quarta-feira, 7 de julho de 2010

AO PÉ DO OUVIDO // Lembrando Cazuza

Por Rosualdo Rodrigues

Hoje é aniversário de uma data triste, mas que deve ser lembrada. Há 20 anos morria Cazuza, um dos personagens principais daquilo que chamavam de Rock Brasil, lá nos anos 80. Sob esse rótulo genérico se abrigava todo tipo de proposta, mas Cazuza, assim como Renato Russo, se tornou uma prova daquela história de que “o que é bom sobrevive”. Mesmo depois da morte. Passados os anos, ninguém duvida de que Cazuza e Renato foram os porta-vozes de uma geração. Aquela que descobria o mundo enquanto caía o Muro de Berlim, a ditadura militar agonizava no Brasil, as ombreiras eram moda, os antenados ouviam The Smiths e assistiam a mostras de cinema alemão, as ideologias já não diziam muito…

Curiosamente, e muito provavelmente por isso mesmo, cada um tinha estilo distinto. Renato Russo era o nerd, Cazuza da turma-do-fundão. Renato, intelectual; Cazuza, intuitivo, instintivo. Renato era inspirado pela Brasília dos burocratas, políticos, militares, diplomatas e ainda de muitos espaços vazios. Cazuza era Rio de Janeiro, o desbunde de Ipanema, o burburinho do Circo Voador, as noitadas no Morro da Urca. Em comum tinham o fato de traduzir com perfeição o que sentiam, e o que sentiam era basicamente o mesmo que muitos de sua geração, que se identificavam de pronto com seus versos.

E não há como resistir à tentação de imaginar o que nossos ídolos estariam fazendo se estivessem vivos. No caso de Cazuza, em particular, imagino: teria encaretado? manteria uma rebeldia anacrônica? seria o compositor obrigatório das novas cantoras? teria lapidado seu estilo, fazendo na música o que Pedro Almodóvar conseguiu no cinema — se tornar sofisticado sem perder a acidez? Essa interrogação que fica talvez seja o grande trunfo dos que morrem cedo.

Pra fechar, uma do Cazuza. Tão ele, tão 80….

Down em mim


Eu não sei o que o meu corpo abriga
Nestas noites quentes de verão
E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down

Outra vez vou te cantar, vou te gritar
Te rebocar do bar
E as paredes do meu quarto vão assistir comigo
À versão nova de uma velha história
E quando o sol vier socar minha cara
Com certeza você já foi embora
Eu ando tão down
Eu ando tão down

Outra vez vou me esquecer
Pois nestas horas pega mal sofrer
Da privada eu vou dar com a minha cara
De panaca pintada no espelho
E me lembrar, sorrindo, que o banheiro
É a igreja de todos os bêbados
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Down... down

E para matar saudade:
http://www.youtube.com/watch?v=u-xItSZrxIs&feature=related

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