segunda-feira, 10 de outubro de 2011

EU RECOMENDO // A comida não japonesa do Japão


Por Dalila Góes (*)
Convidada especial do Gastronomix

“Caríssimos leitores: este é um post ao contrario. Nada fino, nada chique e, principalmente, nada de peixe para se comer no Japão. Isso você encontra facinho em outros sites e naqueles guias gastronômicos de livraria. A ideia aqui é sobreviver a uma “culinária estranha”, porque seus pais não te deram umas boas palmadas na infância e você cresceu com um gosto por comidas fúteis e bem apelonas.

Tenho um paladar de criança (e pensar que isso é ofensa para a maioria dos moleques que conheço), e faço cara feia para um montão de coisas, principalmente, as que acompanham cebola, um tempero verde que nunca me lembro do nome, carne vermelha e bichos do mar que levaram uma paulada na cabeça e terão o corpo velado, coitados, em um prato. É sim, tô falando de peixe cru.

O que diabos então estou fazendo aqui? Além da óbvia metideza, ajudando a minha espécie: a dos enjoados para comer que adoram viajar e que acreditam que batata frita e pão com manteiga existem em qualquer fim de mundo. Mas e o frio na barriga que dá quando a gente desce no Japão, companheiros de chatice alimentar?

Ainda dentro do avião minha resignação misturada com os delírios de quase 24 horas voando montaram a dieta perfeita em um combo de Doritos, arroz unidos venceremos (aquele bem grudado e sem um tico de tempero, inclusive sal), biscoito Oreo, mexerica e saquê. Mas quem raios neste mundo tem saúde para um cardápio tão ridículo? Aline San, companheira de aventuras e a.k.a. minha mãe em loucuras internacionais, perdeu uns bons tufos de cabelo de tanta preocupação.

Minha resposta à cada investida gastronômica sempre foi precedida de um “posso tentar”. Nisso comi muito peixe mal cozido, alguns bolinhos cuja consistência eram de uma jujuba quente recheada com repolho, frangos supertemperados com molho curry, saladas gigantes de rúcula com rúcula, ovo cozido cremoso (?), e bastante miojo com carne de porco mergulhado em caldos escuros que a fome – ainda bem – não deixou perguntar do que eram feitos. Tudo isso em restaurantes bem dignos, viu!

Ah, mas isso é um blog de gastronomia, e eu deveria dar o caminho das pedras para esses lugares, certo? Eu deveria ter anotado o nome de tudo no meu Moslekine chique e elegante, não é mesmo? Mas não anotei, porque eu queria era saber onde se comia pizza no Japão, minha gente. Onde tinha arroz, salada com alface e tomate e um pedaço de frango frito. Onde eu poderia apelar feio para o PF mais calórico e cheio de “sustança” de que se tem notícia. Onde linguiça e salame eram tiragostos. Onde se pagava barato por uma cerveja (por menos de dez dólares não se bebe uma long neck naquele país).

Rá! Eis que apareceu na minha frente o Saizeryia (サイゼリヤ). Quer dizer, minha mãe Aline, que morou seis anos em terras japonesas, sacou que para me fazer comer direito, e repetir, aquele era o lugar. O Saize (que eu só chamo assim) não é conhecido ou divulgado nos roteiros dos ocidentais.

Talvez porque seja um restaurante bem barato (se comparado aos outros), com cardápio de boas cervejas a módicos três dólares e noventa centavos (nem mais nem menos), e, principalmente, por servir comida italiana feita por japoneses. A última informação doeu no estômago? Nem ligo.

Para completar, o restaurante é quase sempre escondido em um subsolo ou fica em cima de um centro comercial nada chamativo. Mas certo é que é uma peste e tem no Japão inteiro. Lógico que serve sushi, mas, sinceramente, ninguém vai ali para comer isso. O cardápio é uma delicia que tem sopa no pão, linguiça, salada, bolos pequenininhos e bem caprichados, pizza sem queijo (peça para colocar, por favor), e, claro, todos aqueles inbróglios que na minha opinião não são nada gostosos.

Tudo isso é para matar um pouquinho da saudade de casa (alguém falou do Giraffas? Não, não é isso, por favor). Por saudade entenda-se aquela vontade de comer uma comida bem simples, arrumadinha, não muito temperada (é verdade), mas bem distante de tudo o que está em cada esquina. Melhor, pouco pesada no bolso.

Se for de pizza, peça a de cogumelos frescos. A macarronada é al dente e o molho de tomate, pelo menos no gosto, parece que foi feito ali na hora. O cardápio também muda conforme a estação, e as bebidas que não levam álcool são a vontade: tem chá, suco, refrigerante e água.

Olha o site:
http://www.saizeriya.co.jp Ah, não se deixe impressionar pela estampa da página de que só tem gringo no lugar. Não tem, viu. Se quiser mesmo conhecer o Saizeryia (proncia-se do jeito que se escreve), pergunte a um local que ele te mostra. É simples, juro. Ou então vá olhando para o alto e procure pelas placas quase sempre perdidas na maravilhosa confusão visual que é o Japão.

Outra coisa: claro que se você for com pressa e passar pouco menos de uma semana por lá, conheça os restaurantes finos dos guias de gastronomia. Deixe o Saizeryia para uma próxima viagem”.


3-40-1 Nozawa
Setagaya - Tokio (Japão)
Telefone: +81 3-5787-2885
Site: http://www.saizeriya.co.jp/

(*) Dalila Góes é chata para comer, mas só faz cara feia depois de ter provado ou cheirado o prato. Que perturbada! Adora moda, até escreve sobre isso, mas prefere mil vezes economizar para viajar do que comprar uma bluzinha nova. Conheça mais sobre ela no
www.finissimo.com.br/mariatanamoda.

4 comentários:

Anônimo disse...

Dal,
vc é muito engraçada! heheh Morri de ri com esse post. beijos saudosos! Ana Rita

Anônimo disse...

Madame Dal, adorei o bilhete. Delicioso.

ReMoTa disse...

Quando estive no Japão, meu pai me levou lá.

Não me lembrava desse nome, mas a marca foi prontamente reconhecida (olha só a publicidade "semi-funcionando"... rs) e a parmeggiana com ovo e milho também me trouxeram recordações. Bateu saudade do meu pai, que não vejo desde então (pouco mais de dois anos).

Adorei o post. Morri de rir e, embora eu ame sushi-sashimi-supertempero-de-curry-e-muito-wasabi, também não sobreviveria sem algumas mudanças básicas no cardápio, uma vez que eu fiquei por lá uns 28 dias.

O Saizeriya foi uma boa surpresa (pra mim, já que meu pai, residente ali havia cerca de quatro anos, já conhecia).

O sanduíche de camarão do Mc Donald's, pasme, também foi uma ótima experiência, que repeti duas vezes. Era uma espécie de empanado de vários camarões, de tamanho significativo, em formato de hamburguer. Os camarões não eram minhoca (!!!): tinham forma, textura e gosto de camarão. E eram suculentos, o que me alegrou bastante.

Comi muita carne de porco, que eu amo e os japoneses sabem preparar como ninguém. Empanado de filé de porco (tonkatsu) é uma iguaria que eu repeti inúmeras vezes. Meu pai, que me conhece muito bem, me levou a vários restaurantes que servem esse prato, para que eu pudesse comparar. Não lembro qual o nome do restaurante que eu mais gostei, mas é claro que voltamos lá depois.

Que mais... ah, sim, fomos a uma "cantina italiana". Metida a chique, era bem decorada. Mas parou por aí. O macarrão era instantâneo - havia caixas de Barilla por todo o estabelecimento. E o molho nem era lá grandes coisas.

Obrigada, você trouxe lindas lembranças à tona. Fiquei emocionada mesmo.

Beijoca!

http://mariagastadeira.blogspot.com

Anônimo disse...

Gente, que texto incrível!!! cheguei aqui pesquisando justamente sobre a culinária no Japão porque eu queria saber o nome de alguns peixes. Parabéns!!! Gostei muito do site e da forma como ele é escrito. Dalila, você daria uma ótima não-crítica culinária. KKKKKKKKKKKKKKKKK
Fernanda Salles.