quarta-feira, 2 de outubro de 2013

COLHERADA // Uma viagem gastronômica

Erika Klingl
Colunista e Crítica de Gastronomia do Gastronomix

Não sei se isso acontece com vocês. Mas quando eu penso em uma viagem ou um passeio que já fiz, cada lembrança é associada a um sabor, cheiro ou a uma experiência gastronômica. Da ida à Viena, quando fui conhecer a casa onde meu pai morou na infância, está vivo o gosto da torta de chocolate que comemos numa tarde de primavera em 2006 no clássico hotel Sacher.

Quando saí pela primeira vez com o Leo, meu cunhado, em Paris, tomamos um chocolate quente inacreditavelmente bom e cremoso pertinho da Bastille. Poucos dias depois, ele pediu a minha irmã em casamento.
No segundo ou terceiro dia da minha lua de mel em Buenos Aires, comemos num boteco perto do estádio do Boca, o La Bombonera. O El Obrero tinha sido fortemente recomendado por um amigo do Gustavo mas era escuro e cheio de fotos de jogadores nas paredes. Ou seja, nada romântico. Lembro até hoje da minha surpresa: foi o melhor bife de chorizo que já comi na minha vida.

Podia passar o texto todo citando as minhas lembranças. São inúmeras... Mas o meu objetivo aqui é falar do que virou o meu hobby nos últimos anos: estudar e organizar meus roteiros de viagem à partir da cozinha de cada lugar.

Além de buscar museus, shows e passeios, meus registros de viagens passam pelas mesas de cafés e restaurantes. E eu sou da teoria de que, quando a gente começa a planejar, já começa a viajar. Exatamente por isso, pesquiso muito sobre a cena gastronômica de cada cantinho. Nesse momento, estou em pleno processo de organização de uma viagem para Portugal que farei em novembro.

Por onde começar?
Definido o período das férias, além de economizar para pagar a viagem, a primeira coisa que eu faço é comprar guias. E não me prendo apenas aos de turismo. Sempre que possível, busco publicações específicas de gastronomia (nos Estados Unidos, por exemplo, o Zagat é uma ótima opção www.zagat.com).

Para a minha viagem a Portugal, comprei na Amazon o Guia Michelin. Aqui vale uma ressalva. Deve ser o guia de capa vermelha pois é ele que fala das melhores hospedagens e restaurantes de cada cidade. O de capa verde é um guia de turismo comum. E engana-se quem pensa que  tudo o que tem no guia é caríssimo. É claro que tem os estrelados (maravilhosos) mas também há outras ótimas opções. E é fato: se está no Michelin, mesmo sem estrelas, é, no mínimo, bom.
Normalmente, o ideal é começar a ler e se informar antes mesmo de comprar passagens e reservar hotéis. Isso porque você pode decidir mudar algo no vôo e, quando for fazer a alteração, perderá todo o desconto. Eu, por exemplo, vou alugar um carro para descer do Porto a Lisboa. Pela TAP, comprei a chegada por um lugar e a saída por outro para evitar um deslocamento desnecessário. Essa mudança não alterou em nada o preço da passagem já que comprei com antecedência de seis meses. E a decisão só foi tomada depois de termos definido que passaríamos três dias na região do Douro.

De acordo com o guru das viagens, o jornalista Ricardo Freire (do blog Viaje na Viagem), o melhor momento para reservar hotel é exatamente três meses antes da data de hospedagem: quando as tarifas descontadas aparecem nos sites de reservas de hotéis. São aquelas que exigem pagamento imediato mas que dão desconto de 10% ou 15%.
Ou seja, cerca de 100 dias antes da viagem, gaste parte de seu fim de semana ou algumas noites em sites de busca de hotéis para cruzar as cidades que estarão no seu caminho e as melhores ofertas. Aqui, sempre uso o Tripadvisor (http://www.tripadvisor.com.br) e o Booking (www booking.com) que dão as avaliações de quem já se hospedou e também os preços. Confesso que, na imensa maioria das vezes, faço a reserva no próprio site do hotel mas não sem antes conhecer os defeitos e as qualidades apontadas pelos outros turistas.

Já o prazo de dois meses é, para mim, o marco para reservar os grandes restaurantes. Pelo meu cronograma, por exemplo, sei exatamente que dias estarei no Porto. Lá quero jantar no The Yeatman, cujo chef foi eleito em 2013 o melhor de Portugal e a carta de vinhos ganhou prêmio da Wine Spectator. Como falta apenas um mês e meio para minha ida a Portugal, é claro que eu já reservei. Aqui, vale outra ressalva, em Nova York, o prazo ideal é de três meses, quando são abertas as reservas no site Open Table (www.opentable.com).
Feitas as reservas dos principais restaurantes, é hora de começar a buscar também os passeios e, se possível, também garantir as entradas para não pegar fila. Isso não é um problema em Portugal. Mas na Itália, por exemplo, é imprescindível comprar os ingressos do Coliseu antes.

Minha ideia é, antes de viajar, escrever aqui no Gastronomix o meu roteiro fechado com os pontos de destaque de cada cidade e com os restaurantes escolhidos. E prometo que, quando eu voltar, também contarei para os apaixonados por gastronomia as melhores experiências. Quem sabe você se anima para a próxima viagem?

2 comentários:

Pati disse...

Que delícia de texto! Quase tão bom como um pedaço de Sacher Torte ou um chocolate quente no Amorino!

Anônimo disse...

Realmente seu texto é uma viagem!