sábado, 17 de setembro de 2011

ABOBRINHAS // Os ex.


Luciano MilhomemColunista de Alimentação Natural do Gastronomix

Acho que a maioria dos vegetarianos – ou mesmo “semi-vegetarianos” – não se vê adotando outra alimentação. Mas é bom lembrar que, por incrível que pareça, alguns já o fizeram. Gente que ficou mais de uma década sem colocar um pedaço de carne na boca retomou a dieta carnívora. Curioso para entender como e por que isso acontece, fui atrás de dois amigos ex-vegetarianos.

Gustav é sueco, casado com brasileira. Respondeu-me de Estocolmo, onde passava férias com a família. Paulo é baiano. Morou em Brasília anos atrás, quando nos conhecemos. Atualmente, vive em Salvador, de onde me respondeu com muita boa vontade, apesar de sua agenda apertada. Os casos de Gustav e de Paulo, de origens e vivências distintas, provam que nada nesta vida é necessariamente definitivo – pelo menos no que depender do livre arbítrio de cada um.

Em vista de uma série de contratempos, fiquei em débito com meus leitores, que certamente observaram que nada publiquei neste espaço no mês de agosto. Portanto, em setembro, compenso essa falta com duas publicações seguidas. Nesta, relato a história de Gustav. Na próxima semana, a de Paulo. À de Gustav, então!

Como eu, meu amigo sueco deixou de comer carnes simplesmente porque perdeu a vontade. “Não virei vegetariano por motivos éticos ou de saúde, mesmo que esses motivos tenham contribuído um pouco. Na época em que me tornei vegetariano [1994], eu também comecei a comer comida mais saudável e a adotar novas formas de exercício físico e mental”, conta.

O abandono da carne foi gradual: primeiro, a carne vermelha; depois, as carnes de frango e de peixe. Ao longo de aproximadamente 12 anos, Gustav garante que não colocou um pedaço de carne na boca: “Quem quebra a dieta de forma regular não deve se auto-identificar como vegetariano, mas como alguém que segue uma dieta principalmente vegetariana. Não foi o meu caso.”

Quem gostaria de parar de comer carnes e não consegue (conheço muita gente assim) no mínimo se surpreende com o fato de uma pessoa passar mais de uma década como vegetariana e, um belo dia, resolver voltar a comer animais. Para Gustav, foi entre 2005 e 2006. “Eu fazia bastante exercício físico e queria experimentar se eu me sentiria mais forte incluindo carne de peixe [na dieta]. Apesar de ter o conhecimento necessário, como vegetariano, eu ficava gripado com freqüência durante períodos de exercício físico mais intenso, e eu queria ver se isso melhorava com a inclusão de carnes [na alimentação]”, relata. O teste resultou no abandono do vegetarianismo.

Quis saber dele, claro, se não sente falta da dieta vegetariana e se não pensa em retomá-la algum dia. A resposta de Gustav me surpreendeu. “De alguns aspectos [sinto falta]. A princípio, não gostaria de comer carne e contribuir para mortes de animais. Também sempre gostei mais de comida vegetariana – a inclusão de carne foi um teste para ver se eu me sentiria mais forte. Se não fosse pelo motivo de eu me sentir com melhor saúde comendo carne, eu provavelmente teria voltado a ser vegetariano, mas a diferença foi tão expressiva que não considero voltar [ao vegetarianismo] no momento. Hoje em dia, continuo comendo comida saudável, nada de junk food e frituras, mas adicionei cortes magros de carne. Me sinto bem comendo dessa forma.”

É isso aí! Não há mesmo por que ser radical. Ainda assim, continuo fiel a meu propósito de jamais comer carne de boi e de frango novamente. Só que histórias como a de Gustav e a de Paulo, a qual relatarei na próxima semana, reforçam minha crença de que não se pode patrulhar ninguém por causa de uma dieta. Tudo pode mudar. Ainda bem.

(*) Luciano Milhomem é jornalista e bacharel em Filosofia. Mestre em Comunicação pela UnB, ele não come seres bípedes e quadrúpedes há mais de 4 anos.

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