quarta-feira, 8 de agosto de 2012

AO PÉ DO OUVIDO// Pra que gritar tanto?

Por Rosualdo Rodrigues
Uma coisa irritante nesses programas televisivos que promovem competição entre aspirantes a cantor — tipo American idol e seu equivalente brasileiro, o Ídolos — é a supervalorização de um jeito de cantar totalmente norte-americano. É quase uma competição olímpica de quem tem mais fôlego, grita mais alto ou dá mais piruetas vocais.

Grandes modelos desse estilo são as cantoras como Mariah Carey, Whitney Houston, Toni Braxton, Celine Dion e todas que participaram do primeiro encontro da série Divas… Falo do primeiro porque não tive coragem de ver mais nenhum outro. Gritaria demais. “Grandes vozes a serviço do mal”, como diria um amigo meu.
(Tem uma cena engraçada em que a coitada da Carole King, como convidada especial, é sufocada pela gritaria das tais divas, especialmente de Aretha Franklin, que começa cantando lindamente Natural woman, mas entra numa viagem (vocalmente) exibicionista desnecessária para quem tem a história dela.
Mas tudo isso é para falar de duas cantoras surgidas recentemente que têm vozeirão, bebem fartamente na fonte do R&B e do blues e o usam com todo direito, e mesmo assim conseguem soar agradáveis: a escocesa Emeli Sandé e a inglesa Rebecca Ferguson. Ambas estrearam com discosbastante interessantes, Our version of events e Heaven, respectivamente.
O de Emeli é mais moderninho, aberto a influências mais amplas, a começar pelo hit Heaven, que traz elementos de drum’n’bass. O de Rebecca é mais tradicional, canções mais redondinhas, harmonias mais convencionais dentro do gênero a que se propõe. Mas os dois são igualmente ótimos.

Curiosamente, Rebecca surgiu a partir de um desses programas televisivos tipo American idol. Mais exatamente no britânico X-Factor. Mas escapa de ser mais uma que usa desnecessariamente a voz até o limite. Heaven tem alma e suor. Quem ainda não ouviu a moça, pode conferi-la em Glitter & gold.

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