AO PÉ DO OUVIDO// Pra mim é um lindo disco

Por Rosualdo Rodrigues

Katia Bronstein, ou Katia B, como ela assina atualmente, tem uma trajetória bastante peculiar. Cantora, atriz, bailarina, integrou, no finzinho dos anos 80, o grupo de louraças de Fausto Fawcett – um projeto com jeito de que não sobreviveria até o verão seguinte, como de fato aconteceu. No começo dos 90, formou com Stella Miranda a dupla caipira-chique-engraçada Xicotinho & Salto Alto – um projeto com cara de diversão passageira, o que de fato era. Teve até uma passagem pelo elenco de Malhação...

Podia, a essa altura, ter perdido o caminho para a carreira “pra valer”como cantora. Mas não. Em 2000, lançou o primeiro disco solo, Katia B., e daí pra cá tem construído uma discografia de fazer inveja a muita boa cantora brasileira que começou, digamos, de maneira convencional. Pra mim você é lindo, o quarto disco de Katia, que saiu agora, é a prova de como ela tem crescido e se firmado como cantora e compositora.

A proposta de misturar eletrônica com samba, bossa e outros ritmos brasileiros, e fazer daí uma música cool, moderna e “mântrica”, como ela mesmo diz, está bem sedimentada neste disco, em que Caetano Veloso (Sete mil vezes), Lamartine Babo (A sua vida é um segredo), a canção de uma opereta iídiche dos anos 30 (Bei mir bist du schon) ou um antigo sucesso de Françoise Hardy (Le temps de l’amour) convivem em perfeita harmonia com músicas feitas pela própria Kátia em parceria com Charles Gavin, Tereza Cristina, Dé Palmeira e Rubinho Jacobina, entre outros.

Katia é dessas que sabe o que quer musicalmente, e coloca essa vontade em prática na companhia de parceiros com quem realmente se identifica, já que sempre produziu seus discos por meio independente. Isso faz diferença no resultado. À exceção do álbum de estreia, cada um de seus trabalhos parece muito bem desenhado, e é baseada nesse desenho que ela se apossa de músicas de procedências tão distintas e as adapta ao próprio estilo, dando coesão e coerência ao disco, como acontece com Pra mim você é lindo.

A bonita Aprendendo a viver (com letra que parece uma oração) inicia a feliz sequência de 11 músicas, que transcorre em um clima de aconchego, criado tanto pela leveza dos arranjos quanto pelo calor da voz da cantora. Pra mim você é lindo é um desses discos que você põe pra tocar quando quer se desligar um pouco do ritmo alucinante desses dias doidos.