quarta-feira, 15 de agosto de 2012

AO PÉ DO OUVIDO// Ana Cañas, uma ótima volta


Por Rosualdo Rodrigues

Visceral é a palavra que Ana Cañas usa para definir artistas que admira, como Billie Hollyday — uma paixão que ela traz gravada na pele, em forma de tatuagem — e Ney Matogrosso —diretor do show com ela excursiona atualmente. E, certamente inspirada por ídolos como esses, visceral é como Ana se apresenta no palco. Uma cantora intensa, que combina emoção com o uso preciso da voz e é capaz tanto de impressionar quem a assiste pela primeira vez quanto de reacender a admiração em quem já a conhece.

Transpor isso para o disco vinha sendo um problema para a cantora. Amor e caos, o álbum de estreia, era morno. Hein?!, o segundo, com uma pegada rock’n’roll, quente demais, digamos. Mas ela consegue o equilíbrio em Volta, disco que acaba de lançar. Recolhida em um sítio em Vargem Grande, Rio de Janeiro, acompanhada somente pelos músicos Fabá Jimenez e Fábio Sá, também coprodutores, Ana fez um disco intenso como ela é no palco.

Longe do estúdio, sentiu-se à vontade até para gravar standards do jazz — apesar de cantá-las corriqueiramente no palco, ela dizia ter receio de registrar músicas como essas em estúdio. O resultado é primoroso: Stormy weather e My baby just cares for me aparecem em versões muito pessoais, com arranjos minimalistas, e amparadas principalmente na “visceralidade” da intérprete. A mesma coisa ela faz com outras duas regravações, La vie en rose e Rock’n’roll (do Led Zepellin).

As outras 12 músicas do álbum são composições próprias — duas em parceria, com Dadi, e uma com a mexicana Natalia Lafourcade — que mostram uma criadora inspirada. Ela passa pelo blues (Diabo), pela passionalidade latina (No quiero tus besos), pela balada romântica retrô (Será que você me ama?), pela música francesa (L’amour) e alcança seu melhor momento em Volta, que, como criação, pode nem ser uma grande música, mas cresce imensamente na arrasadora interpretação de Ana Cañas.

Um dado curioso de bastidores é que Volta foi gravado em som ambiente — com canto de pássaros, latido de cachorros e cricri de grilhos — e depois “limpo” em estúdio. Isso também colaborou para a sonoridade despojada e natural.

Um comentário:

Vanessa disse...

Rosualdo, adoro seus posts de música! Aguardo por ele toda semana, e já descobri coisas muito boas indicadas por você :) E já curti muito ver por aqui coisas que amo, como a Regina Spektor :)
Parabéns!
Vanessa