quarta-feira, 9 de novembro de 2011

AO PÉ DO OUVIDO//O trivial requintado de Marisa

Por Rosualdo Rodrigues

É o que eu estava dizendo a uns amigos outro dia: música tem muito a ver com comida. A partir de uma combinação de ingredientes – ritmo, melodia, harmonias, letra --, faz-se o prato, ou melhor, a canção. E assim como na culinária, é preciso equilíbrio na combinação desses ingredientes, a medida exata no uso dos temperos – um solo de guitarra aqui, uma percussão discreta acolá...

Os críticos gastronômicos já descobriram que no trivial também é possível encontrar boa gastronomia. Um prato de feijão com arroz pode ser “o prato de feijão com arroz”; a coxinha do bar dali da esquina pode ser uma iguaria dos deuses... Já os críticos de música, na maioria – e não somente os profissionais, mas os que encontramos em mesas de bar, no ambiente de trabalho e no Facebook -- ainda olham torto para qualquer música que caia – ou tenha potencial para cair – no gosto do grande público.

Para esses, música boa quase sempre é aquela que vai ficar restrita a uma meia dúzia de admiradores (que, por sua vez, estão nesta meia dúzia porque são inteligentes e antenados). Vem desse pensamento, a meu ver, as críticas negativas ao novo disco de Marisa Monte, algumas escritas com aquela má vontade e superioridade de crítico que se considera, mais que crítico, um juiz.

O que você quer saber de verdade não é uma obra-prima, não é o melhor disco de Marisa, não é um dos melhores do ano, mas é um disco delicioso. Tem aqui e ali um quê de Roberto Carlos, de música de rádio, está cheio de baladas facilmente assimiláveis. Mas, se o prato que ela serve é trivial, é feito por uma cozinheira de mão cheia, daquelas que usam ingredientes de primeira, que sabe combiná-los, que conhece o tempo certo de cozimento. E que tem um tempero capaz de tornar qualquer prato no mínimo agradável: aquela voz de sereia.

O que você quer saber de verdade tem letras simples, mas a boa música pop (e popular) evita rebuscamento em sua mensagem, é pra gente ouvir e cantar junto mesmo; cantarolar no banheiro ou onde quer que seja. O que você quer saber de verdade é um disco alto astral, colorido musicalmente, para gente que tem vocação para a felicidade, e não para crítico azedo.´


PS -- O disco pode ser ouvido em streaming no Sonora

Um comentário:

Daniel disse...

Uau! Delícia de crítica. Já quero ouvir o cd.