quarta-feira, 14 de março de 2012

AO PÉ DO OUVIDO/ Da nova safra francesa

Por Rosualdo Rodrigues

A música francesa vai bem, obrigado. Ainda que tenha que evitar usar a língua pátria para poder ultrapassar as barreiras do país. Vejam, por exemplo, os mais recentes discos de artistas franceses a merecerem lançamento mundial (Brasil incluído): os duos Air e Justice fazem música em boa parte sem letra ou em inglês -- o Air ocasionalmente tem uma ou outra em francês -- e a cantora Charlotte Gainsbourg tem cada vez mais inglês no repertório.

Mas esse não é um mal que atinge só os franceses. É incrível a resistência do público do mundo inteiro a tudo que é estrangeiro e não é cantado em inglês – salvo raras exceções. E não é porque não entende que as pessoas não ouvem música em francês ou em que lingua for. Afinal, nem todo mundo entende o que é cantado na língua de Shakespeare, ainda que
toque no rádio, na novela, no bar, na festa e tals. Que o digam os cantores de churrascaria.

Mas, voltando aos franceses, eis três disquinhos que merecem atenção.





Le voyage dans la lune, do Air

No ano passado, Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel, que formam o Air, foram convidados para criar a trilha sonora para uma versão restaurada e colorizada do curta-metragem clássico do cinema mudo Viagem à lua, de Georges Meliés (aquele de fala o genial A invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese). Entregue a encomenda, eles decidiram desenvolver um álbum todo inspirado no filme. Em 11 faixas, o Air cria o itinerário de sua viagem com toda a liberdade que o termo "inspirado" permite, indo, como de hábito, do minimalismo new age (Lava) à música eletrônica mais dançante (Parade, o clipe é sensacional).

Audio, vídeo, disco, do Justice

Este é o segundo álbum de estúdio de Gaspard Augé e Xavier de Rosnay, que assinam por Justice. Desde 2003, eles vinham lançando singles e em 2007 lançaram o primeiro CD inteiro, que tem o símbolo de umá cruz como título, e em 2008 o ao vivo A cross the Universe. O Justice explora teclados e programações eletrônicas como o Air, mas é quase sempre mais para cima, e mais convencional também, para tocar no rádio e nas pistas. Civilization é um exemplo desse som mais acessível.



Stage whispers, de Charlotte Gainsbourg

O terceiro disco da também atriz Charlotte Gainsbourg traz oito faixas que ficaram de fora de seus dois primeiros álbuns — 5:55 (de 2006) e IRM (de 2009) — e outras 10 gravadas ao vivo durante a turnê europeia que ela fez em 2010. É um disco que não esconde a cara de colcha de retalhos, mas que mesmo assim vale a pena, principalmente porque tem Terrible angels, Paradisco e All the rain, todas composições que Beck fez para IRM, produzido por ele... E que tem a cara dele (essas não fogem à regra). Nas músicas ao vivo, Charlotte mostra que a voz quase sussurrada não é falta de fôlego, mas estilo (comum, aliás, entre cantoras francesas). Estilo, aliás, ela tem de sobra, seja na tela de cinema ou no palco.

Nenhum comentário: