segunda-feira, 26 de maio de 2014

EU RECOMENDO // Os “riscos” gastronômicos de Bogotá

Por Rafael Moraes
Convidado especial do Gastronomix

“No livro “Na pior em Paris e Londres”, o escritor George Orwell indica como saber se um restaurante merece a visita a partir de uma simples checagem nos seus clientes– uma dica que eu particularmente considero mais confiável que os onipresentes selos do Trip Advisor colados na porta de entrada: quanto maior a quantidade de nativos dentro do estabelecimento, maiores as chances de ele oferecer comida de boa qualidade.

Isso porque turistas têm pouco tempo, caem em armadilhas e fazem suas refeições em lugares encontrados acidentalmente pelo caminho. Já os moradores da cidade vivem ali, sabem onde achar o que querem e retornam para comer nos seus endereços favoritos.

Em Bogotá, acabei descartando de cara uma ida ao André Carne de Res, um misto de restaurante e casa noturna que, nas palavras de uma colega colombiana, é “armadilha para gringo”. (Há um post no Gastronomix sobre o André Carne de Res, mas prefiro não opinar aqui se cometi um erro imperdoável ao ignorá-lo, até porque não botei os meus pés lá, o que me impede de fazer qualquer avaliação.)
A partir da recomendação de nativos que conheci ao longo da minha viagem de 22 dias na terra de García Márquez, Shakira e Botero, comi em três restaurantes bogotanos – um deles, eleito o melhor da cidade pelo... Trip Advisor (PAN!) – que fazem mais que valer a visita à capital colombiana. Todos repletos de nativos, mas com alguns turistas sortudos, como yo.

A campanha oficial do governo da Colômbia voltada para a promoção do turismo aposta no slogan “El único riesgo es que te quieras quedar”, uma ótima sacada que evidencia a nova realidade de um país que vem deixando o passado de guerra, violência e miséria e se acostuma com a paz.

Seguem, portanto, três “riscos” gastronômicos de Bogotá, que agradam o paladar, aliviam o bolso e despertam aquela sensação de “Hum... por que não ficar aqui pra todo o sempre?”.

1.RESTAURANTE CASA SANTA CLARA 

Localização: no Cerro de Montserrate, com uma vista apoteótica de Bogotá. Funciona em uma casa que foi construída em 1924 no povoado de Usaquén e depois levada a Montserrate no final da década de 1970. Para chegar lá, é preciso pegar o funicular ou teleférico.
O que comer: De prato principal, um dos mais tradicionais do país: o fiambre – costela de porco, frango, filé mignon em salsa criolla caseira, acompanhado de arroz com verduras, batatas e iúca (por 29 mil pesos colombianos, ou R$ 33,79*). De sobremesa, recomendo a seleção de doces caseiros (8,5 mil pesos, R$ 9,95).  E não deixe de tirar fotos da cidade depois de pagar a conta.

2. SANT JUST 

Localização: Calle 16 A #2, na Candelária, centro de Bogotá, meio que escondido numa rua insuspeita. Eleito o melhor da cidade pelos usuários do Trip Advisor, é especializado em comida francesa. Um ótimo lugar para respirar tranqüilidade em meio ao caos da maior cidade da Colômbia.

O que comer: Escolhi um delicioso cordeiro a la plancha (14 mil, R$ 16,40), sugestão do atencioso garçom, mas tudo no cardápio parecia uma delícia, o que me levou a demorar mais que o habitual ao eleger a refeição. Dizem que o crème brûlée é sensacional, mas quando cheguei para almoçar, perto das 15h, não havia mais (lágrimas).

3. LA PUERTA DE LA CATEDRAL
Localização: Calle 11 #6-26, no centro histórico de Bogotá, perto do Centro Cultural García Márquez.

O que comer: Ajiaco, uma espécie de sopa com frango e milho, acompanhado de abacate (18 mil pesos colombianos, R$ 21,1). Uma porção muito bem servida, feita com todo o amor do mundo- o exigente Juvenal Urbino, personagem de “O amor nos tempos do cólera”, certamente a aprovaria. Um bom lugar pra jantar depois de passar pelo Museo Botero e o Museo del Oro, que estão próximos dali.

E, por fim, uma dica na hora de escolher as bebidas- fique com as limonadas. De coco, de cereja, de melancia, de hortelã... na Colômbia, o limão é o rei do pedaço e merece cada gole em sua saudação”.

[*1.000 pesos colombianos = R$ 1,17, conforme taxa de conversão do Banco Central no dia 25 de maio de 2014.]


(*) Rafael Moraes é jornalista do jornal O Estado de S.Paulo. 

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