quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

AO PÉ DO OUVIDO // Sobre música e amizade


Por Rosualdo Rodrigues

Numa ensolarada manhã de domingo, feliz por achar que são 10h e ainda são 9h, porque o horário de verão acabou (como é bom ganhar tempo!), pego um CD aleatoriamente na estante: Let it roll: The best of George Harrison. Penso: se me perguntassem qual dos Beatles é o meu preferido, eu diria “George Harrison”. Me encanta demais uma certa melancolia nas canções dele, na voz, no semblante, na guitarra chorosa. Aí vou ouvindo, divagando e lembrando de uma garota que conheci quando entrei para a faculdade de jornalismo.

Ela usava uns óculos tipo John Lennon. Era fã notória fã dos Beatles (de broche, camiseta e tal). A cada 8 de dezembro, aniversário de morte de Lennon, ela ia para a aula de branco, numa espécie de luto ao contrário. Passamos a fazer parte da mesma turma. Música era uma paixão comum. Ela não se interessava somente por Beatles. Gravava umas fitas cassete que tinham de tudo um pouco. Até me emprestou uma coletânea de Barbra Streisand (que tinha os tema de Os olhos de Laura Mars e Nasce uma estrela) e quando fui devolver ela disse que não queria mais. Eu fiquei com o disco e dei, em troca, um do Yes, escolhido por ela, acho que Fragile. Ouvíamos também os mineiros do Clube Esquina, a trilha de Midnight cowboy (uma das fitas tinha Everybody's talking).
Minha amiga também me emprestou e, se não me falha a memória, acabou me dando um vinil do George Harrison, Thirty three & 1/3. E me contava histórias de bastidores (tipo uma que Harrison e Eric Clapton eram apaixonados pela mesma mulher... E lá ia eu atrás de conhecer a música de Eric Clapton...). Foi a primeira vez que ouvi mais atentamente o trabalho solo do autor de Here comes the sun. E foi ali que ficou decidido: George Harrison seria meu beatle preferido.

Aí eu vim para Brasília, a minha amiga ficou em João Pessoa. Voltei para João Pessoa, ela tinha ido embora para São Paulo. Tomei mais uma vez o rumo do Planalto, ela voltou para João Pessoa. Mas, felizmente, nunca perdemos o contato. E ela, que se chama Olga, ainda hoje é extremamente generosa quando se trata de partilhar sua paixão por música... E suas risadas. Como rimos quando nos encontramos! A vez mais recente foi em janeiro, quando pegamos a estrada para Alagoa Grande, no interior da Paraíba, para conhecer o memorial de Jackson do Pandeiro (foi lá que ele nasceu).

Mas enfim, toda essa história me vem enquanto ouço Let it roll e penso quão maravilhoso é George Harrison e quão maravilhosa é a música -- que, assim como a verdadeira amizade, tem uma incrível capacidade de transcender distâncias entre passado, presente, futuro. Tanto que hoje “não é Natal, nem ano bom” (como diria Gilberto Gil) nem aniversário da Olga, mas me deu uma enorme vontade de expressar meu encantamento pelo tempo, pela música, por Olga e pelo amor de amigo (que não se importa de misturar Barbra Streisand, Yes, Clube da Esquina e Harry Nilsson). É efeito da música de George Harrison, dessa certa melancolia nas canções dele, na voz, a guitarra chorosa...

7 comentários:

Anônimo disse...

Adorei! Como sempre, textos para ler e se emocionar.

Anônimo disse...

Se Olga for sensível como você a fez parecer, ele vai se acabar de chorar ao ler esse post.

Pedal Musical disse...

Rosu, que saudade! Sábado estou aí para tomarmos um blend...

Roberio disse...

Lindo texto, parabéns irmão.
Roberio

Rosualdo Rodrigues disse...

thanx robério. saudade. abraço

Olga Costa disse...

Eu não sei se a Olga é tão sensível assim, mas as lágrimas rolaram, como na música do Harrison - Let it Roll... e ele nem é meu beatle favorito, mas certamente, o meu sentimento por ele é compartilhado... 33 1/3 é uma obra prima desde sempre, e quer saber? Nem tinha idéia que influenciara tanto um amigo tão querido, bjs Miss you so much!

Anônimo disse...

é a primeira vez que entro aqui. Me emocionei, procurei a música pra ouvir enquanto lia.
beijo pra você e pra Olga, que linda!