quarta-feira, 7 de março de 2012

AO PÉ DO OUVIDO// Manja Letuce?

Por Rosualdo Rodrigues

Para quem ainda não ouviu falar em Letuce e Manja perene, vale a pena explicar: Letuce é uma dupla carioca formada pela cantora e compositora Letícia Novaes e pelo multi-instrumentista Lucas Vasconcellos; Manja perene é o nome do novo disco deles. Para quem já conhece a banda por meio do disco de estreia, Plano de fuga pra cima dos outros e de mim, ou de seus shows (fantásticos) vale a pena afirmar: o segundo álbum é melhor ainda.

A inventividade que chamou atenção em Plano de fuga… se mantém em Manja perene, mas vem coberta por uma camada de sofisticação. O pop sem fronteiras da dupla ganhou sonoridade mais apurada e cheia de nuances, o que o torna ainda mais interessante.Um exemplo é o arranjo de Pra passear, que começa delicado, ao piano, e sutilmente vai ganhando corpo no fim. Abre o disco anunciando a evolução entre um trabalho e outro. Essa impressão se confirma ao longo das 13 faixas.

Ao apuro sonoro somam-se a graça inteligente de letras lúdicas e, por vezes, inusitadas (como as de Fio solto, Cataploft e Loteria) e a maior segurança da vocalista. Letícia está cantando cada vez melhor, e Lucas se sai muito bem quando assume o vocal, em Areia fina e Anatomia sexual.

Letícia conta que o título — tirado da música Loteria —, foi ideia dela. “Eu sugeri. O Lucas riu, mas gostou. E falou: ‘É melhor tirar a interrogação, é interativo’. Tem uns amigos que não gostaram, mas até disso eu gosto, porque reafirma o lugar em que a gente quer estar, que é o de não ser óbvio”. A cantora, aliás, teve um aval valioso na escolha. “O Chacal, que é um poeta que admiro, disse: ‘Letícia, esse nome é maravilhoso!’. Quando pessoas como ele entendem a parada, eu fico: ‘Ai que maravilha!’.”

A
brincadeira com palavras, sonoridades e significados é recorrente nas letras de Manja perene. Cataploft, cucuruco, bacurinha, mequetrefe, traulitada, bedelho e maciota são algumas que aparecem. Letícia conta: “Sempre anotei palavras estranhas. Um dia, abri meu diário e disse: ‘Caramba, tenho muita palavra estranha!”. Resolveu então usá-las. “Não existe regra, palavras que podem e que não podem. ‘Bacurinha’ mesmo, teve um crítico que foi um pouco moralista, falou em ‘palavra despudorada’. Mas eu gosto de crítica negativa, é quase um prazer pensar que você é diferente. Há um abalo inicial, mas existe o prazer.”

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