quarta-feira, 24 de abril de 2013

AO PÉ DO OUVIDO// Argentina além da parrilla


Por Rosualdo Rodrigues

Não sei se a instituição da data é coisa nova ou se nós aqui do Gastronomix é que desconhecíamos tal comemoração. Mas ficamos sabendo que, hoje, 24 de abril, é, oficialmente, o dia do churrasco no Brasil. A referência é a data em que foi criado, em 1948, o Centro de Tradições Gaúchas, hoje espalhado pelo Brasil com o objetivo de cultivar as tradições culturais dos pampas.
Difícil festejar esse dia quando ele cai numa quarta-feira – afinal, domingo é, tradicionalmente, o dia oficial do churrasco --, mas aproveitamos a ocasião falar de música argentina (e uruguaia, por tabela) e mostrar que, no país de Cristina Kirshner, nem tudo acaba em parrilla. Saiu há pouco, por exemplo, Presente, o novo disco do Bajofondo, que tem à frente o portenho Gustavo Santaolalla e o uruguaio Juan Campodónico.

Quando lançou o primeiro álbum, Bajofondo tango club, em 2002, o Bajofondo dava a impressão de ter surgido no rastro do sucesso do Gotan Project, grupo criado em Paris com a mesma proposta de fazer tango eletrônico, e que estourou em 2000 com o disco Vuelvo al sur e em 2001 com La revancha Del tango.

Mas quem buscasse informações descobriria que Santaolalla e Campodónico estavam (e estão) muito além do oportunismo. O primeiro tem vasto currículo como autor de trilhas para cinema e levou dois Oscars (por Babel e O segredo de Brokeback Mountain); o segundo é conhecido produtor de rock latino (produziu Café Tacuba e Molotov, por exemplo), e lançou um disco interessantíssimo no ano passado, Campo (não lançado no Brasil).

Em Presente, eles evoluem e trazem para o Bajofondo muitas das experiências paralelas. O disco finca o pé no tango, mas dá uma volta por diferentes gêneros e ritmos, passando por elementos de trilha sonora, jazz, música pop, clássico e até do muzak à la Richard Clayderman. É uma mistura atrevida, que pode surpreender os ouvintes habituais do grupo, já que o Bajofondo não se obriga a fazer canções que caibam em uma coletânea lounge e cria um disco que não quer ser só música de fundo, pede para ser ouvido com mais atenção.


Outro bom lançamento recente vindo lá da Argentina é Chances, da dupla Ilya Kuriaki e los Valderramas, formada por Dante Spinetta e Emmanuel Horvilleur. Eles estrearam em 1991 e desfizeram o grupo em 2001, até resolverem reatirar o Ilya em 2011. Fazem uma vigorosa mistura de hip-hop, funk e soul, que se mantém no novo disco, acrescida de rock e reggae e com uma pegada mais dançante e menos discursiva. Chegam até a soar um pouco melosos em faixas como Adelante, mas a proposta do duo continua de pé: pense e dance.

Ouça: Nocturno e Pena en mi corazon, do Bajofondo, La marcha tropical, de Juan Camponico, e Safari espiritual, do Ilya Kuriaki e los Valderramas.

Nenhum comentário: