sábado, 1 de outubro de 2011

ABOBRINHAS // Os ex., parte 2


Luciano MilhomemColunista de Alimentação Natural do Gastronomix

No sábado retrasado, publiquei aqui uma síntese da experiência de meu amigo Gustav, sueco que deixou de ser vegetariano depois de 12 anos sem comer carne. Desta vez, relato o caso de Paulo, um amigo de Salvador (Bahia), que também deixou de ser vegetariano após 15 anos de dieta exclusivamente à base de vegetais. Ainda me impressiono com essas histórias, pois não me vejo na mesma situação.

Na minha cabeça, aqui e agora, não comer carne é uma espécie de vitória sobre os instintos animais. Sinto-me bem e bastante saudável. Não cogito a hipótese de adotar outra dieta. Ao contrário, penso em “radicalizar” a atual. Mas, curiosamente, isso pode mudar, como se deu com Paulo.

Ele conta que se tornou vegetariano aos 18 anos de idade, quando saiu da cidade onde nasceu, no interior da Bahia. Mas, desde criança, “quando comia certas coisas”, passava mal, tinha azia e enxaqueca. “Ao me mudar para Salvador, na época da faculdade, tinha uma colega que via meu sofrimento e, sendo vegetariana, me falou dos benefícios da dieta. Logo me interessei e fui a um desses médicos importantes que cobram uma consulta pela hora da morte, mas que tem algum trabalho voltado para os pobres e desfavorecidos. Por isso, consegui ser atendido e começar a mudar”, revela.

Paulo prossegue: “Depois da consulta com o médico, voltei para casa decidido a mudar radicalmente, mas, como eu não tinha em casa nada do que ele havia me receitado e precisava ir para a aula na faculdade, comi um acarajé com tudo a que tinha direito (vatapá, caruru, camarão, salada e pimenta), um verdadeiro jantar. No mesmo dia, tive uma azia que me fez passar a noite com uma bolsa de gelo no abdômen.

Fiquei muito assustado ao descobrir que uma das causas dos meus problemas de saúde eram exatamente os erros alimentares que cometia e, claro, a carne. Esses alimentos eram bomba para mim, por isso, não foi difícil deixar de comer [carne] logo. O problema era a vida corrida na capital, com estudos e trabalho, que me deixavam sem tempo e dinheiro para seguir uma dieta tão exigente. Naquela época, restaurante vegetariano era um luxo destinado a gente exótica e sem outras preocupações na vida. Além do mais, como eu tinha um problema de saúde, precisava de acompanhamento profissional.”

Pergunto a meu amigo se, quando era vegetariano, ele não comia carne nunca, de nenhum tipo, ou se ele se permitia quebrar a dieta de vez em quando. “Quando assumi de vez a dieta, deixei de comer todo tipo de carne e não comia nunca, pois via os resultados – parei de ter enxaqueca e azia quase que imediatamente. E, claro, me sentia muito bem em outras áreas da vida, menos com o fato de ser magrinho. As pessoas começaram a perguntar se eu estava doente, justo no momento em que eu gozava de boa saúde”, ele me respondeu.

Paulo foi “vegetariano radical” (palavras dele mesmo) por aproximadamente 15 anos e depois por mais dois, “sem comer algumas coisas que me faziam mal, principalmente a carne de boi.” Até hoje, Paulo adota costumes da época, os quais ele incorporou a sua vida, como frutas e iogurte no desjejum, iniciar o almoço e o jantar com saladas, além de comer sopa, massas integrais e uma série de alimentos naturais.


Quero entender por que, então, Paulo abandonou o vegetarianismo. Ele me diz que começou a abrir mão da dieta por livre e espontânea vontade, especialmente ao perceber uma diversidade de mitos e falsas verdades absolutas [em torno do vegetarianismo] e “quando a dieta começou a virar dogma e bandeira a defender, coisas de que nunca gostei.”

Paulo conta que via muita hipocrisia “nessa história”. Por exemplo, ele menciona ter de preparar diariamente o iogurte para tomar fresco enquanto um dos médicos que o atendia passou a vender iogurte com validade de uma semana; ter sido proibido de comer enlatado, quando via nas compras de alguns adeptos do vegetarianismo os ditos produtos venenosos; ou encontrar colegas e profissionais “se esbaldando” em restaurantes e festas, muitas vezes regadas a bebidas alcoólicas e drogas. “Isso tudo começou a me encher o saco, além, é claro, da falta de praticidade na forma como éramos orientados a praticar a dieta.”

Indago, então, qual foi a principal diferença que Paulo sentiu ao retomar a dieta com carnes e se o organismo dele reagiu bem ao consumo de carnes depois de tanto tempo privado delas. Ele me responde com franqueza: “A primeira vez que comi carne tive uma diarréia que quase me matou. E permaneci muito tempo passando mal toda vez que comia, principalmente a carne de boi e outras comidas pesadas, como feijoada, caruru, moquecas, dentre outras. Além disso, passei a sentir o estômago cheio, gases, prisão de ventre, mudança no odor do corpo, hálito, fadiga... Hoje, já estou mais acostumado, mas sempre lanço mão de alguma coisa da dieta [vegetariana] e sinto-me bem melhor.”

Assim como Gustav, Paulo surpreendentemente diz não sentir falta dos tempos de vegetarianismo e não pensa em voltar a ser vegetariano. “Lembro-me com satisfação, até porque nunca mais tive enxaqueca, que foi a motivação para adotar a dieta [vegetariana]. Pretendo, sim, manter alguns hábitos que aprendi, mas quero continuar com essa liberdade de comer carne e verduras quando tenho vontade. Assim, sinto-me mais feliz!”.

(*) Luciano Milhomem é jornalista e bacharel em Filosofia. Mestre em Comunicação pela UnB, ele não come seres bípedes e quadrúpedes há mais de 4 anos

Um comentário:

Leo clvdutra@gmail.com disse...

Que medíocre, não existe ex-vegetariano, ou vc é ou nunca foi! Não suje o termo, se bobiar era um desses vegetarianos que comiam peixe e frango e só de vez em quando (na primeira oportunidade) comiam carne pq não tinham outras opções.