quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

AO PÉ DO OUVIDO// De tudo um pouco é quase nada

















Por Rosualdo Rodrigues

"Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa, mas nada tanto assim". Isso, Paula Toller cantava em 1984. Quase três décadas depois, a personagem da música do Kid Abelha teria motivos multiplicados para ter pressa e não se aprofundar em coisa alguma. Isso é o nosso tempo. As informações vêm de todos os lados e nós as engulimos quase compulsoriamente; as possibilidades do que fazer (no trabalho ou no lazer) se tornaram tantas que não cabem num dia de 24 de horas, nem numa semana de sete dias.

Esse cenário tem tudo a ver com o shuffle, aquele recurso que surgiu com o aparelho de tocar CD e teve o efeito imensamente ampliado com a invenção do MP3. Se é que alguém não sabe, o shuffle, quando acionado, permite-nos ouvir as músicas em ordem aleatória. No caso do aparelho de CD, as faixas de um disco são tocadas à revelia do ouvinte. No aparelho de MP3, músicas de milhares de discos.

Ou seja, ao invés de colocar um disco e ouvi-lo do início ao fim, você pode ouvir, por exemplo, Eurythmics, seguido de Lady Gaga, Roberto Carlos, Sepultura, Claudia Leitte, Oasis… Claro, tudo depende do gosto de quem pôs os disquinhos lá. Enfim, ouve-se de tudo, sem que seja preciso se aprofundar nesse ou naquele cantor ou banda. Atende perfeitamente à pressa e à superficialidade típicas de nossos dias.

Pensando nisso, percorro com o dedo os discos na estante, buscando ALEATORIAMENTE alguns deles que, a meu ver, são tão bons que se torna um crime esquartejá-los no shuffle. Ou seja, são para serem ouvidos por inteiro. Vamos lá, cinco nacionais, cinco internacionais:

Elis & Tom, de Elis Regina e Tom Jobim
Uma obra-prima. Interessante ler no livro Solo, de César Camargo Mariano, sobre os bastidores da gravação

Mama mundi, de Chico César
Ainda o melhor disco de Chico até hoje. Bem resolvido, com algumas das canções mais inspiradas do paraibano. Talvez você e Barco são arrasadoras.

Pedaço de mim, de Zizi Possi
O segundo disco de Zizi é à prova de tempo. Um repertório finíssimo e uma cantora em perfeita forma. Fruto maduro, com participação de A Cor do Som, é um exemplo.

Anahí, de Tetê e Alzira Espíndola
Uma viagem pelo interior do Brasil nas reminiscências musicais das irmãs mato-grossenses, que cantam guarânias e clássicos do sertanejo de raiz

Iáiá, de Mônica Salmaso
Porque tudo que ela canta vira ouro e este disco, particularmente, é perfeito.

Debut, de Bjork
O primeiro solo da islandesa, mais acessível e por isso mesmo mais divertido do que as experimentações cada vez mais radicais (e chatas) que ela vem fazendo. É dele Venus as boy.

The language of love, do Everything buit the girl
Elegante, cool, original... Driving é a mais conhecida do disco.

18 essential songs, de Janis Joplin
Como está escrito no título, é “o essencial” de Janis. Quer mais?

Fever, de Kylie Minogue
Uma dessas delícias pop, tipo algodão doce, que não alimenta, mas a gente adora.

Paris, de Malcolm McLaren
Ele se apropria de Satie, The Doors, Françoise Hardy... E faz uma colagem que é o retrato perfeito de uma Paris que está no imaginário de muita gente.

3 comentários:

Cuina Cinc disse...

Que faria el món sense la música:))

Roberio disse...

Tava ouvindo muita musica desse jeito, agora escuto um disco de cada vez, como nos velhos tempos, é bem melhor.Abraços

Eduardo Severi disse...

Excelente paralelo entre o consumo de informação e a música (ou ao 'esquartejamento' musical, rs)! Parabéns pelo texto e pelas dicas.