quarta-feira, 10 de outubro de 2012

AO PÉ DO OUVIDO// A moderna leveza do fado


Por Rosualdo Rodrigues

António Zambujo é, depois de Mariza, o nome da música portuguesa que mais tem repercutido fora do país. A agenda do cantor vai dos Estados Unidos à Coreia do Sul, da França à Índia. E inclui Brasil também, claro. Mas aqui o cantor tem ficado restrito basicamente a shows no Rio de Janeiro, aonde vai (“no mínimo duas vezes ao ano”) não só para se apresentar. Lá, Zambujo mantém relações de amizade que influenciam diretamente a música dele, como Pedro Luís e Rodrigo Maranhão, compositores presentes em discos do cantor.
Maranhão volta a ser interpretado por António Zambujo em Quinto, o disco que ele acaba de lançar – e que é o quinto da carreira, como o nome diz. Outro nome brasileiro que aparece no novo álbum é o de Márcio Faraco, gaúcho que começou a carreira em Brasília e hoje está radicado em Paris -- e que também já foi gravado pelo artista alentejano. Os dois assinam Maré e Fortuna, respectivamente.

Esse intercâmbio com artistas brasileiros reforça uma característica do trabalho de Zambujo que é justamente o que o faz se destacar dentro e fora de Portugal: ele canta fado, mas dá uma leveza ao gênero tradicional português, mesclando-o com jazz, bossa nova, samba...  Tira um pouco da intensidade emocional típica do fado, dando preferência ao lirismo e até ao senso de humor.
A leveza vem também nos arranjos, nos quais, à guitarra portuguesa e ao violão, se juntam uma guitarra com notas de jazz (Não vale mais um dia), um clarinete brejeiro (Flagrante) ou  um trombone dissonante (A casa fechada). A influência do choro entra de forma explícita em Milagrário pessoal, a segunda letra que o escritor angolano José Eduardo Agualusa faz para António Zambujo (a primeira foi Barroco tropical, feita de encomenda para o disco anterior).
Tudo isso dá a Quinto um colorido inesperado para quem espera dele um disco de fado convencional. O gênero celebrizado por Amália Rodrigues aqui se moderniza com delicadeza e refinamento. É só colocar Quinto pra tocar e servir o bacalhau e o vinho.  Combinação perfeita.

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