sábado, 11 de dezembro de 2010

GASTRONOMIX // Uma noite no museu


O nosso intrépido cronista do Gastronomix, jornalista e filósofo Luciano Milhomem, esteve de férias em Portugal recentemente. E de lá da terrinha, Lisboa, ele trouxe uma belíssima dica. Vejam só o texto que ele escreveu para nós:

“Foi meu amigo Carlos Wilson quem recomendou. “Não deixe de ir ao Pavilhão Chinês!”, me disse por telefone, meio às pressas, quando soube que eu estaria a caminho de Lisboa nos próximos dias. Não forneceu detalhes. Sondei outro amigo jornalista, Rui Nogueira, português de nascimento, mas há muito abrasileirado, graças às décadas de vida no Brasil, com mulher e filhos brasileiros. Rui, que ama Lisboa, apenas reforçou a indicação: “Vale a pena!” E não pedi pormenores, envolvido que estava em apanhar com ele outras tantas dicas sobre a capital portuguesa. Lá fui eu.

Era minha segunda visita a Lisboa. A primeira havia sido muitos anos atrás. Lembrava-me pouco do que tinha visto então. Mas uma certeza eu tinha: jamais havia pisado o tal Pavilhão Chinês. No hotel, indicaram-me o caminho. Quanta sorte! O lugar ficava bem perto dali, no Bairro Alto mesmo. O problema estava só no fato de eu procurar um pavilhão... Onde haveria um na simpática Rua Dom Pedro V?

Perguntei a uma portuguesa ocupada em seu quiosque. Respondeu-me com aquele inegável sotaque e o dedo a indicar uma luz avermelhada mais adiante. Nada de pavilhão ali. Bem, cheguei mais perto. Lá estava ele, com fachada mais semelhante à de um restaurante ou café. Parecia fechado. Já começava a me sentir desapontado quando notei, surpreso, a existência de uma campainha. Não foi preciso tocá-la. Alguém saía dali, e um senhor de branco me recebeu. Entrei.

Era noite de um dia útil. Havia muito pouca gente ali. Afinal, nem todo o mundo estava de férias na cidade, como eu. Fui adentrando o lugar, admito que com certa desconfiança. Não tinha a menor ideia do que encontraria. Para minha surpresa, tratava-se de um bar, um bar-museu! À primeira vista, nada ali lembra um bar. O ambiente remete àquelas antigas mansões do final do século 19. Poderia ser a casa de uma velha tia portuguesa. Mas era um bar!

Consta que o decorador Luís Pinto Coelho reuniu peças de sua coleção particular – quadros, esculturas, bustos, cerâmicas, uniformes militares, capacetes, bandeiras, soldadinhos de chumbo (centenas deles!), miniaturas, protótipos – e reorganizou tudo em uma mercearia do início do século 20 e inaugurou ali o bar-museu, já se vão 24 anos. Os objetos do século 18 em diante estão espalhados por cinco salas decoradas com requinte. O mobiliário é praticamente todo em madeira, e a cor vermelha predomina nos tapetes e estofados.

Antes de percorrer a casa inteira e admirar a profusão de adoráveis quinquilharias – canecas, embarcações, carros e até aviões em miniatura – sentei-me e pedi o cardápio. Difícil decidir ali... São pelo menos 40 tipos de chá e outras tantas opções de vinho, uísque, coquetel. A carta do bar, a propósito, é atração à parte. Em formato de livro, traz divertidas ilustrações de autoria do próprio Luís Pinto Coelho, que remetem à cultura boêmia, típica dos clubes ingleses e dos cabarés franceses da Belle Époque. Há desde o tradicional Dry Martini até o “da casa” Pavilhão Chinês (rum e curaçao citrinados e com toque de abacaxi).

Em meio a uma centena de possibilidades, escolhi o coquetel Golden Cadillac. Estava realmente muito bom. Pudera! Por 7,50 euros (cerca de 20 reais)! Acontece que ali não se consome apenas bebida, mas um ambiente e todo um estilo. Enfim, mais relaxado, puxei assunto com o garçom que me atendeu. Foi com extrema boa vontade que me apresentou as dependências completas do Pavilhão Chinês.

Na sala de bilhar, quis saber mais sobre aquele incrível bar-museu, “o único do mundo”, nas palavras desse jovem atendente, que deixou emprego onde poderia ganhar melhor apenas para ter a honra de trabalhar no mais tradicional bar da cidade.

Em 2011, a casa completa 25 anos. Chama-se Pavilhão Chinês porque seu proprietário optou por manter o nome da antiga mercearia que funcionava ali e vendia, entre outros itens, finas especiarias, mercadoria típica do Oriente. Com muito chão pela frente – Lisboa era apenas o ponto de partida das minhas férias – preferi não exagerar na dose, literalmente. Contentei-me com um único coquetel e com a experiência inesquecível daquele bar-museu, capaz de transportar o freqüentador para o final do século 19. Definitivamente, obrigatório”.

Pavilhão Chinês
Rua Dom Pedro V, número 89
Lisboa - Portugal
Telefone: 213 424 729
Site: http://barpavilhaochines.blogspot.com/

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