Por Rosualdo Rodrigues
Em se tratando de música, tão prazeroso quanto descobrir uma boa novidade é reencontrar um disco que fez nossa cabeça em certo momento e que há tempos não ouvimos. No último fim de semana, sem nenhuma razão aparente, tirei da prateleira o Infinito particular de Marisa Monte e tive essa sensação. Esse CD tem significado especial para mim: foi um companheiro inseparável no momento mais doloroso que vivi em minhas mais de quatro décadas de vida, em março de 2006.
No dia em que comprei Infinito particular e Universo ao meu redor, recebi a notícia da morte de minha mãe. Viajei às pressas e na volta, três ou quatro dias depois, encontrei a sacolinha com os dois CDs em cima da mesa da sala. O estado emocional em que me encontrava fez com que eu me identificasse mais com o Infinito do que o outro. E lembro ouvir de muita gente na ocasião que preferia o Universo porque o outro era "triste", "baixo astral", "arrastado"...
E não é nada disso. Infinito particular não é alegre, é feliz. De um otimismo meio riponga até, e que soa muito bonito. Ele é carregado de imagens positivas. A pessoa que se abre ao outro sem reservas (Infinito particular), um mundo ideal, espécie de Shangrilá (Vilarejo), uma moça tão encantadora que todos gostariam de ter como irmã ou amiga (Gerânio), a pureza do amor enfrentando a falta de sentido do mundo (Levante)... Até o fim do amor é descrito com resignação ("Aconteceu o que aconteceu, foi melhor assim, estava por um fio...").
E essas coisas não são ditas em clima de festa, mas como um afago. Infinito particular é aconchego, um lugarzinho quente em dia de chuva. A sonoridade desse disco é um espetáculo (obra do genial Alê Siqueira, que para mim é "o produtor"), delicada, aveludada, sublinhando tudo que as letras dizem. Os arranjos, dominados na maior parte das vezes pelas cordas, são cheios de detalhes que o tornam um desses discos que precisam ser escutados com atenção para serem apreciados de fato. Além de tudo, é, a meu ver, o disco em que Marisa Monte dá um enorme salto qualitativo como compositora.
Por tudo isso, ele me caiu como uma luva naquele momento e continua a ser assim em momentos de cansaço. É meu acalanto. E tem uma canção de ninar, O rio, em que a mãe diz ao filho que repare no fluir do rio para entender que a vida segue ("Lembra, meu filho, passou, passará. Essa certeza a ciência nos dá..."). Eu ouvia aquilo e pensava: "Minha mãe me diria isso". Valeu naquela ocasião, vale ainda hoje.
Em se tratando de música, tão prazeroso quanto descobrir uma boa novidade é reencontrar um disco que fez nossa cabeça em certo momento e que há tempos não ouvimos. No último fim de semana, sem nenhuma razão aparente, tirei da prateleira o Infinito particular de Marisa Monte e tive essa sensação. Esse CD tem significado especial para mim: foi um companheiro inseparável no momento mais doloroso que vivi em minhas mais de quatro décadas de vida, em março de 2006.
No dia em que comprei Infinito particular e Universo ao meu redor, recebi a notícia da morte de minha mãe. Viajei às pressas e na volta, três ou quatro dias depois, encontrei a sacolinha com os dois CDs em cima da mesa da sala. O estado emocional em que me encontrava fez com que eu me identificasse mais com o Infinito do que o outro. E lembro ouvir de muita gente na ocasião que preferia o Universo porque o outro era "triste", "baixo astral", "arrastado"...
E não é nada disso. Infinito particular não é alegre, é feliz. De um otimismo meio riponga até, e que soa muito bonito. Ele é carregado de imagens positivas. A pessoa que se abre ao outro sem reservas (Infinito particular), um mundo ideal, espécie de Shangrilá (Vilarejo), uma moça tão encantadora que todos gostariam de ter como irmã ou amiga (Gerânio), a pureza do amor enfrentando a falta de sentido do mundo (Levante)... Até o fim do amor é descrito com resignação ("Aconteceu o que aconteceu, foi melhor assim, estava por um fio...").
E essas coisas não são ditas em clima de festa, mas como um afago. Infinito particular é aconchego, um lugarzinho quente em dia de chuva. A sonoridade desse disco é um espetáculo (obra do genial Alê Siqueira, que para mim é "o produtor"), delicada, aveludada, sublinhando tudo que as letras dizem. Os arranjos, dominados na maior parte das vezes pelas cordas, são cheios de detalhes que o tornam um desses discos que precisam ser escutados com atenção para serem apreciados de fato. Além de tudo, é, a meu ver, o disco em que Marisa Monte dá um enorme salto qualitativo como compositora.
Por tudo isso, ele me caiu como uma luva naquele momento e continua a ser assim em momentos de cansaço. É meu acalanto. E tem uma canção de ninar, O rio, em que a mãe diz ao filho que repare no fluir do rio para entender que a vida segue ("Lembra, meu filho, passou, passará. Essa certeza a ciência nos dá..."). Eu ouvia aquilo e pensava: "Minha mãe me diria isso". Valeu naquela ocasião, vale ainda hoje.
4 comentários:
Lindo texto, Rosu! Aproveito a ocasião para indicar-lhe a banda Pinback (um pouco daquela coisa "densa" de que gostamos tanto).
admito que não ouvi esse disco direito. depois dessa, vou ouvir.
Texto belíssimo, sobre um disco que é sim um afago, um carinho de mãe. Também amo e também me traz lembranças de outro tempo. Eu apaixonada. Vivendo um amor impossível que se perdeu com o tempo dentro do meu Infinito Particular, meu amor casou-se com outra. A mim restou a saudade e a solidão. Nem a amizade ficou daquela delícia de paixão.
pois é, mônica. ainda bem que existe a música para amenizar a dor que nos causam esses revezes da vida...
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