quarta-feira, 12 de setembro de 2012

AO PÉ DO OUVIDO// Todos cantam Gonzagão




Por Rosualdo Rodrigues

Para um "país sem memória", como dizem que é o Brasil, o centenário de Luiz Gonzaga está sendo comemorado de forma justa. São muitos os projetos dedicados ao Rei do Baião por estes dias. Pelo menos uma dúzia de cantores resolveu gravar discos voltados ao repertório de Gonzaga; está para ser lançado o filme De pai para filho -- Gonzagão e Gonzaguinha (a previsão é para 26 de outubro); teve série de shows dedicada a ele no CCBB; entrou música de Seu Lua na trilha da novela das sete da Globo (United States of Piaui, em Cheias de charme)...

E, claro, tem o livro O fole roncou -- Uma história do forró, que escrevi em parceria com Carlos Marcelo e chega às livrarias na primeira quinzena de novembro, pela editora Zahar. Mas sobre esse a gente fala mais quando sair. Hoje, eu gostaria de destacar outro projeto-tributo, o álbum triplo 100 anos de Gonzagão, produzido por Tiago Marques Luiz para a Lua Music. É, a meu ver, uma das mais interessantes entre tantas homenagens prestadas a Luiz Gonzaga.

Em primeiro lugar, porque envolve diferentes gerações e artistas de variados estilos em torno da obra dele. Segundo, porque o resultado em si é uma grande reverência ao homenageado, mas foi feito, ao mesmo tempo, com muita liberdade de cada um dos participantes. No fim, você pode até não concordar ou achar equivocada essa ou aquela versão, mas o que se ouve é uma série de experiências no mínimo curiosas sobre as possibilidades da música de Gonzaga, que pode ser pop, tradicional.... rock'n'roll, por que não?



O álbum traz 50 músicas que ficaram conhecidas na voz do Rei do Baião recriadas por um grupo bastante distinto. Os participantes vão desde nomes que obviamente não poderiam ficar de fora de um tributo como esse, a exemplo de Elba Ramalho (A morte do vaqueiro), Dominguinhos (Daquele jeito), Amelinha (Légua tirana), Anastácia e Oswaldinho do Acordeon (Feira de Caruaru) a artistas da novíssima geração que, em princípio, parecem não ter nada a ver com Gonzaga...

Nesse time entram Silvia Machete (Lorota boa), Filipe Catto (A sorte é cega). Gaby Amarantos (Cintura fina), China (Siri jogando bola), Thaís Gulin (Balance eu)... E, quer saber?, no fim você se dá conta de que, mesmo com o peso do regionalismo, Gonzaga deixou suas influências sobre esse povo todo. Ainda que nem eles mesmos percebam.... O fato é que o canto dele criou ficou incrustado na música brasileira e, portanto, aparece sutilmente em muito do que se produziu desde então.

Sempre muito atento à escolha dos artistas que participam de seus discos-tributos (ele já fez dois muito bons para Adoniran Barbosa e Nelson Cavaquinho), Tiago Marques também incluiu em 100 anos de Gonzagão veteranos que não têm seus nomes ligados à música nordestina, mas que fazem bonito em suas participações, como Célia (Roendo unha), Edy Star e Banda Monomotor (17 e setecentos/O torrado/Calango da lacraia), Zezé Mota (Vida do viajante), Maria Creuza (Dúvida), Maria Alcina (Xamego), Wanderléa (Baião) e até Elke Maravilha (O xote das meninas/Capim novo, com Trio Dona Zefa).

Como de hábito em um trabalho como esse, há irregularidade entre as faixas, mas a média é tão boa que fica difícil selecionar, por exemplo, as dez melhores. Tirando algumas interpretações naturalmente certeiras, como as de Elba, Geraldo Azevedo, Dominguinhos, Anastácia e outros já afinados com o repertório de Gonzaga, eu destacaria aqui estas 15:

Assum preto - Vanguart
Acauã - Cida Moreira
Pau de arara - Chico César
A sorte é cega - Filipe Catto
Xanduzinha - Karina Buhr
A letra I - Veronica Ferriani e Chorando Pitangas
Baião - Wanderléa
Respeita Januário - Zeca Baleiro
Dezessete légua e meia - Milena
Forró de Mané Vito - Eliana Pittman
ABC do sertão - Virginia Rosa
Deixa a tanga voar - Ela
Lorota boa - Silvia Machete
Siri jogando bola - China
Derramaro o gai - 5 a Seco

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