Luciano MilhomemColunista de Alimentação Natural do Gastronomix
O ser humano em geral parece ser apreciador de uma estranha iguaria, o preconceito. Há variedade incrível de conclusões apressadas no cardápio. Quem não come carnes sabe muito bem disso, pois, volta e meia, é alvo de uma série de prejulgamentos. Aqui e ali, não falta quem insinue que o vegetariano é, no mínimo, um esquisito. E é justamente o preconceito contra os adeptos do menu sem carnes o tema de minha crônica de hoje. No final, para não perder o hábito, dou dica de onde provar uns pasteizinhos de legumes que – hummmm... – fazem qualquer um esquecer que existe atrito até sobre comida.
Um dos preconceitos mais comuns contra vegetarianos vem temperado com alta dose de comiseração. Muita gente julga que os vegetarianos são um bando de românticos que colocam sua saúde em risco só porque sentem pena dos animais e não levam em conta que o ser humano está no topo da cadeia alimentar. De fato, há vegetarianos que não ingerem carnes porque discordam do extermínio em massa de bois, vacas, galinhas, patos, codornas, robalos, trutas. Mas não são todos, e mesmo os ardorosos defensores dos animais raramente perseguem quem não vive sem picanha assada na brasa ou pato no tucupi.
Mas há formas mais sutis de se servir preconceito. Por exemplo: admiração. Ouvi um grande amigo me dizer, certa vez, que ainda não havia “evoluído o bastante para deixar de comer carne”. Não percebi qualquer sinal de ironia no que ele me disse. Estava sendo sincero. Mas o preconceito é isto mesmo: um pré-conceito, uma concepção a priori, anterior ao conhecimento. Precisei deixar claro para ele que, ao menos no que diz respeito a mim, não há qualquer pretensão ética, tampouco religiosa, ao deixar de comer carnes. Se eu experimento algum tipo de “evolução”, essa só pode ser “física”, isto é, corporal, pois, de fato, acho que muita carne não faz bem ao corpo, à saúde física em geral.
Enfim, quando tenho oportunidade e acho que vale a pena, tento derrubar alguns mitos:
( 1 ) Para muitos vegetarianos (ou semivegetarianos), abrir mão das carnes foi decisão baseada meramente no bem-estar físico. Comer carne animal, para algumas pessoas, causa mal-estar: estômago pesado, digestão difícil, sonolência, azia, entre outros incômodos. Trata-se, portanto, de uma concessão ao corpo. Nada que ver com religião ou crença de qualquer tipo. Há pessoas intolerantes, por exemplo, à lactose e, por isso, devem evitar leite e derivados. Outras simplesmente reagem mal às carnes, sobretudo as vermelhas.
( 2 ) A maioria dos vegetarianos está careca de saber que carnes contêm proteína. Por isso, buscam-na em alimentos como soja, ovo, leite, queijo, entre várias alternativas. Há também suplementos alimentares – como o Whey Protein e assemelhados – para quem prefere evitar produtos de origem animal ou simplesmente complementar a dieta regular. Se algum vegetariano adoecer por falta de proteína, pode ser por desleixo, não por ignorância.
( 3 ) Deixar de comer carnes não é exatamente um indício de superioridade moral. No máximo, indica preocupação maior com a própria saúde ou interesse por uma alimentação mais leve. Há até historiadores que defendam o fato de que Adolf Hitler tenha sido vegetariano. Mito ou não, o fato é que deixar de comer carnes não transforma ninguém em santo.
( 4 ) Reconheço que alguns vegetarianos também façam lá seus discursos inflamados em defesa da dieta sem carnes. Mas até esses sabem, no fundo, que ninguém muda de hábito alimentar por decreto. É preciso respeitar o gosto de cada um.
A propósito de gosto, comi em São Paulo uns pastéis de legumes simplesmente inesquecíveis. O restaurante nada tem de sofisticado, mas a comida é farta e saborosa. O Cachoeira Tropical fica no Itaim Bibi. Por apenas R$ 18,00, come-se à vontade. Os tais pasteizinhos merecem lugar especial no prato. Se são gordurosos? Nem um pouco! Nem sequer são fritos. Eles são assados, o que os deixa ao mesmo tempo sequinhos e crocantes. A maioria das receitas do lugar é à base de proteína de soja. Há saladas diversas e massas, inclusive pizza vegetariana, e generoso buffet de doces – com e sem açúcar. Ninguém se lembra de preconceito em lugares assim!
Cachoeira Tropical
Rua João Cachoeira, 275
Itaim Bibi, Zona Sul (SP)
Telefone: (11) 3167 5211.
(*) Luciano Milhomem é jornalista, mestre em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB) e não ingere carne de bípedes e quadrúpedes há dois anos e meio.
O ser humano em geral parece ser apreciador de uma estranha iguaria, o preconceito. Há variedade incrível de conclusões apressadas no cardápio. Quem não come carnes sabe muito bem disso, pois, volta e meia, é alvo de uma série de prejulgamentos. Aqui e ali, não falta quem insinue que o vegetariano é, no mínimo, um esquisito. E é justamente o preconceito contra os adeptos do menu sem carnes o tema de minha crônica de hoje. No final, para não perder o hábito, dou dica de onde provar uns pasteizinhos de legumes que – hummmm... – fazem qualquer um esquecer que existe atrito até sobre comida.
Um dos preconceitos mais comuns contra vegetarianos vem temperado com alta dose de comiseração. Muita gente julga que os vegetarianos são um bando de românticos que colocam sua saúde em risco só porque sentem pena dos animais e não levam em conta que o ser humano está no topo da cadeia alimentar. De fato, há vegetarianos que não ingerem carnes porque discordam do extermínio em massa de bois, vacas, galinhas, patos, codornas, robalos, trutas. Mas não são todos, e mesmo os ardorosos defensores dos animais raramente perseguem quem não vive sem picanha assada na brasa ou pato no tucupi.
Mas há formas mais sutis de se servir preconceito. Por exemplo: admiração. Ouvi um grande amigo me dizer, certa vez, que ainda não havia “evoluído o bastante para deixar de comer carne”. Não percebi qualquer sinal de ironia no que ele me disse. Estava sendo sincero. Mas o preconceito é isto mesmo: um pré-conceito, uma concepção a priori, anterior ao conhecimento. Precisei deixar claro para ele que, ao menos no que diz respeito a mim, não há qualquer pretensão ética, tampouco religiosa, ao deixar de comer carnes. Se eu experimento algum tipo de “evolução”, essa só pode ser “física”, isto é, corporal, pois, de fato, acho que muita carne não faz bem ao corpo, à saúde física em geral.
Enfim, quando tenho oportunidade e acho que vale a pena, tento derrubar alguns mitos:
( 1 ) Para muitos vegetarianos (ou semivegetarianos), abrir mão das carnes foi decisão baseada meramente no bem-estar físico. Comer carne animal, para algumas pessoas, causa mal-estar: estômago pesado, digestão difícil, sonolência, azia, entre outros incômodos. Trata-se, portanto, de uma concessão ao corpo. Nada que ver com religião ou crença de qualquer tipo. Há pessoas intolerantes, por exemplo, à lactose e, por isso, devem evitar leite e derivados. Outras simplesmente reagem mal às carnes, sobretudo as vermelhas.
( 2 ) A maioria dos vegetarianos está careca de saber que carnes contêm proteína. Por isso, buscam-na em alimentos como soja, ovo, leite, queijo, entre várias alternativas. Há também suplementos alimentares – como o Whey Protein e assemelhados – para quem prefere evitar produtos de origem animal ou simplesmente complementar a dieta regular. Se algum vegetariano adoecer por falta de proteína, pode ser por desleixo, não por ignorância.
( 3 ) Deixar de comer carnes não é exatamente um indício de superioridade moral. No máximo, indica preocupação maior com a própria saúde ou interesse por uma alimentação mais leve. Há até historiadores que defendam o fato de que Adolf Hitler tenha sido vegetariano. Mito ou não, o fato é que deixar de comer carnes não transforma ninguém em santo.
( 4 ) Reconheço que alguns vegetarianos também façam lá seus discursos inflamados em defesa da dieta sem carnes. Mas até esses sabem, no fundo, que ninguém muda de hábito alimentar por decreto. É preciso respeitar o gosto de cada um.
A propósito de gosto, comi em São Paulo uns pastéis de legumes simplesmente inesquecíveis. O restaurante nada tem de sofisticado, mas a comida é farta e saborosa. O Cachoeira Tropical fica no Itaim Bibi. Por apenas R$ 18,00, come-se à vontade. Os tais pasteizinhos merecem lugar especial no prato. Se são gordurosos? Nem um pouco! Nem sequer são fritos. Eles são assados, o que os deixa ao mesmo tempo sequinhos e crocantes. A maioria das receitas do lugar é à base de proteína de soja. Há saladas diversas e massas, inclusive pizza vegetariana, e generoso buffet de doces – com e sem açúcar. Ninguém se lembra de preconceito em lugares assim!
Cachoeira Tropical
Rua João Cachoeira, 275
Itaim Bibi, Zona Sul (SP)
Telefone: (11) 3167 5211.
(*) Luciano Milhomem é jornalista, mestre em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB) e não ingere carne de bípedes e quadrúpedes há dois anos e meio.
Um comentário:
Muito bom adorei o blog, especialmente o post "preconceito ao sugo" parabéns!
Postar um comentário