quarta-feira, 6 de junho de 2012

AO PÉ DO OUVIDO// Dor transformada em boa música

Por Rosualdo Rodrigues


Delicioso o novo disco da Norah Jones, Little broken hearts. Transcrevo o que escrevi sobre ele para o Correio Braziliense:

Norah Jones coleciona estatuetas do Grammy em categorias relacionadas ao pop, ao jazz e ao country. O trânsito entre um gênero e outro revela a inquietação de uma artista desinteressada em se acomodar neste ou naquele nicho. E o resultado dessa inquietação é uma obra que ganha respeitabilidade a cada novo trabalho.

Little broken hearts, o álbum que ela acaba de lançar, dá sequência à evolução à que a cantora se propõe desde que estreou, em 2002, com Come away with me.

O acento jazzy dos primeiros anos se dissolve em misturas com o pop e o rock desde o disco anterior, The fall (2009), e é, em parte, consequência do grande e diverso número de colaborações que Jones faz fora dos discos de carreira — de Willie Nelson a Belle & Sebastian, de Foo Fighters a Herbie Hancock. Um desses encontros aconteceu em 2011, em Rome, CD do produtor Danger Mouse — parceiro Cee-Lo Green no Gnarls Barkley — e do compositor de trilhas sonoras italiano Daniele Lupi.


A participação de Norah Jones em Rome desembocou em Little broken hearts. Brian Burton, que assina com ela todas as faixas do novo disco, é o nome real de Danger Mouse, que também assina a produção do álbum. Rome serviu como aquecimento, mas não determinou a sonoridade do novo trabalho da dupla. O produtor mistura sintetizadores, quarteto de cordas (participação do The Sonus Quartet) e o habitual piano de Jones — que, ao longo das faixas, também toca órgão, violão e guitarra — para criar um som, por vezes, seco, em contraste com a suavidade da voz de Jones.


A canção título lembra muito a aspereza dos discos de Beck — com quem Mouse trabalhou no álbum Modern guilt (2008) —; She’s 22 tem algo do minimalismo intimista de Cat Power… Mas, apesar das eventuais comparações, Little broken hearts soa bastante pessoal, intenso e sincero. Não por acaso: a cantora atravessou uma difícil fase sentimental nos últimos dois anos e isso a inspirou a falar sem metáforas sobre a dor da separação nas 12 músicas do álbum.

Little broken hearts é, portanto, uma dessas obras-primas que somente o inferno pessoal de um artista pode produzir. Ao jornal francês Le Figaro, Norah afirmou que a boa relação que mantém com Mouse foi o que possibilitou a criação de um disco assim. “Devido à sinceridade dos temas abordados, penso que não será nada fácil interpretar as faixas desse novo disco todas as noites durante a realização de uma turnê”, confessou.

Um comentário:

Maíra Selva disse...

Te encontrei aqui... que engraçado... rss...