantes para jantar em ambientes separados. Todos comeram exatamente a mesma coisa, mas cada sala tinha um som ambiente específico, manipulado pelos pesquisadores, que incluía música em diferentes volumes, barulho de pessoas conversando ou silêncio total. Depois da refeição, todo mundo teve que preencher um questionário dizendo o quanto tinha gostado da comida e o quão prazerosa tinha sido a experiência no geral.
Anota aí a receita: segundo os pesquisadores, a comida foi avaliada como mais gostosa quando servida ao som de música clássica (precisamente entre 62 e 67 decibéis), com apenas um toquezinho do barulho de conversas alheias no meio.
Com a música mais alta ou baixa do que isso, os participantes gostaram menos do jantar. E quem teve que comer em completo silêncio deu as piores avaliações à refeição. 
O que abre espaço para a gente pensar sobre algumas coisas: se música clássica deixa a comida mais gostosa, será que diferentes gêneros musicais poderiam alterar a nossa percepção de outras maneiras? Será que música pop deixaria os pratos mais doces, por exemplo? O rock os deixaria mais apimentados? Me pergunto do que a lambada seria capaz. (por Thiago Perin)


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