Luciano Milhomem
Colunista de Alimentação Natural do Gastronomix
Tenho a nítida sensação de que o Brasil está dividido. Por um lado, observo que milhões de brasileiros não vêem a hora de a seleção brasileira de futebol erguer a Taça do Mundo, e o país provar ao planeta que também venceu fora do gramado, ou seja, foi capaz de superar as dificuldades e realizar o megaevento com êxito. Por outro lado, ouço e leio brasileiros que torcem para que dê tudo errado no Mundial, e o Brasil (mais precisamente a maioria de seus governantes) saia de campo com a cabeça baixa e passe a dar mais atenção ao pão que ao circo. Identifico ainda os moderados, empolgados com a Copa do Mundo, mas que lamentam o fato de ela representar gastos elevados (inclusive públicos). Em meio a todos, os incoerentes: esculacham a Copa do Mundo, mas já têm garantidos seus ingressos para vários jogos.
Como este espaço trata de alimentação saudável e não de futebol,
tampouco de política, deixo o parágrafo anterior apenas como
aperitivo para o verdadeiro tema deste artigo: o que a turma que torce
pela seleção canarinho deve pedir ao garçom em um típico "botecão",
especialmente em dia de jogo do Brasil.
Quem foge de alimentos gordurosos, por exemplo, teme até segurar o
cardápio nesses lugares. Nos famosos "pés-sujos", a gordura não está
só na comida, mas também em pratos, copos, talheres. Na mesa, então! Mesmo os
bares preferidos dos chamados "coxinhas" (gíria baseada em um acepipe
gorduroso, aliás) geralmente dão pouca opção aos que não se deliciam com
petiscos à base de gorduras saturada e trans. O que podem fazer, então, os que
desejam assistir às partidas, compartihar a emoção com os amigos, mas não
suportam picadinho de carne frita, torresmo e linguiça?
Aqui vão dicas de um sujeito que, embora não seja radical em termos de
alimentação saudável, procura evitar alguns inimigos do estômago e do coração:
1- A maioria dos bares tem, entre seus petiscos, castanhas (de caju, do
Pará). Certo: elas contêm gordura, porém do tipo insaturada, ou seja, ajudam a
reduzir o colesterol ruim, o triglicérides (espécie de gordura que, em níveis
elevados, pode causar doenças coronarianas) e a pressão arterial. Certo também
que os especialistas recomendam o consumo máximo de 44 gramas de gordura
insaturada por dia. De qualquer forma, antes beliscar algumas castanhas do que
se empaturrar de batatas fritas, daquelas que deixam a mão toda oleosa!
2- Praticamente todos os bares e lanchonetes oferecem algum tipo de
sanduíche. Talvez o que seus amigos escolham para ver o jogo não possua pão
integral, mas não chega a ser impossível convencer a cozinha a improvisar um
"sanduba" de ricota, mesmo que dentro de um pão francês. Paciência!
Não dá para ter tudo.
3- Difícil resistir a uma cervejinha gelada em uma ocasião assim? Tudo
bem, mas se lembre de que cada copo de cerva tem em média 120 calorias. Será
que não dá para revezar com água mineral, com ou sem gás, bem geladinha?
Garanto que engana. Ao menos, você continua torcendo com um copo na mão. Já
entendi... Seus amigos são do tipo que insistem em fazer você se sentir
ridículo se não tomar todas com eles. Então, só lhe restam duas opções:
oferecer-se para ser o tal "motorista da vez" (quem vai reclamar
disso?!) ou encarar um Guaraná Zero (é refrigerante, mas tem bem menos calorias
que uma série de tulipas de chope, além de parecer cerveja -- quando não leva
pedras de gelo, claro).
4- Um truque infalível é sair de casa de barriga cheia. Só não entende
quem não quer quando você se recusa a beliscar linguiça a palito ou batatas
fritas se você revela que acabou de comer (ninguém precisa saber que foi uma
salada verde ou uma torta de palmito com massa integral). Aliás, muitos dos
seus amigos vão se arrepender amargamente, horas depois, por terem bebido tanto
ao mesmo tempo em que se empanturravam de toucinho. Talvez não tenham nem força
para celebrar uma possível vitória do Brasil!
5- Segundo alguns especialistas, espigas de milho e salgadinhos do tipo chip de
inhame ou mesmo de batata são menos calóricos e enganam a fome. OK, comer é
sinônimo de ingestão de calorias, mas há sempre alguma maneira de escapar dos
piores tipos de junk food.
Agora, se você é bem rigoroso em termos de alimentação natural,
recomendo organizar uma reunião em casa, de preferência com amigos que apreciem
o mesmo tipo de comida que você. Assim, ninguém vai reclamar se houver
palitinhos de cenoura crua em vez de generosas porções de presunto de Parma,
tampouco se, em vez uma cerveja estupidamente gelada, estiver segurando um copo
de chá verde enquanto grita "Gooooool!".
Os menos rígidos na dieta podem se lembrar de que é sempre possível
resistir às frituras e carboidratos dias antes ou dias depois de jogos da
seleção brasileira, de forma a compensar as pequenas concessões que fizeram ou
vierem a fazer em nome da euforia.
Aliás, para os literalmente light (ou seja, não-radicais) em
termos de alimentação saudável, euforia rima com alforria. Por que não quebrar
o jejum e beber moderadamente uma cervejinha e moderar nos petiscos (como
proposto nas cinco dicas acima) enquanto se diverte com os amigos?
Afinal, nada custa lembrar: divertir-se, alegrar-se, confraternizar-se
-- a própria medicina o comprova -- também fazem bem à saúde física e mental.
Como uma depende da outra...
Feliz Copa do Mundo a todos! Seja num estádio, seja num bar, seja em
casa, seja no quarto vendo um filme cult, seja numa montanha, seja numa
cachoeira, seja onde for. Como se sabe, a vitória que mais importa é estar bem
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