sábado, 10 de dezembro de 2011

ABOBRINHAS // Natal sem fome


Luciano MilhomemColunista de Alimentação Natural do Gastronomix

Inventei de voltar à nutricionista um mês antes das festas de fim de ano. Agora, olho para a dieta e me pergunto se vou conseguir ser forte o bastante para renunciar a porções extras de panetone, torta, frutas cristalizadas, nozes, castanhas, arroz com passas, enfim todos os acepipes típicos desta época do ano. Ela também me pediu para reduzir drasticamente o consumo de refrigerantes. É mole ou quer mais? Já não como carnes. O que me resta?

Parei para pensar e tive um pesadelo acordado. Imaginei uma confraternização à base de frutas frescas e sucos. Nada mais. Aprecio muitíssimo frutas frescas e sucos, mas passar uma tarde à base disso? E se a confraternização for à noite? Lá estou eu, em um bar, rodeado de amigos, tomando água mineral e, disfarçadamente, mastigando uma barrinha de cereais.

Enquanto isso, eles entornam cerveja gelada ou refrigerante com gelo, até mesmo espumante. Partem para as batatinhas ou mandioquinhas fritas, pastéis de toda sorte, quibes, esfirras, bolinhos. Pouco se importam se vão ganhar um, dois, três quilos. Querem se divertir. Dane-se a balança! Ali, o que pesa é a alegria de viver e conviver.

Masoquista, imaginei a ceia de Natal. Apesar de não ser tradicional e achar que a data não passa de uma convenção – afinal, a história já provou que Jesus não nasceu em 25 de dezembro – celebro o Natal com a família. É uma oportunidade para reunir os mais próximos e tentar uma confraternização nem sempre possível ao longo do ano, marcado pela pressa, pelo estresse, pela falta de tempo. E lá estou eu diante da mesa: salada de folhas verdes, salada de legumes (sem maionese), salada de frutas... Socorro!!!

Definitivamente, Juliana, não dá. Desculpe-me, mas não dá. Seguir a dieta que você me passou, nesta época do ano, me parece impossível. Posso tentar fechar a boca nos dias em que não houver confraternização. Posso tentar malhar mais pesado um pouco. Talvez eu corra mais alguns quilômetros.

Agora, não me peça para ignorar panetones, papais noeis de chocolate, bolinhos, rabanadas, arroz com passas, tortas de legumes, pães recheados, nozes, frutas cristalizadas, pasteis de queijo e de palmito, queijos e – perdoem-me, vegetarianos stricto sensu – até um Bacalhau à Zé do Pipo! Isso mesmo. Quem quiser pode me espancar em praça pública. Pode me converter em um Judas fora de época. Tudo bem. Só não me deixe passar fome.

Já imaginou eu virar para o porteiro do meu bloco ou para os lixeiros da minha quadra e dizer assim: “Olha, minha contribuição à caixinha vai ser modesta neste ano porque defendo dieta no Natal. Já que eu não como nada, para ser coerente, vou defender que todo o mundo feche a boca também.”? Com toda a razão, vão rir na minha cara. Dieta no Natal? Ninguém merece. Nem mesmo quem ganhou 3 quilos nos últimos meses. Afinal, de que adianta passar fome e se estressar? Já li e ouvi que estresse também engorda.

Quem não come carne, portanto, deve estar liberado para comer e beber tudo o mais. Que venham as saladas, as tortas, os bolos, os rocamboles, os pastéis, as massas! Que venham os sucos, os refrigerantes (podem ser zero cal), os vinhos, os espumantes! Está bem, Juliana, com moderação. Sem exageros. Mas também sem paranóia, sem sofrimento. Enfim, um Natal sem fome. E muito feliz. Para todos. Sem exceção.

(*) Luciano Milhomem é jornalista e bacharel em Filosofia. Mestre em Comunicação pela UnB e não come quadrúpedes e bípedes há mais de quatro anos.

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