sábado, 17 de março de 2012

GASTRONOMIX // Faça seu próprio sushi


Por Leoleli Camargo Schwartz (*)
Relato de uma aula de sushi

Fã incondicional de comida japonesa – se deixar ele come sushi e sashimi cinco vezes por semana – o meu marido há tempos insistia para fazermos um curso de culinária japonesa. O que era apenas uma vontade acabou se concretizando com aquelas promoções de cupom, que viraram uma febre (ou seria uma peste?) aqui no Brasil.

Terça de noite, eu exausta depois de um dia inteiro de trabalho, e lá estávamos nós, sentados na mesa de num japonês famoso de São Paulo, esperando a aula começar.
O professor chega, dá boa noite a todos e nos coloca de avental e touca numa sala com bancadas de metal aparelhadas com tábua, prato de arroz, pedaços de recheio para sushi e uma enorme faca para cortar peixe.

Começa então a explicar o que seria preciso ter em casa para fazer sushi, sashimi, niguiri, shimeji na chapa, sunomono – aquele pepininho com gergelim servido de entrada – e gari, a conserva de gengibre servida junto com os peixes.

Epa, e o resto dos pratos? Ah, isso faz parte dos módulos II e III, que não estão na promoção do cupom. Eu, que jamais pensei em fazer tempurá ou robatas em casa, me dei por satisfeita: saber fazer sushi e sashimi já está de bom tamanho.

Mal começa a aula teórica sobre a escolha dos ingredientes e lá vem a primeira surpresa da noite: “a receita de sushi que vocês vão aprender a fazer é para 10 pessoas porque o trabalho é o mesmo que dá para fazer para duas pessoas”, diz o professor. Pensei: xi, será mesmo que dá tanto trabalho?

A resposta veio na hora e meia seguinte em que eu fiquei em pé, escutando o professor versar sobre o peixe, a alga, o cogumelo, a faca, a panela e a precisa quantidade de água necessária para cozinhar o arroz que, aliás, exige quantias diferentes de água de acordo com a safra em que ele foi colhido.

E quando eu já estava desistindo de prestar atenção nas orientações para me atracar num pedaço sem graça de kani abandonado no prato à minha frente, começou a aula prática.

Pouco a pouco, e sem que fosse necessário lançar mão da única gota de paciência nipônica que eu devo ter perdida em mim, os ingredientes foram se transformando em comida japonesa de verdade. E a aula ficou surpreendentemente divertida. Em três horas de curso, aprendemos a fazer todas as receitas do módulo I. Aprendemos até a decorar o prato.

Foi aí que eu entendi que o grande barato de fazer sushi e sashimi é a sensação de montar com as próprias mãos aquelas coisinhas coloridas e delicadas que a gente normalmente recebe prontas e fica imaginando como foram feitas. Pelo menos para mim foi assim: um misto de curiosidade científica saciada com uma grande brincadeira de massinha de modelar que (essa é a melhor parte) você pode comer no final.

Se posso dizer que aprendi a fazer sushi e sashimi? A resposta virá quando criarmos coragem para angariar 10 amigos que se disponham a servirem de cobaia para o nosso experimento científico comestível. Enquanto isso não ocorre, só posso dizer que o curso de comida japonesa me ensinou a valorizar um bom restaurante. Agora que eu sei o trampo que dá para fazer oito pecinhas de sushi, juro que nunca mais reclamo do preço do rodízio.

(*) Leoleli Camargo Schwartz é jornalista e editora de Saúde do portal iG (
www.saude.ig.com.br).

Nenhum comentário: