segunda-feira, 5 de novembro de 2012

EU RECOMENDO // Sentindo-se em casa, em Paris

Por Ernesto Magalhães (*)
Convidado especial do Gastronomix

Viajar, para mim, significa ter uma chance de rever os amigos que estão espalhados por aí e poder retribuir com gentileza quem te hospedou, te alimentou, dividiu seu cantinho favorito ao te levar para sair à noite e deixou as chaves com você durante o dia enquanto trabalhava para você passear pela cidade. Fazer o amigo turista sentir-se em casa faz toda a diferença, por isso, raramente viajo para ficar em hotel. Como não cabe indicar aqui o endereço dos meus queridos amigos que me recebem tão bem, seguem duas dicas de uma Paris que te faz sentir em casa.

Minha primeira vez em Paris contou com a gentileza do amigo Maxime, que mora na capital francesa pelos ossos do ofício de ser jornalista, mas que morre de saudades da comida da sua região, no sudoeste do país. Foi ele quem me apresentou o Chez Gladines, que fica fora do circuito turístico, na agradável região do 13º arrondissement, na Rue des Cinq Diamants, frequentada pelo público local universitário e pouco conhecido por turistas. Tido como a casa da autêntica comida basca, o local serve porções generosas por um preço razoável – de 10 a 20 Euros por pessoa por uma refeição completa. Vinho incluso! No cardápio estão as receitas clássicas da culinária francesa do interior e “sem frescuras”, como ratatouille, cassoulet e piperade.
Renata e a mesa posta no Chez Gladines

O ambiente é 10 e traz aquela sensação de comer em família. Como o espaço é pequeno, muitas vezes é preciso dividir a mesa com outros clientes. Quando estava lá com Maxime, no outono de 2008, na dúvida se pedíamos uma taça para cada um, ouvimos um coro de seis desconhecidos sentados à mesma mesa: Bouteille! Bouteille! Era a coragem que nos faltava para pedirmos logo uma garrafa. No verão deste ano, quis retribuir o aconchego da hospedagem em Paris e Versalhes e levei os amigos Renata e Cedric para conhecerem o apertado restaurante. Outra vez tivemos uma experiência gastronômica incrível, mas também provamos da mais típica recepção parisiense. – Por favor, garçom, estou em dúvida entre ça e... ça. O que você recomenda? – Recomendo que faça logo o seu pedido, pois tenho outros clientes esperando. PAN! Assim mesmo. Tão seco quanto o vinho Rosé de Provence posto à mesa. Portanto, fica aqui a importante dica: chegue cedo, por volta das 19h, para não enfrentar fila, e evite ao máximo os devaneios na hora de escolher dentre tantas opções deliciosas.
Ernesto, Cedric e Renata comemorando o fim de uma excelente refeição

A hospedagem em Paris me foi oferecida dessa vez pela minha amiga Renata, que foi tão generosa a ponto de dividir comigo por alguns dias a sua apertada morada. Na noite da minha despedida e daquele convívio intenso dividindo o pequeno espaço, resolvemos sair da toca para comer fora... em casa. Eu explico. É que o conceito do Derrière é receber seus clientes para comer no jardim, na sala de jantar ou até mesmo no quarto de uma aconchegante casa de dois andares, localizada no número 69, Rue des Gravilliers.
Uma cama que é um convite para os trocadilhos

O cardápio, criado especialmente pelo badalado escritório de design Ich&Kar, oferece opções descritas em francês e inglês e na forma de verbetes, uma solução bem criativa para facilitar o entendimento da composição dos pratos. Devoram-se as palavras antes de provar a comida. Espalhadas pelos cômodos, as peças do mobiliário são uma atração à parte e parecem garimpadas de antiquários e lojas retrôs.

Naquela noite, escolhemos a sala de projeções para petiscar e tomar coquetéis. Inspirados naquela minha última noite em Paris, brindamos ao momento “você já é de casa” entre amigos, drink imortalizado na série Sex and The City, só que na versão francesa: o Cointreaupolitan – vodka, cointreau, suco de limão e suco de cranberry.

(*) De Minas para o mundo, Ernesto Magalhães não conseguiu escapar do seu destino de ser um eterno turista. Jornalista de formação e Relações Públicas de profissão, trabalha atualmente na promoção turística internacional do destino Brasil em países da Europa. Recém pós-graduado em Turismo pela UnB, dedicou seu trabalho final a Brasília, cidade que o acolheu nos últimos anos, depois das suas aterrissagens por São Paulo, Belo Horizonte, Nova York, Londres, Ouro Preto e Mariana.

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