quarta-feira, 26 de setembro de 2012

AO PÉ DO OUVIDO// O cassete, o CD e o MP3


Por Rosualdo Rodrigues
Houve um tempo em que era um grande barato gravar fitas-cassete para presentear os amigos. Com alguns vinis, uma fita virgem (ou usada, mas novinha, que pudesse ser regravada) e um três em um (se você não tem idéia do que é isso, pergunte a alguém com mais de 30), gastava-se horas na meticulosa tarefa de selecionar as músicas, colocar o bolachão no prato do toca-disco e ter o cuidado de apertar as teclas REC e STOP, ao começo e ao fim de cada música, de modo que o intervalo tivesse o tempo certo, não muito longo, nem atropelando o fim de uma faixa com o começo da outra. Depois de tudo isso, era só escrever o nome das músicas escolhidas na capinha do cassete, que já vinha pautada e dividida entre lados A e B.

Aí veio o CD gravável e tornou mais prático esse trabalho todo. A precisão do computador passou a fixar o tempo entre uma faixa e outra e, em vez de você ter que esperar rodar toda a música ser gravada, bastava arrastar o arquivo daqui para ali e pronto, estava gravado o CD. A praticidade não tirou o prazer da tarefa. Além disso, a capinha do CD dava espaço para se usar a criatividade, desenhando, colando recortes, usando fontes diferentes para escrever a seleção musical...
 A alguém que estranhe o fato de eu falar do CD no passado, devo explicar: é que escrevo do ponto de vista de uma nova geração, a do MP3...  E essa “nova geração” não tem a ver com idade, mas com os adeptos de um novo hábito. Tem gente de 50 acima que já se acostumou a ouvir música com os fones de ouvido, do tocador de MP3, do celular, do relógio... Ou programando a seleção no notebook para ouvir em casa o dia inteiro, se quiser. Um pesadelo para os que adoravam presentear com seleções musicais no cassete e, mais tarde, no CD.
Isso porque não faz sentido você escolher 20 músicas, colocar em um pen-drive e dar a alguém.  A pessoa que recebe certamente copiará direto no tocador de MP3 e aquela sequência criada tão meticulosamente vai se dissolver no modo aleatório... Se você acha que isso não tem nada demais é porque nunca viveu a experiência de querer compartilhar com alguém o prazer de ouvir música, imaginando o efeito de uma canção após a outra, propondo um clima ao juntar essa e aquela, escrevendo quase um texto, uma declaração de afeto, porque é isso que é uma seleção musical feita especialmente para alguém.

Continua sem entender nada? Então leia Alta fidelidade. Na fala do personagem, o autor Nick Hornby descreve direitinho esse sentimento.

Um comentário:

Roberio disse...

Otimo texto mano, abraços.