sábado, 12 de janeiro de 2013

ABOBRINHAS // Resolução de ano novo

Luciano MilhomemColunista de Alimentação Natural do Gastronomix

Um novo ano costuma ser pretexto para mudanças. Fico pensando se alguém incluiu, nas tradicionais resoluções de ano novo, cortar ou reduzir as carnes. Aposto que, antes delas, vêm os doces, as massas, as gorduras saturadas. De qualquer forma, para os poucos e bons que decidiram adotar o vegetarianismo ou a redução de algum tipo de carne a partir de 2013, aqui vão algumas dicas.

Um passo de cada vez. Muita gente desiste no meio do caminho porque radicaliza logo no início. Eu mesmo deixei primeiro as carnes vermelhas. Só um ano depois, abandonei também as de ave. O organismo precisa se acostumar, inclusive com a menor ingestão de proteína animal. Há quem consiga alterar a dieta numa tacada só. Em todo caso, aos menos apressados, recomendo ir reduzindo o consumo de carne aos poucos até interrompê-lo em definitivo. Com isso, testa-se o organismo, avalia-se o impacto da decisão.
Apoio de especialistas. Quem resolve parar de comer carnes deve se lembrar de que essa decisão envolve profunda alteração na quantidade e até na qualidade de substâncias essenciais para o organismo humano, como proteínas e vitaminas. Daí a importância de se consultar um nutricionista, um nutrólogo ou mesmo um endocrinologista. De preferência, os dois primeiros. Esses profissionais poderão dar a segurança de que a nova dieta não comprometerá a saúde do mais novo vegetariano do pedaço.
Convicção. Adotar o vegetarianismo porque acha essa dieta mais chique ou antenada com o século 21 é bobagem. Quem deseja realmente ser vegetariano tem de estar convicto no mínimo de um destes três aspectos: o físico (relacionado ao corpo, ao bem estar físico, ao processo digestivo), o ideológico (mais no sentido de visão de mundo, posição política) e o espiritual (referente a crenças religiosas). Há quem esteja mais (ou exclusivamente) preocupado com a parte física. Busca apenas uma dieta que considera mais leve e saudável. Há quem tenha mais em mente questões socioambientais, éticas, de direitos dos animais e o mercado de produção de alimentos. Nesse caso, a dieta converte-se em uma espécie de instrumento de pressão social para que não se matem ou não se torturem tantos bichos.

Procura-se, pelo vegetarianismo ou por sua versão mais radical, o veganismo, romper com o ciclo de depredação da natureza e da manipulação capitalista dos hábitos alimentares. Já o religioso vê na dieta à base de vegetais um meio para a purificação espiritual – além de proteção à vida animal de forma irrestrita. Para ele, quanto menos denso o corpo, mais leve o espírito. Evidentemente, há quem combine todos esses aspectos ou dois deles. Em qualquer dos casos, há uma convicção, um propósito claro, um fundamento. Não se trata de modismo, de fase, de “onda”, de pressão do meio.
Paciência e bom humor. O “neovegetariano” deve estar preparado tanto para a curiosidade honesta quanto para as insinuações maldosas. Sugiro paciência e bom humor para lidar com todos. Haverá perguntas que exigirão conhecimentos específicos que o recém-adepto do vegetarianismo ainda não adquiriu. Haverá piadas e até provocações. Que o “neovegetariano” tenha em mente o seguinte: na maioria das vezes, o engraçadinho tem uma ponta de inveja (totalmente infundada!) ou de culpa por não conseguir adotar a dieta vegetariana.

Humildade. Curiosamente, há também muita gente que, ao invés de censurar, admira e aplaude quem se torna vegetariano. Daí que alguns levem isso demasiadamente a sério e se envaideçam. Bobagem! Deixar de comer carnes não faz necessariamente uma pessoa melhor. Ela pode até se achar mais espiritualizada ou mais política e ecologicamente correta, mas deveria saber que uma dieta por si só não transforma ninguém em Gandhi. Há vegetarianos mal-feitores por aí, assim como há carnívoros com um coração imenso. Uma porção de humildade cai muito bem com um prato de alfaces.
E que o “neovegetariano” se anime! Bares e restaurantes oferecem cada vez mais opções para quem não come carnes. O convite é para um churrasco? Não faz mal. É só comer antes, levar um Engov no bolso ou na bolsa e aproveitar a cerveja gelada ao lado dos amigos. O ano só começou!

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