quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

ME BATA UM ABACATE // Quando o abdômen sorri

Sérgio Maggio
Cronista do Gastronomix

Minha amiga Miloka está prestes a se aposentar. Vai finalmente cumprir o ciclo de serviços prestados numa multinacional e cair no mundo. O destino: Turquia. Não há dúvidas. A melhor cama, em uma vida paralela dedicada ao sexo, procede daquele país. Foi dali que a engenheira doidivana viu o cansaço vencer a sua inominável fome sexual. Ao passear boquiaberto pelas belezas naturais do Rio, o inocente turista nem imaginava que encontraria pela frente uma voraz atleta de edredons, aquela, em que um dia, os médicos quiseram taxar de “ninfomaníaca”.

Eles se conheceram numa tarde de quarta-feira na Praia do Arpoador, seguiram para um hotel em Copacabana e só abriram a janela para ver o sol raiar no domingo. Pela primeira vez em décadas de transas emendadas, Miloka pediu um tempo no meio do jogo. Não aguentou a tática de contra-ataque do turco e saiu daquele quarto querendo rever as estratégias do certame. Entrou em depressão. Achou que tinha perdido a identidade. Afinal, se fez mulher entendendo essa natureza furiosa e pretensa para o sexo. Foi como se tivesse perdido um campeonato, depois de ficar anos a fio com a taça nas mãos. Procurou o analista, doutor Roger, e disse que fracassou como “ninfomaníaca”.

A crise de identidade de Miloka abriu um precedente em sua louca vida. Ela resolveu dar uma chance ao amor. Experimentar sexo com o mesmo homem, no mesmo teto e com as contas em comum. Procurou um site de matrimônios e expôs os anseios. Não demorou para chover pretendentes. Enquanto todos respondiam as amenas perguntas triviais para se candidatar a futuro marido, Miloka se segurava para não saber o que, no passado, era o quê da questão. “Quantos centímetros?”. Sim, porque Miloka não ia pra cama com ninguém com menos de 17. Era a sua nota de corte.
 Agora, esse dado tinha virado secundário. Foi assim que conheceu Pinho, médico, viúvo e afeito a vida a dois. Eles marcaram num bistrô perto da praia. Pinho chegou galante. Miloka fez a linha introspectiva e apostou em silêncios prologados entre as respostas. Aos poucos, os dois foram se encaixando nas palavras e, duas garrafas de vinho depois, ela irrompeu a formalidade com a questão crucial: “Quantos centímetros?”. “Dezenove”, disse ele “Hmmm, é cabeçudo?”, prosseguiu a louca. Quinze minutos depois, estavam num quartinho do primeiro hotel vagabundo à vista, daqueles de coração de neon pulsando na fachada. Ela tentando arrancar a calça dele. Ele querendo desatar o nó cego do sapato. Devoraram-se.

Ele quis casar. Ela regateou. “Preciso de um motivo?”, clamou Pinho. Miloka quase se apaixonou. Desistiu porque Pinho tinha o abdômen triste, caído como uma face que se esmorece diante as chateações cotidianas. Dias desses, recebi um torpedo dela: “Sabe aquele homem do abdômen triste? Virou paciente do doutor Roger. Nos encontramos no consultório, aproveitamos o vacilo da atendente e transamos no banheiro social. O mais louco é que agora ele usa, por debaixo da roupa, aventais pintados com abdomens saradíssimos. Ui, um tesão. Acho que me apaixonei e a lua de mel será na Turquia.

 E aí? Vai bater um abacate?
O abacate desta coluna vai para a americana que não sorri há 40 anos para não ter rugas na face. Queria ver se ela encontrasse um homem apaixonado e de abdômen triste pela frente!

2 comentários:

Anônimo disse...

Esta Miloka é das minhas kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Anônimo disse...

Esta Miloka é das minhas kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Não é Reginaldo? kkkkkkkkkk

Bjs ameiiiiiiiiii

Sulian